Começou nesta terça-feira (6) a liberação dos primeiros pagamentos do novo auxílio emergencial. O benefício será pago a cerca de 45,6 milhões de pessoas que estão sem renda devido ao agravamento da pandemia de COVID-19. Os novos valores são de R$ 150, R$ 250 e R$ 375.
Em pronunciamento à imprensa, o próprio governo já reconheceu que o auxílio pago em 2021 é insuficiente por uma série de motivos. O ministro Roma Neto (Cidadania) disse que os valores são baixos para garantir a subsistência desses brasileiros. Contudo, ele afirmou também que esses foram os valores "viáveis" a partir dos pedidos do Ministério da Economia.
A Sputnik Brasil ouviu o economista do Ipea, Salvador Teixeira, e diversos brasileiros que receberão o auxílio, para compreender os efeitos do subsídio na economia doméstica dos brasileiros. Não obstante, eles concordam em um ponto: o benefício não terá a capacidade, como o anterior, de garantir que as pessoas fiquem em casa, como determina o seu principal objetivo.
'Não consigo comprar uma cesta básica'
Anna Cláudia Oliveira, do coletivo Garotas Da Maré (comunidade na zona oeste do Rio de Janeiro), entende que, "primeiramente, o primeiro auxílio nem deveria ter sido interrompido".
Ela disse que "conseguia fazer compras, pagar remédio, contas e gás". Segundo ela, o benefício de 2020 "era perfeito". Porém, "esse novo não vai cobrir muita coisa, nem mesmo a alimentação. A cesta básica está R$ 200. E nisso foi-se o dinheiro todo. Eu tenho um neto de quatro meses, se eu precisar pegar um moto-taxi para levar ele na UPA, não vai dar", enfatizou.
Para Giuliana Mendes, de Brasília, técnica de audiovisual, a pior parte da pandemia foi ter ficado sem renda. Ela disse que o auxílio é fundamental dentro da casa dela. Em seguida, revelou estar indignada com os números apresentados pelo governo. "O auxílio de R$ 150 não é eficaz neste momento. É um dinheiro que faz pouca diferença, e a gente não sabe se poderá trabalhar. Com esse valor, não dá para fazer nada", afirmou.
A questão é que o 1º foi 'generoso'
Para o economista do Ipea, Salvador Teixeira, "do primeiro auxílio, que acabou sendo até generoso, de R$ 600, podendo chegar até R$ 1.200 para mães solteiras, ficaram duas experiências importantes".
Segundo ele, "os chamados invisíveis apareceram, pessoas que não estavam no cadastro de programas sociais como o Bolsa Família, e que se inscrevem no auxílio, mostrando que havia uma parcela da população em condições de muita vulnerabilidade, que não era atendida pelos programas assistenciais existentes".
Ele aponta que esse pagamento levou, inclusive, a uma "redução da desigualdade no Brasil. O país se tornou menos desigual com aquele auxilio, por conta da entrada dessas pessoas que não estavam em programas assistenciais, e por causa do valor do programa, relativamente generoso. Isso também aconteceu nos EUA, redução da desigualdade em razão do auxílio do ano passado".
Para Eliane Silva, empregada doméstica no Rio de Janeiro, o valor pago "deveria ser bem maior. As coisas estão estão muito caras. O preço está muito alto. O gás na minha comunidade está R$ 95", explicou. Eliane disse à Sputnik que "a diferença [entre os valores do ano passado e de 2021] é muito grande. Eu, como mãe solteira, recebia R$ 1.200. Passar para R$ 375 é uma diferença muito grande. Não dá para comprar basicamente nada".
Wellington Moura, músico da banda O Gato Preto e universitário em Brasília, observou que o valor corresponde a um quarto do salário mínimo. Ele ressaltou que o benefício é "irrisório" para comprar alimentos básicos, como leite, carne e pão. "Eu acho péssimo porque as pessoas vão deixar de se alimentar, de pagar o aluguel. A situação das famílias pode ficar desesperadora", alertou.
O objetivo do novo auxílio
Salvador Teixeira explicou que, "obviamente, quando o [primeiro] auxílio cessa, a desigualdade piora e as condições de vulnerabilidade impactam na vida das pessoas. O novo auxílio vai minorar esse quadro agudo, mas não terá um impacto significativo. Esse auxílio não terá a capacidade, como o anterior, de garantir que as pessoas fiquem em casa, que é principal objetivo deste auxílio".
Questionado se a nova rodada de pagamentos do governo federal poderá ajudar nas medidas de restrição social, o economista é cético. Para ele, "o novo auxilio ajudará pouco nas medidas de isolamento. Ele permitirá que as pessoas tenham alguma condição de suprimir suas necessidades básicas de alimentos, mas longe de suprir as reais necessidades da população. Com esse novo auxílio, embora menor, ele permite algum acesso por parte dessas famílias a algum bem de consumo. Isso não cessará a necessidade de doações".
A avaliação de Salvador Teixeira é compartilhada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Eles entendem que o novo benefício não deve aquecer a economia na mesma proporção do ano passado. A CNI projeta que a atividade econômica só será retomada em maio, quando houver um controle maior da pandemia, que permita a flexibilização das medidas de isolamento social. Para a entidade, a economia e a indústria brasileira terão o crescimento comprometido pela COVID-19 em 2021.