No último domingo (25), a Agência Brasil noticiou que o Brasil encerrou o ano de 2020 como um dos principais líderes mundiais em reciclagem de latas de alumínio. Segundo um levantamento da entidade do setor, a Abralatas (Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alumínio), o país atingiu o percentual de 97,4% de reciclagem de latas de alumínio, ou seja, quase toda a produção nacional de latas de alumínio foi reciclada no ano passado.
Em entrevista à Sputnik Brasil, o empresário Cátilo Cândido, presidente da Abralatas (Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alumínio), afirma que o resultado obtido no ano passado é ótimo, mas não surpreende, pois trata-se de um trabalho de longo prazo, que vem sendo aprimorado há mais de 30 anos, e ressalta que "não há quase nenhum outro país do mundo, pelo menos com o mesmo volume de reciclagem do Brasil, que alcance esse número de 97,4% de latas recicladas".
Segundo Cândido, "o índice de reciclagem da lata no Brasil é superior a 90% [...] há mais de 15 anos", que consistem em milhares de toneladas recicladas por ano, mostrando que a latinha de alumínio é um bem econômico "que gera um valor social, gera empregos, renda, e é tão importante para a sociedade brasileira, que evidencia que a indústria brasileira de alumínio é um verdadeiro exemplo de economia circular harmônica".
Já o ambientalista Miguel Scarcello, mestre em Ciência Ambiental e secretário-geral da ONG SOS Amazônia, entidade estabelecida no Acre, aponta que o alto índice de reciclagem de latas é muito importante, "tanto para a conservação quanto para a economia.
"Isso significa que vamos deixar de desperdiçar recursos naturais, vamos deixar de incrementar a exploração das jazidas, e não vamos desperdiçar toda a energia gasta na produção dessas latas. Quando esses produtos retornam ao ciclo de produção, que é essa reciclagem, isso potencializa todo o investimento feito anteriormente. Você não joga aquilo que foi feito antes no lixo", afirma Scarcello em conversa com a Sputnik Brasil.
Cátilo Cândido, por sua vez, afirma que a importância da reciclagem reside no fato de que ela faz uma integração dos elos em uma responsabilidade compartilhada entre todos, pois ela deixa de lado a economia linear, onde o produto final não retorna à cadeia de produção após consumido, "para uma economia circular, uma economia do futuro", já que, "uma vez consumida a latinha, [...] ela retorna às prateleiras em uma média de 60 dias".
De acordo com a Abralatas, no ano passado foram consumidas 402,2 mil toneladas de latas de alumínio no Brasil, das quais 391,5 mil, que equivalem a 31 bilhões de unidades, foram recicladas. Esse número representa um aumento em relação a 2019, quando foram vendidas 375.700 toneladas, das quais 366.800 foram recicladas.
Para Cândido, esses números revelam que o consumo de latas de alumínio cresceu significativamente no ano passado, e colocam o país como o terceiro maior mercado de latinhas do mundo. Além disso, o presidente da Abralatas ressalta que o crescimento no consumo das latinhas foi acompanhado do aumento da reciclagem do material, um resultado conseguido graças ao trabalho conjunto de sua organização com outras entidades, como a Associação Brasileira de Alumínio (Abal), e o poder público, após a assinatura de um termo de compromisso pelo Ministério do Meio Ambiente.
"Nos preparamos para esse momento [...] com o objetivo de aperfeiçoar toda a nossa cadeia produtiva. Junto com a Abal, hoje nós temos mais de 40 centros de coletas e parceiros que nos ajudam com o compromisso da compra, [de] recuperar essa sucata para que a roda da economia circular continue girando. Nós garantimos, portanto, a compra da sucata e manteremos o Brasil como campeões de reciclagem", afirma o empresário.
Sobre as iniciativas que podem ser tomadas e incentivadas para se obter reaproveitamento econômico das matérias-primas e, consequentemente, a proteção ambiental, Cândido assinala três aspectos importantes. Um deles é melhorar o ambiente regulatório no Brasil, aproveitando-se de inciativas como a reforma tributária, para trazer "um verdadeiro pacto verde" para o país. Além disso, o empresário indica que é preciso haver uma evolução da referência simbólica, para que os consumidores tenham total conhecimento de que destino deve ser dado a cada tipo de resíduo, reduzindo consideravelmente a quantidade de lixo produzida no país.
Já Scarcello acrescenta que todos os materiais inertes que são descartados como lixo "têm um destino de reaproveitamento", mas que o Brasil ainda descarta muita coisa que poderia ser reciclada. Para o ambientalista, é necessário que haja mais estruturas de reciclagem e de beneficiamento, para tornar esses materiais, que hoje são simplesmente descartados, economicamente viáveis em maior quantidade.
Segundo o secretário-geral da SOS Amazônia, o preço conseguido com o alumínio é uma das razões que justificam o alto índice de reciclagem, enquanto o mesmo não acontece com outros materiais, como o vidro, o papelão e alguns plásticos, que, por exemplo, precisam que os locais de coleta estejam mais próximos das estruturas de beneficiamento para que a sua reinserção na cadeia produtiva seja economicamente viável, reduzindo custos de transporte.
"É uma oportunidade enorme hoje, porque tudo que vai para o lixo hoje deixou de ser lixo, tudo isso é matéria-prima para o processo industrial", afirma o ambientalista.
"Quanto mais a população [...] colaborar na separação adequada do material e na destinação correta [...] a gente pode gerar oportunidade de ganho financeiro, econômico e ambiental, porque, toda vez que a gente destina corretamente esse material, a gente vai ter menos lixo e menos ambientes naturais serão impactados", conclui o secretário-geral da SOS Amazônia.