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Relato sobre cloroquina foi o mais grave, mas CPI da Covid está no '0 a 0', diz especialista

Para cientista político ouvido pela Sputnik Brasil, o depoimento do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, na CPI da COVID-19, nesta terça-feira (4), não foi capaz de causar desconforto no governo.
Sputnik

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, que investiga ações e eventuais omissões do governo federal no combate à pandemia, tem sido motivo de dor de cabeça para o presidente da República, Jair Bolsonaro.

No entanto, a primeira sessão de depoimentos, com o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, nesta terça-feira (4), não trouxe efeitos políticos adversos ao presidente, na visão de José Paulo Martins Junior, cientista político e professor da Unirio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro).

Para o especialista, "o mais grave" nos relatos de Mandetta foi a revelação de uma reunião sobre a possibilidade de alteração da bula da cloroquina para incluir tratamento contra a COVID-19.

O ex-ministro afirmou aos senadores que o Palácio do Planalto preparava um decreto para revisar a bula do medicamento, mas explicou que a ideia não foi adiante.

"Vi um papel, mas sem papel timbrado, sem nada, à frente de todos na reunião, que era uma sugestão de minuta. Estava o ministro Jorge Ramos [na verdade Jorge Oliveira, então ministro da Secretaria-Geral da Presidência] e eu perguntei: 'Mas ministro, isso daqui é um decreto para quem? Para o presidente?' Ele falou: 'Não, não, pensaram aí, mas isso aqui está fora de questão. Já falei que juridicamente isso aqui não existe'. Foi a única coisa. Alguém teve essa ideia, mas não saberia dizer quem teve", contou Mandetta na CPI.
Relato sobre cloroquina foi o mais grave, mas CPI da Covid está no '0 a 0', diz especialista

Contudo, devido à falta de documentação, o cientista político da Unirio não acredita que o relato possa ser prejudicial ao governo.

"Pelo que entendi, não há nenhum documento que sustente isso. Foi uma conversa, uma discussão, que não andou. Então, não é muito danoso", afirmou Martins em entrevista à Sputnik Brasil.

O especialista lembrou que Mandetta sempre reforçou a ineficácia da cloroquina contra a doença. O medicamento faz parte do "kit COVID", defendida por governistas, que o questionaram sobre a não recomendação do remédio.

"Ele [Mandetta] achou surpreendente que alguns senadores governistas ainda tentem emplacar a discussão sobre cloroquina e ivermectina, medicamentos que não têm comprovação científica. Na verdade, existe comprovação científica de que não funcionam. O Mandetta explicou para eles o que é a comprovação científica, mas não querem entender isso, pois faz parte de uma narrativa", disse Martins.

Segundo o cientista político, "o governo faz da mentira uma política pública, criando histórias e narrativas, e, para sustentá-las, encontra pessoas que defendem o tratamento precoce".

Mas Martins ressalta que já era pública a discordância do ex-ministro com Bolsonaro, que preferiu não seguir suas orientações sanitárias.

"Então, o primeiro dia ficou no zero a zero, não teve nada de mais", disse.

'Armadilhas' de governistas

O especialista também observou que os senadores governistas tentaram atrasar o depoimento com questões de ordem no início da sessão e, durante a oitiva, buscaram criar "cascas de banana" para Mandetta em suas perguntas.

"O presidente da CPI [Omar Aziz, do PSD-AM] está conseguindo conduzir bem o trabalho. E o depoimento começou. O Mandetta é bem preparado, conhece bem o assunto e consegue responder bem as perguntas, inclusive nas armadilhas sobre canja de galinha e chá. Acho que ele se saiu muito bem", avaliou.
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Em uma das perguntas, o senador Ciro Nogueira (PP-PI), aliado do Planalto, relembrou um episódio em que Mandetta recomendou chá, canja de galinha e reza durante a pandemia. O ex-ministro explicou que a declaração estaria em um contexto de direcionamentos à população para cuidados à saúde.

Adiamento do depoimento de Pazuello

O também ex-ministro da Saúde, Nelson Teich, que seria ouvido pela comissão na tarde desta terça-feira (4), teve seu depoimento adiado para a quarta-feira (5) devido à extensão da participação de Mandetta, cuja oitiva durou sete horas.

Foi outro adiamento, porém, que causou mais polêmica. No início da sessão, o ex-ministro Eduardo Pazuello informou ter tido contato, no último final de semana, com pessoas que contraíram a COVID-19.

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Como ele deverá cumprir quarentena de 14 dias, seu depoimento - um dos mais aguardados pela CPI e que estava marcado para esta quarta-feira (5) - foi reagendado para o dia 19 de abril.

No dia 25 de março, o ex-ministro foi flagrado sem máscara em um shopping de Manaus, no Amazonas.

"Esse adiamento pode ser bom para ele [Pazuello], porque ele pode se preparar melhor. Mas, por outro lado, também possibilita que os senadores estejam mais bem preparados para inquiri-lo", ressaltou Martins.
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