Em 2020, em uma missão conjunta com a NASA, ambas as agências espaciais lançaram o orbitador solar, que recentemente imergiu de sua primeira passagem por de trás do Sol. O aparelho espacial foi capaz de suportar temperaturas quentes o suficiente para derreter chumbo, e aguentar a exposição a uma radiação 13 vezes superior à da superfície da Terra, informa a CNN.
Agora, a ESA está procurando soluções convencionais, baseadas em metais e fibra de carbono, que, segundo César García Marirrodriga, diretor do projeto do orbitador solar da ESA, não seriam boas o suficiente. No entanto, a agência descobriu a resposta em um material tão antigo quanto a Idade da Pedra.
Em sua procura por soluções, a ESA foi contatada por uma companhia de biotecnologia irlandesa, a ENBIO, especializada no desenvolvimento de técnicas para aplicar uma cobertura externa de ossos sintéticos em implantes ortopédicos e dentários, facilitando, assim, a aceitação dos mesmos pelos corpos dos pacientes onde serão implantados. Uma vez que tal técnica não é pesada e previne problemas como descamação, a ENBIO ponderou que sua abordagem e conhecimentos poderiam ser úteis no projeto espacial.
Porém, os desafios não pararam por aí, pois a camada externa de osso sintético era clara, e com a exposição à luz solar não só acabaria escurecendo como também mudaria as quantidades de calor refletido e absorvido. Por essa razão, seria favorável que a camada externa de ossos sintéticos fosse preta. Contudo, a coloração artificial da mesma não teve os melhores resultados, sendo o pó de osso naturalmente preto – isto é, o pó do osso natural após sua total combustão, a única solução.
Este material seria, deste modo, ideal para a missão solar: por um lado, sua cor preta forneceria níveis de absorção de radiação solar mais constantes, e, por outro, não haveria mais material a entrar em combustão. Quando exposto a temperaturas extremamente altas, o pó de osso não libertaria gases danificadores do aparelho espacial, segundo Marirrodriga, referido pela mídia.
Como resultado, a camada SolarBlack cobre agora cerca de um quinto da área da superfície do orbitador solar, sendo capaz de manter as partes delicadas funcionando a uma temperatura ambiente enquanto absorve até 537,8 graus Celsius.
A ENBIO, em conjunto com a Airbus (EADSF), também desenvolveu a camada SolarWhite para cobrir outras partes do satélite que precisam que a luz solar seja antes refletida e não absorvida.
Segundo, John O'Donoghue, fundador da ENBIO, esta tecnologia de camadas poderá encontrar utilidade nas indústrias automotiva, metalúrgica, de aquecimento e de energia. Porém, por enquanto, seu foco será mantido para fora do planeta Terra.
A missão do orbitador solar atual não deverá começar até novembro deste ano, mas o satélite anterior com o mesmo nome já mandou, em julho, as fotografias do Sol às distâncias mais curtas até agora conseguidas.
Nos próximos anos, esta missão de cerca de US$ 1,8 bilhão (cerca de R$ 10,28 bilhões) vai usar as gravidades da Terra e de Vênus para se lançar para mais perto do Sol, alcançando eventualmente a rota mais próxima da estrela, dentro da órbita de Mercúrio.
"O objetivo é entender mesmo a física de como o Sol cria e controla a heliosfera [a área em volta da estrela], e por que a atividade solar muda com o tempo", explicou García Marirrodriga, citado pela CNN