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Avanço da pandemia pode afugentar montadoras do Brasil?

Em entrevista à Sputnik Brasil, o engenheiro Antonio Jorge Martins, especialista no setor automotivo, diz que não vê um cenário tão pessimista para o país e ressalta importância do mercado sul-americano para as fabricantes.
Sputnik

Com o avanço da pandemia de COVID-19 no país, muitas dúvidas com relação às perspectivas econômicas voltaram a surgir. No setor automotivo, a recente paralisação das atividades em diversas fábricas gerou ainda mais pessimismo sobre o futuro das montadoras no Brasil.

De acordo com a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), 13 das 23 fabricantes de automóveis do país interromperam suas atividades ao menos de forma parcial. Ao todo são 29 fábricas fechadas.

Além dos efeitos econômicos diretos causados pela pandemia, o setor tem sofrido, especialmente, com a redução do fornecimento de componentes e a queda da demanda no mercado interno.

Contudo, segundo o engenheiro Antonio Jorge Martins, coordenador dos Cursos de Média e Longa Duração da Área Automotiva na Fundação Getulio Vargas (FGV), o cenário não é tão apocalíptico quanto parece.

"Na realidade, as fábricas se sentem mais afetadas no que concerne, principalmente, à fabricação, porque a área administrativa já está em home office há mais de um ano e não vai retornar. As áreas mais sensíveis são aquelas de fabricação. E para minimizar os riscos de contágio, nada melhor que diminuir a parte fabril das empresas", afirmou Martins em entrevista à Sputnik Brasil.
Avanço da pandemia pode afugentar montadoras do Brasil?

Porém, o especialista não acredita que a maior parte das fábricas fique paralisada por muito tempo novamente. Em 2020, no início da pandemia, foram três meses de interrupção.

"A expectativa é de que essa paralisação fique por algo em torno de 15 a 20 dias, até porque as concessionárias, que são a porta de entrada dos consumidores, já se ressentem de ter estoque em suas unidades. E a cultura da sociedade brasileira ainda está muito voltada a sentir o carro e ver o produto que está sendo adquirido", disse.

Impacto da crise para as montadoras

Martins ressalta que os consumidores ficaram mais conservadores quanto à aquisição de carros neste período de crise.

Além de não ser um bem essencial, um veículo novo compromete o orçamento a longo prazo, o que deixou os potenciais compradores mais "conservadores", segundo o especialista.

Mesmo assim, ele lembra que a queda da demanda não foi tão brusca em 2021: no primeiro trimestre deste ano, as vendas de veículos novos caíram 5,4% em comparação com os três primeiros meses de 2020, de acordo com a Anfavea.

"É algo plenamente razoável para o início de ano, em que se percebe o recrudescimento da pandemia, gerando uma maior preocupação e conservadorismo por parte dos consumidores", afirmou.

Fábricas podem sair do Brasil?

Segundo o coordenador dos Cursos de Média e Longa Duração da Área Automotiva na Fundação Getulio Vargas (FGV), neste momento não existe a possibilidade de as montadores fecharem definitivamente suas fábricas ou deixarem o Brasil.

Para ele, a saída da Ford do país foi "muito mais em função de uma decisão estratégica, de foco de atuação" da montadora em outros mercados de veículos, preferindo priorizar unidades fabris já existentes em outras partes do mundo.

Avanço da pandemia pode afugentar montadoras do Brasil?

Ele explica que, no geral, as montadoras, que possuem capital aberto em suas matrizes, se preocupam com a imagem no mercado financeiro.

"O mercado acionário quer visualizar o futuro da empresa e nos mercados em que elas atuam. E na prática, o mercado sul-americano é um dos que apresentam o maior potencial de crescimento", disse.

Martins avalia que o mercado financeiro vive de expectativas a longo prazo, analisando o futuro das montadoras nos próximos anos, e não meses.

"Fica muito difícil para as matrizes dessas empresas justificarem aos seus investidores e credores que estão se afastando de um mercado promissor na América Latina", afirmou.
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