"Escutei da ministra Arancha González uma disposição bastante enfática do governo espanhol em ajudar o Brasil na assinatura, o mais rápido possível, deste acordo entre o Mercosul e a União Europeia", afirmou França em uma declaração à imprensa após o encontro com a chanceler espanhola nesta sexta-feira (7) em Brasília.
O acordo entre os dois blocos foi alcançado há quase dois anos, depois de quase duas décadas de negociações, mas ainda enfrenta várias dificuldades para entrar em vigor.
Diversos países europeus não confiam no compromisso ambiental do governo de Jair Bolsonaro, que não consegue impedir o desmatamento crescente na Amazônia, e acreditam que a ratificação do acordo, nas atuais circunstâncias, daria asas à ainda mais destruição do meio ambiente.
O chanceler brasileiro, no entanto, não mencionou as críticas feitas ao governo pelos índices de desmatamento no país e garantiu que o acordo tem disposições modernas que darão mais dinamismo, transparência, previsibilidade e segurança jurídica ao ambiente de negócios entre os blocos.
"É uma oportunidade de demostrar a importância do livre comércio e dos blocos regionais, em lugar de especulações com objetivos protecionistas", disse França, ao fazer uma referência velada ao receio de vários governos europeus em ratificar o acordo.
A ministra espanhola, por sua vez, assinalou que se está buscando fórmulas para "aperfeiçoar" o texto, incluindo compromissos com o Acordo de Paris e em matéria de desmatamento, mas reiterou o apoio da Espanha, apesar de tudo.
"Nós da Espanha e da União Europeia acreditamos que os acordos comerciais podem nos ajudar a promover e a proteger a sustentabilidade", afirmou a ministra.
Além disso, a responsável pela diplomacia espanhola garantiu que o seu país está pronto para investir no Brasil, com todas as oportunidades de negócio que estão se abrindo graças às privatizações em matéria de infraestrutura, energia, água e ferrovias.
González lembrou que a Espanha é um dos países que mais investem no Brasil (US$ 80 bilhões por ano, o que equivale a quase R$ 420 bilhões) e que as empresas espanholas geram 200 mil postos de trabalho diretos no país.
Nesse sentido, a ministra anunciou que um fórum empresarial Brasil-Espanha será realizado na segunda metade deste ano para concretizar possíveis investimentos que se abrem com as novas oportunidades.
Arancha González também destacou que a Espanha apoia a entrada do Brasil na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e que pretende fortalecer a cooperação internacional no contexto da luta contra a pandemia, incluindo o Brasil no grupo de países latino-americanos que receberão uma doação de 7,5 milhões de doses de vacinas contra a COVID-19 por parte de Madri.
Por fim, os dois ministros também anunciaram a criação de uma comissão permanente bilateral Brasil-Espanha, similar a que o Brasil já tem com Portugal, para evidenciar que a relação entre os dois países é estratégica.