A análise dos diretores do órgão regulador justificou o posicionamento alegando falta de dados e risco de doenças por falha em fabricação do imunizante russo.
A Sputnik Brasil ouviu nesta terça-feira (27) a opinião do prefeito da cidade de Niterói, Axel Grael (PDT), sobre a decisão da Anvisa. As cidades de Niterói e Maricá, ambas do estado do Rio de Janeiro, fazem parte de um consórcio nacional que se mobilizou para a negociação de compra da Sputnik V.
Estados formaram consórcio para compra da Sputnik V
Ao todo, 14 estados tinham pedido autorização para comprar e distribuir a vacina russa: Acre, Alagoas, Amapá, Bahia, Ceará, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Rondônia, Sergipe e Tocantins, junto com as cidades fluminenses citadas.
Em nota, Grael declarou: "A decisão [da Anvisa] nos frustrou muito, mas acreditamos na ciência. Esperamos que as dúvidas sejam esclarecidas, os questionamentos sejam respondidos e que Niterói possa receber a Sputnik V".
Perguntado sobre o que representaria para Niterói poder usar a vacina na imunização da população da cidade, o prefeito disse que isso significaria "a possibilidade de Imunização mais rápida de toda a nossa população, salvar vidas e poder recuperar a economia mais rapidamente", e que continuaria "avançando em sintonia com o consórcio".
A Secretaria Municipal de Saúde do município informou também através de nota enviada à Sputnik Brasil que não houve pagamento antecipado para a compra da vacina Sputnik V. De acordo com a legislação federal, a importação emergencial só seria possível com autorização da Anvisa.
O órgão diz continuar trabalhando para acelerar a imunização em Niterói, que possui taxa de vacinação superior a 25% de sua população, estimada em 515.317 habitantes segundo o IBGE.
O comunicado da secretaria diz que a Prefeitura de Niterói "assinou contrato para adquirir 800 mil doses da Sputnik V com o objetivo de imunizar todos os niteroienses que ainda não foram vacinados e que o órgão confia no trabalho da Anvisa, acredita que o processo será solucionado e em breve a vacina será aprovada".
Nesta segunda-feira (26), o governador do Ceará, Camilo Santana (PT), já tinha afirmado através das redes sociais que ia continuar tentando importar a vacina russa contra a COVID-19.
Atuação de lobbies podem mudar posicionamento da Anvisa?
William Daldegan de Freitas, professor de relações internacionais da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), em conversa com a Sputnik Brasil, analisou que uma mudança de posicionamento técnico da Anvisa somente seria possível através da pressão de lobbies internos, como da farmacêutica União Química, que seria a produtora local da Sputnik V.
"Eu acho que esses lobbies poderiam pressionar, se houvesse ambiente, por possíveis alterações na visão da Anvisa, do próprio Ministério da Saúde, uma pressão com base no Legislativo e em outras estruturas do governo para uma possível flexibilização", declarou Freitas.
Mas, segundo ele, dentro desse perfil técnico da Anvisa parece não haver qualquer ambiente para uma mudança, pois isto geraria instabilidade política, pois todos os holofotes estão voltados para ela. "Os lobbies vão tentar se movimentar, seja por pressão externa por parte do Fundo Russo [de Investimentos Diretos], seja pelo próprio lobby da União Química, que tem feito uma pressão muito grande junto ao Congresso", continuou o especialista.
Denis Logunov, vice-diretor de pesquisa científica do Centro Nacional de Pesquisa de Epidemiologia e Microbiologia Gamaleya, fabricante do imunizante, destacou na segunda-feira (26) que a Federação da Rússia realiza o controle de série de tudo que é produzido pelo Centro Gamaleya e por outros fabricantes.
Nenhum controle tem informação de que a vacina possui adenovírus replicante, e a Anvisa não solicitou protocolos de controle de qualidade consolidados, segundo Logunov.