A descoberta foi possível graças à análise da expressão genética do tecido cerebral recolhido de pacientes durante cirurgias de rotina. De acordo com o estudo publicado nesta terça-feira (23) na revista Scientific Reports, foi estabelecido que cerca de 80% dos genes se mantêm relativamente estáveis durante 24 horas, enquanto os ligados a neurônios se degradam nas primeiras horas após o falecimento de uma pessoa.
Além do mais, encontraram um tipo específico de "genes zumbis" que aumentam sua atividade após a morte, alcançando os níveis máximos cerca de 12 horas após o óbito. Eles associam-se com as células da glia, que junto com os neurônios, formam parte do tecido nervoso, proporcionando suporte e nutrição aos neurônios.
O fenômeno por si só "não é surpreendente demais", comentou um dos autores do estudo, Jeffrey Loeb, em um comunicado da Universidade de Illinois em Chicago, EUA. "[As células da glia] são inflamatórias e seu trabalho é limpar as coisas depois de terem ocorrido lesões cerebrais, como a falta de oxigênio ou um infarto", apontou o cientista.
Significado médico
No entanto, o significado prático do descobrimento poderia ser muito mais importante, considera Loeb. Em particular, ele ressaltou que se trata da primeira tentativa de quantificar a dinâmica de mudanças pós-morte no tecido cerebral, um aspecto que se ignora atualmente na medicina, mesmo que seja utilizado como material para encontrar tratamentos potenciais de tais condições como o autismo, esquizofrenia e Alzheimer.
"A maioria dos estudos assumem que tudo no cérebro para quando o coração deixa de bater, mas não é assim", comentou o cientista.
"Nossas descobertas não significam que devamos eliminar os programas de investigação de tecidos humanos, apenas significa que os pesquisadores devem levar em conta estas mudanças genéticas e celulares, e reduzir o intervalo pós-morte tanto quanto possível para reduzir a magnitude destas mudanças", concluiu Loeb.