O Banco Mundial divulgou, nesta segunda-feira (29), que o Brasil deve crescer 3% em 2021, mesmo patamar da previsão feita em janeiro. Enquanto isso, a instituição financeira subiu a estimativa média de crescimento do PIB da América Latina de 3,7% para 4,4%.
Dois dos nossos vizinhos, Argentina e Chile, por exemplo, devem ter uma alta de 6,4% e 5,5% no PIB neste ano, pelos cálculos do banco.
Segundo o economista Arthur Barrionuevo, professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV EAESP), a recuperação brasileira será gradual devido ao lento processo para adquirir, distribuir e aplicar vacinas no país.
"Na América Latina, de uma maneira geral, a vacinação também está devagar. Mas em comparação com os grandes países, como o Chile e a Argentina, que estão mais comprometidos com a vacinação, parece que ficamos um pouco para trás", afirmou o especialista em entrevista à Sputnik Brasil.
Até o momento, 16.258.743 de pessoas receberam ao menos uma dose da vacina contra a COVID-19 no Brasil, o que representa 7,68% da população brasileira. A segunda dose foi aplicada em 4.819.324 de pessoas, apenas 2,28% do total.
"Vários estudos mostram que a recuperação da economia depende do controle da pandemia. E como se controla a pandemia? Fundamentalmente com vacinação. Então, é possível que, como a vacinação está mais lenta, a recuperação econômica também será mais lenta", afirmou o professor.
Nesta segunda-feira (29), o economista-chefe do Banco Mundial para a América Latina e o Caribe, Martín Rama, disse que a pandemia transformou as economias da região, alertando para um possível aumento da desigualdade nestes países.
"A pandemia iniciou um processo de destruição criativa, que pode levar a um crescimento mais rápido, mas ao mesmo tempo ampliar a desigualdade dentro dos países na região e entre eles", apontou Rama.
Segundo o relatório do Banco Mundial, a América Latina e o Caribe sofreram os maiores danos econômicos e sanitários com a pandemia de COVID-19.
Em 2020, o PIB do Brasil caiu 4,1%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na América Latina e no Caribe, a queda foi de 6,7%, em média.
Barrionuevo explica que o Brasil conseguiu reduzir as perdas com a implementação do auxílio emergencial, que injetou R$ 294 bilhões na economia em 2020. O valor equivale a cerca de 4% do PIB do ano passado, que foi de R$ 7,4 trilhões, de acordo com O IBGE.
"Um dos motivos para o Brasil ter caído menos em 2020 foi o gasto do governo, com o auxílio emergencial, que ajudou a sustentar a economia. A queda maior que era prevista para 2020 acabou não se concretizando devido ao auxílio", afirmou.
O professor da FGV lamenta a falta de coordenação do governo federal para lidar com a pandemia. Segundo ele, se os lockdowns tivessem sido implementados da maneira correta quando necessários, as perspectivas agora seriam outras.
"Mas agora é tarde. Estamos em uma situação de grande descontrole, com o número de mortes elevado e o sistema de saúde com muito estresse", disse.
O economista ressalta que a extensão do país e as peculiaridades de cada região "precisam ser levadas em consideração", mas que, por si só, não justificam o descontrole da pandemia e a lentidão da imunização.
"O que aconteceu é que não houve uma coordenação. Houve falha na distribuição de medicamentos que realmente funcionam, houve mais falha ainda na compra de vacinas e agora estamos em uma situação ruim, o que significa que vai demorar mais para o país começar a se recuperar", alertou.
Novo auxílio emergencial
O economista defende a continuação do auxílio emergencial para este ano para permitir que as pessoas mais vulneráveis também possam se proteger da doença.
Ele lembra que, embora o país já esteja muito endividado, o benefício é fundamental nesse momento, enquanto a vacinação não avança.
"É uma situação de emergência. Sem auxílio, não dá para manter o lockdown. Se não, as pessoas vão passar fome. Porém, não justifica a irresponsabilidade de liberar tudo, porque não resolve nada", afirmou.