China tenta recriar Nova Rota da Seda na África, escreve mídia

Mais de 600 anos após a visita do almirante Zheng He, da dinastia Ming, à ilha queniana de Lamu, Pequim tenta agora recriar a antiga Rota da Seda no continente.
Sputnik

A Autoridade Portuária do Quênia (KPA, na sigla em inglês) informou que a China Communications Construction Company (Empresa de Construção de Comunicações da China) completou a construção dos primeiros três ancoradouros no porto de Lamu, que deverá se tornar um centro de transbordo de contêineres e de carga de petróleo. Esta instalação em águas profundas será capaz de lidar com grandes navios e complementará o porto principal do Quênia em Mombaça, informa o South China Morning Post.

Este projeto de US$ 5 bilhões (aproximadamente R$ 27,9 bilhões) é somente uma parte de todo um esquema de infraestrutura de US$ 25 bilhões (cerca de R$ 139,7 bilhões) – o Corredor de Transporte Lapsset, que deverá conectar o Quênia com a Etiópia, Uganda e Sudão do Sul.

A operadora portuária China Merchants Group (CMG, na sigla em inglês), tem feito investimentos de bilhões de dólares em vários países africanos, tais como Djibuti, Nigéria e Togo. Em dezembro, assinou um acordo de investimento de US$ 350 milhões (aproximadamente R$ 1,9 bilhão) com a empresa estatal Great Horn Investment Holding, abrindo caminho para uma renovação do Porto de Djibuti e criação de um centro internacional de logística e negócios. O investimento da CMG no porto de Djibuti veio logo após seu investimento de US$ 590 milhões (perto de R$ 3,3 bilhões) no Porto Multiuso de Doraleh e de US$ 3,5 bilhões (cerca de R$ 19,5 bilhões) na Zona Franca Internacional de Djibuti.

Contudo, a presença da operadora em solo africano tem gerado controvérsia.

China tenta recriar Nova Rota da Seda na África, escreve mídia

Analistas da Unidade de Inteligência do jornal The Economist disseram que "tais investimentos [incluindo uma ferrovia para a Etiópia e uma base naval chinesa] não são surpresa, considerando a importância do Djibuti como base de transbordo na Rota da Seda marítima, conectada com a Iniciativa Um Cinturão, Uma Rota, bem como seu potencial como centro de comércio com acesso a outras partes da África, e sua localização estratégica como nó de segurança para as movimentadas rotas de navegação que atravessam o golfo de Aden e o mar Vermelho".

Em 2019, o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais identificou 46 portos da África subsaariana com envolvimento financeiro, de construção, ou operacional de entidades chinesas. O centro de pesquisa explicou, citado pelo South China Morning Post, que "ao se criar a espinha dorsal da Rota da Seda Marítima da China, os investimentos em portos africanos proporcionam uma porta de entrada ao desenvolvimentos comercial e econômico da região, fortalecem a China com alavancagem política e influência no continente, ao mesmo tempo que fornecem uma base para as atividades do Exército de Libertação Popular da China".

De acordo com Tim Zajontz, pesquisador no projeto Espaço e Governança Africanos, na Universidade de Edimburgo, na Escócia, os investimentos chineses em portos estrangeiros tiveram um papel fundamental na política de comércio exterior da China, facilitando a criação de cadeias de valor e o crescimento orientados para a China.

No entanto, o pesquisador adverte que não é somente de Pequim que depende o sucesso destes empreendimentos e redes comerciais. A sustentabilidade econômica das infraestruturas africanas está ligada à recuperação das economias africanas após a pandemia.
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