Estalagmites de cavernas relatam passado e podem até prever o futuro do planeta, diz novo estudo

No subsolo, cavernas misteriosas, que parecem quase imensuráveis para os humanos, criaram suas próprias maneiras de contar o tempo enquanto as eternidades passam, instigando cientistas a pesquisas mais aprofundadas.
Sputnik

O fenômeno que acontece dentro das cavernas incentivou um novo estudo por pesquisadores australianos que descobriram que as estalagmites não apenas registram eventos climáticos extremos e repentinos, mas também agem como cronometristas naturais, narrando a passagem constante do tempo através de camadas de rochas.

Para quem não sabe, dentro de algumas cavernas há estalactites, penduradas no teto das cavernas, que crescem para baixo gotejando água rica em produtos químicos no chão das cavernas, que lentamente se agrega em uma estalagmite que cresce para cima.

Estalagmites de cavernas relatam passado e podem até prever o futuro do planeta, diz novo estudo

Cientistas entendem os fundamentos dessa relação espeleotema há muito tempo, mas ainda estamos descobrindo quanto do passado antigo está inscrito nessas formações subterrâneas: ecos de incêndios florestais antigos, sagas de colapso social e até mesmo previsões sombrias de nosso próprio destino.

O geoquímico Andy Baker, da Universidade de Nova Gales do Sul, na Austrália, que liderou o estudo relatado na revista científica Reviews of Geophysics, comparou a estalagmite a um metrônomo.

"Nossa nova análise global mostra que podemos considerar o crescimento da estalagmite como sendo um metrônomo e muito constante ao longo de centenas e milhares de anos", explica Baker. "Em geral, o crescimento da estalagmite é previsível e é essa propriedade única que os torna tão valiosos para os pesquisadores – dá para saber o tempo no passado usando os anéis de crescimento muito regulares que estão amplamente presentes em todo o mundo."

Em sua pesquisa, Baker e sua equipe analisaram estalagmites de 23 cavernas em seis continentes, procurando qualquer mecanismo comum que pudesse explicar seu desenvolvimento. Eles descobriram que as taxas de crescimento de estalagmite aumentaram em linha com as temperaturas mais quentes, e que as formações só parecem crescer em regiões com precipitação sazonal.

Embora muitos tipos de distúrbios climáticos possam afetar o modo como as estalagmites se desenvolvem, uma vez que é calculada a média desses episódios extremos, a taxa de crescimento ao longo do tempo é relativamente comum e consistentemente lenta em todo o mundo. "A 'estalagmite média global' aumentou em altura cerca de um metro nos últimos 11 mil anos", diz Baker.

Ao longo desses períodos épicos, as estalagmites geralmente crescem de forma ordenada, como os anéis das árvores, exceto quando distúrbios de longa duração e de vários anos – como anos prolongados de chuva ou seca associados a eventos como El Niño ou La Niña – se destacam no registro.

Quando esses distúrbios passam, porém, as camadas de crescimento de estalagmite voltam ao seu ritmo regular, informado pela consistência da umidade descendo sobre elas de cima. Os pesquisadores afirmam que a taxa de acúmulo de estalagmite é relativamente inalterada ao longo do tempo.

"Isso ocorre porque sua fonte de água gotejante tem volume suficiente e uma composição química estável para ser um amortecedor para mudanças rápidas. Ano após ano, vemos uma 'oscilação', onde a taxa de acumulação retorna para a média de longo prazo, também devido a este efeito de buffer."

Por essas razões, os pesquisadores dizem que as estalagmites têm muito a nos ensinar sobre a cronologia do passado antigo com dados relacionados ao clima que ainda oferece muito a explorar.

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