O Ministério das Comunicações quer expandir o Programa Wi-Fi Brasil. Para isso, adotou uma parceria com o Banco do Brasil (BB) para beneficiar até 500 municípios no interior do país, que receberão pontos gratuitos de Internet de alta velocidade.
A ideia do governo federal é elevar para cerca de 3,5 mil o número de cidades atendidas pelo programa. Para Luiz Claudio Schara Magalhães, professor de engenharia da UFF (Universidade Federal Fluminense), a ideia é muito bem-vinda, e a universidade pode ajudar.
Em entrevista à Sputnik, o professor falou sobre o programa do Ministério das Comunicações, e elogiou a inclusão digital promovida pela novidade. Em sua opinião, "a Internet é esse grande integrador e melhora as possibilidades para as pessoas que são empreendedoras de realizar seus objetivos".
Importância de levar um sinal gratuito
O Banco do Brasil deixou claro que o acesso à web nas pequenas cidades do país (contempladas pelo programa) será feito via satélite. A medida deverá atender escolas, postos de saúde, unidades de segurança pública, aldeias indígenas, quilombos, assentamentos rurais e outros equipamentos públicos.
Luiz Claudio Schara explicou que "é importante nós separarmos o problema da interiorização do acesso à Internet em duas partes. A primeira é a rede de acesso, que permite ao usuário final se conectar com a Internet. Nesse caso, realmente o Wi-Fi é a melhor tecnologia para ser usada atualmente. É melhor que o 5G porque permite redes mais flexíveis".
O especialista comentou, por outro lado, que "levar fibra ótica é muito caro", principalmente para regiões mais afastadas de centros urbanos. Por esta razão, ele avalia como positiva as intenções e a forma como o governo federal pretende levar as benesses da Internet: "A conexão de satélite é perfeita para lugar sem infraestrutura", comentou.
A questão financeira
Questionado se em termos de recursos há necessidade de investimentos pesados para que o Programa Wi-Fi Brasil seja executado, o professor apresentou uma solução inesperada. Ele ressaltou um projeto da própria Universidade Federal Fluminense, que conseguiu desenvolver uma tecnologia para baratear o custo da implantação de um sistema de Wi-Fi. "Nossa tecnologia é cerca de 20 vezes mais barata", comentou.
Em seguida, ele explicou que "é preciso entender que a conexão via satélite é a forma mais barata de levar Internet imediatamente, sem grandes investimentos. É preciso uma estação rádio-base, para fazer o upload e o download do satélite, uma antena parabólica, que não é um equipamento custoso, e o segundo equipamento da equação, que é o próprio Wi-Fi".
'A Internet gratuita depende também da interação das pessoas'
Luiz Claudio Schara avalia que o uso da Internet gratuita depende do envolvimento das pessoas. "É melhor capacitar as pessoas e permitir o suporte local" para ter um sistema sustentável do que fazer medidas pontuais, "como instalar equipamentos e deixar lá", à mercê do tempo.
Neste sentido, o governo federal sustenta que, além do acesso à rede Wi-Fi, a parceria com o Banco do Brasil prevê a capacitação de clientes para o mundo digital, consultoria em educação financeira e uso dos serviços bancários por produtores rurais. Palestras e seminários de educação financeira estão no cronograma e serão usados para promover cursos voltados ao empreendedorismo.
O professor comentou este caráter econômico do projeto do Ministério da Comunicação. Ele avalia que a tecnologia permite que mais indivíduos usem a Internet, e "é possível capacitar pessoas mesmo no interior para trabalhar remotamente", como se tem visto durante a pandemia. "Uma pessoa no interior de Goiás pode trabalhar para uma empresa na Inglaterra", comentou.
"Essa parte de poder trabalhar remotamente é muito interessante para lugares extensos como o Brasil", concluiu.
O sonho de um Brasil conectado
De acordo com o Ministério das Comunicações, o Programa Wi-Fi Brasil instalou 13.213 pontos de Internet via satélite, banda larga, gratuita e de alta velocidade por todo o país até meados de março deste ano, beneficiando cerca de 8,5 milhões de habitantes.
Sua expansão prevê a disseminação do uso de serviços bancários pela Internet por produtores rurais. Desta forma, um fazendeiro não precisará ir a uma agência bancária para fazer transações, podendo resolver a maior parte dos problemas por meio do aplicativo do banco para o celular.
Luiz Claudio Schara é um entusiasta deste caráter empreendedor do projeto do Ministério da Comunicação. "Eu acredito que vai ser muito bom para os produtores rurais, porque expande as possibilidades para este segmento. Essa ideia dos bancos digitais, por exemplo, permite que as pessoas possam poupar o seu dinheiro, e não colocando debaixo do seu colchão, mas em uma poupança que entre para o sistema produtivo", afirmou.
Ele também enalteceu o trabalho remoto e a grande classe de profissionais independentes que surgiu principalmente com a expansão da Internet no período da pandemia. Ele entende que a conectividade digital permite aos microempreendedores, como pedreiros e eletricistas, se aproximar do mercado de trabalho e outras fontes de renda, por meio de anúncios em aplicativos.
Para ele, os serviços digitais no Brasil se encontram em fase satisfatória, de desenvolvimento, mas "ainda é preciso avançar mais na interiorização da Internet". Questionado sobre a possibilidade de vivermos em país conectado, ele disse que "é um sonho" que merece se tornar realidade. "Teremos patamares diferentes de Internet, em razão do uso dos cabos, da fibra ótica, dos satélites". Mas, ainda assim, apesar dos atrasos, "isso permite várias coisas, como o acesso aos mercados mundiais".