Segundo uma nota publicada pelo escritório de imprensa da ACNUDH, serão investigados todos os casos de violações dos direitos humanos e de abusos, que provavelmente foram cometidos por todas as partes do conflito em Tigré.
"A Comissão de Direitos Humanos da Etiópia e o ACNUDH acompanham atentamente a situação dos direitos humanos desde o início do conflito em 4 de novembro de 2020. As duas organizações estão preocupadas com as informações sobre as violações dos direitos humanos e as consequências desastrosas do conflito para a população civil. Devido aos vários atores envolvidos no conflito e à gravidade das violações relatadas, uma investigação objetiva e independente é urgentemente necessária", diz o comunicado.
A missão conjunta para a investigação das infrações e abusos dos direitos humanos começará seus trabalhos em breve. De acordo com as estimativas, as investigações devem durar aproximadamente três meses.
No dia 4 de novembro de 2020, as autoridades etíopes lançaram uma operação militar na região de Tigré, após acusarem a Frente Popular para a Libertação de Tigré (FPLT), o partido governante na região, de ter realizado ataques contra duas bases do Exército federal. A FPLT negou o ataque e acusou o governo etíope de inventar um pretexto para realizar uma intervenção militar.
As autoridades federais da Etiópia decretaram o estado de emergência em Tigré por um prazo de seis meses, e estabeleceram um governo local interino, nomeado por Adis Abeba. A nova administração substituiu o governo regional, escolhido nas eleições de setembro de 2020 que, segundo o governo central da Etiópia, foram ilegítimas, já que o pleito foi adiado no restante do país por causa da pandemia do coronavírus.
O primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, anunciou no fim de novembro do ano passado o fim da operação militar no Tigré. Contudo, pouco tempo depois, circularam informações de que as hostilidades continuavam na região. Além disso, o conflito fez com que milhares de moradores locais deixassem suas casas e buscassem refúgio no Sudão.
Por sua vez, o Departamento de Estado dos EUA disse em janeiro deste ano que tinha obtido informações confiáveis sobre a presença de militares da Eritreia em Tigré, que estariam envolvidos em abusos dos direitos humanos, crimes de violência sexual e saques.
Na última terça-feira (23), a Reuters informou que Ahmed confirmou pela primeira vez a presença de tropas da Eritreia em Tigré durante o conflito na região. Em um pronunciamento no Parlamento, ele também reconheceu que atrocidades como o estupro foram cometidas durante os enfrentamentos e prometeu punição aos responsáveis.