Segundo ele, o país não têm acompanhado os desenvolvimentos da biotecnologia no mundo. "Somos um país retardatário. Nós somos simplesmente um absorvedor ou um comprador de produtos farmacológicos, ao contrário de outros países que colocaram isso como prioridade", disse Covas, segundo publicou a Agência Brasil.
A Sputnik Brasil conversou com Daniel Junger, médico infectologista com atuação na área de Virologia, para saber sua opinião sobre a questão do setor de biotecnologia brasileiro.
"A fala do Dimas Covas é bastante pertinente. A biotecnologia é o negócio do futuro e do presente. Se a gente tivesse mais investimentos, com certeza teríamos nosso patrimônio mais valioso que é a vida humana, a mão de obra humana preservada, a força de trabalho preservada", declarou Junger.
País é atrasado em investimentos em biotecnologia
"Precisamos investir sim mais e continuamente em biotecnologia. Nós temos uma gama de infraestrutura e de recursos humanos, de cientistas, de altíssimo valor no país. Se tivéssemos mais investimentos, com certeza isso traria retornos imensuráveis", continuou o médico.
Segundo o especialista, os setores mais recomendados para investimentos em biotecnologia seriam os de medicamentos, vacinas e estratégias terapêuticas, além de nos mais diversos ramos da indústria farmacêutica, nos de novos medicamentos, os quais "a gente pode desenvolver, pois temos recursos naturais de uma diversidade imensa, fantástica [...] O maior patrimônio do país são seus recursos naturais, sendo que o Brasil tem de forma louvável recursos naturais esplêndidos".
"Podemos patentear muita medicação nova, muitos produtos de biotecnologia se a gente investir nisso, o que pode levar a um incremento significativo ao patrimônio do país", continuou Junger.
A falta de investimentos em ciência e tecnologia pode ser considerada uma das responsáveis pelo número de pessoas infectadas e mortas pela COVID-19 no Brasil, pois segundo Junger se houvesse uma cultura de se basear as decisões no conhecimento científico "nós já teríamos um prejuízo bem menor". "Se tomássemos mais decisões baseadas em estudos, em conhecimento de uma forma geral, com certeza nosso enfrentamento da pandemia teria sido com muito menos mortos".
O investimento em biotecnologia deve ser contínuo, explicou o analista, porque quando se precisa se tem a ferramenta. "No momento a situação é crítica, porque nós não temos, nós não descobrimos as ferramentas para lidar com esse agravo antes de ele acontecer. Se se investe em pesquisa, quando temos situações como essas, o nosso enfrentamento minimiza o prejuízo, isso só se consegue com pesquisa."
Quebra de patentes das vacinas
Na audiência pública no Senado também se debateu a questão da quebra de patentes das vacinas, com Covas dizendo que ela não traz proveito para o Brasil. Na opinião de Junger, a construção de um panorama científico sólido no país é baseado em vários alicerces financeiros, administrativos e políticos.
"Nós precisamos de políticas públicas de pesquisa, de medidas tomadas na administração pública para pesquisa, ela tem que ser incentivada e ela tem que ser valorizada", avaliou o especialista.
Para Junger, o produto do conhecimento adquirido na pesquisa tem que ser aplicado na administração pública, nas decisões de gestores. Existem mecanismos legais de quebra de patente. Quem é detentor da tecnologia de vacina hoje em dia tem algo que pode salvar vidas no mundo inteiro, então seria justo que a patente fosse quebrada para que todos os laboratórios possam produzir vacinas e com isso haja uma quantidade maior disponível de imunizantes com mais brevidade.
"O Brasil foi exemplar na quebra de patentes de medicamentos para o tratamento do HIV. A gente não tem uma política interna que valorize o saber científico, a pesquisa, nem tem uma política externa. A gente precisa desses atores falando em uníssono e defendendo e trabalhando pela pesquisa, porque só com o conhecimento a gente pode tomar decisões mais acertadas", finalizou Junger.