Após 1 ano vazio no 13 de maio, Santuário de Fátima acolhe 7.500 peregrinos, ainda com restrições

Depois de passar o primeiro 13 de maio vazio em mais de um século, devido à pandemia de COVID-19, em 2020, o Santuário de Fátima deve receber 7.500 peregrinos nesta quinta-feira (13). A data celebra a primeira aparição da santa a três crianças, em 1917. A nova capacidade esgotou na noite desta terça.
Sputnik

Muito pouco ainda para a capacidade externa habitual de 300 mil pessoas. O departamento de comunicação do santuário informou à Sputnik Brasil que 20 grupos de portugueses e apenas um de estrangeiros, vindos da Áustria, haviam se inscrito previamente para participar das celebrações que começaram na noite da quarta-feira (12), com a Procissão de Velas. Com a lotação de 7.500 pessoas, muita gente ficou do lado de fora para assistir.

Nesta quinta (13), a Missa Internacional está marcada para 10h00 de Portugal (06h00 de Brasília), com transmissão pela TV Canção Nova, no Brasil, e pelas redes sociais do Santuário de Fátima.

Mas será cada um no seu quadrado. Ou melhor, em seu círculo. Os lugares estão demarcados com círculos no chão, em que podem ficar apenas grupos de até quatro pessoas da mesma família ou que morem juntas. Cada círculo segue a distância regulamentar estipulada pela Direção-Geral de Saúde (DGS). O uso de máscaras é obrigatório, assim como recomendável a higienização das mãos. Nas oito portas de entrada, há dispensadores de álcool em gel. 

Após 1 ano vazio no 13 de maio, Santuário de Fátima acolhe 7.500 peregrinos, ainda com restrições

Cerca de 80 pessoas, entre funcionários e voluntários, estão escaladas para indicar os lugares para onde deverão seguir os peregrinos que devem se manter no mesmo lugar durante as celebrações. Para evitar a movimentação, as zonas da Capelinha das Aparições e do queimador das velas estão interditadas ao público. A comunhão será distribuída no lugar, com os ministros da Eucaristia se deslocando até cada um dos peregrinos.

A celebração será presidida pelo cardeal D. José Tolentino Mendonça. Mesmo com a liberação de acesso de até 7.500 peregrinos, o reitor do santuário, Carlos Cabecinha, desencorajou as pessoas a se deslocarem para a data festiva. Um comunicado refere que em uma atitude responsável e consciente, o santuário considera que a saúde está acima de tudo e, por isso, este maio ainda não poderá acolher todos quantos gostariam de estar presentes.

"O santuário apela, uma vez mais aos peregrinos que tão responsavelmente têm seguido as suas orientações, que possam neste mês de maio, de novo, corresponder às exigências do atual momento, que apesar de ser melhor ainda não oferece garantias para Fátima acolher sem reservas e precauções todos os peregrinos que habitualmente se deslocam à Cova da Iria nesta data, provenientes de todos os lugares do mundo", lê-se em um trecho.

Muitos brasileiros estão atendendo ao pedido e evitando a visita ao santuário nesta data. A paulista Clévia Moreira, que já esteve em Fátima seis vezes de carro, faria sua primeira peregrinação neste dia 13 de maio, mas optou por adiá-la para o feriado de Corpus Christi. Ela sairá de Vila Franca de Xira no dia 3 de junho com três amigas, todas marinheiras de primeira viagem. 

Elas andarão quase 100 quilômetros até Fátima, sem guia. Será uma forma de agradecimento e preparação para o Caminho de Santiago de Compostela, que querem fazer em 2022.  

"Somos quatro aventureiras, que vão sozinhas e pela primeira vez, apenas com mapas e GPS do celular. Nosso plano é fazer em quatro dias. Queríamos ir no 13 de maio, mas, por causa da pandemia, muita gente mudou as datas para evitar aglomeração. Decidimos ir em junho, assim vamos mais próximo de maio, mas não devemos apanhar muita gente", conta Clévia à Sputnik Brasil.

Parente dos Pastorinhos, paulista lança curso com lições de Fátima

Fundadora do site Raízes de Fátima, que organiza peregrinações e experiências no santuário, principalmente com o foco em brasileiros, a empresária paulista Eliana Oliveira também achou mais seguro não organizar grupos neste aniversário da 1ª Aparição de Nossa Senhora, apesar de a procura ter sido grande. 

Ela optou por uma experiência virtual, desenvolvendo a segunda edição do seu curso "13 lições de Fátima para transformar a sua vida". Com a bagagem religiosa e hereditária que carrega no sangue, por ser parente, ainda que distante, dos Pastorinhos Jacinta e Francisco Marto (seu bisavô era tio das crianças para quem a santa teria aparecido), Eliana explica à Sputnik Brasil a decisão de não levar peregrinos nesta data.

"É um momento difícil ainda. Muitos alojamentos no caminho pararam de funcionar, e as pessoas teriam que dormir em quartos partilhados. É muito delicado. Por mais que exigíssemos testes [PCR negativo], como garantir que as pessoas façam a caminhada sempre de máscara e mantendo o distanciamento? É uma responsabilidade muito grande, pois as pessoas não podem se tocar nem dar a mão para se ajudar em alguma subida na estrada", justifica Eliana. 
Após 1 ano vazio no 13 de maio, Santuário de Fátima acolhe 7.500 peregrinos, ainda com restrições

A jornalista Maria Alice Campos, que também faz as vezes de guia, em parceria com o Raízes de Fátima, esteve no santuário com Eliana na quarta (12), mas não conseguiram entrar, pois a lotação já havia sido atingida. No dia 19, ela fará uma peregrinação saindo do Porto, que fica a quase 200 quilômetros.

"Dos caminhos sinalizados, é o único que ainda não fiz. Talvez, leve três peregrinas de primeira viagem. Mas ainda não confirmei, porque estou a acompanhar o que pode acontecer com a COVID-19 após estes feriados. Embora tenha recebido alguns pedidos de peregrinação, a pandemia ainda se mantém, e os riscos para levar as pessoas em grupo são grandes", alerta.

Ela conta que esteve no santuário na última semana e que os funcionários estavam bastante reticentes para dar informações antecipadas, com receio de que o governo pudesse suspender a abertura aos peregrinos. Na terça-feira (11), o presidente Marcelo Rebelo de Sousa apelou à sensatez das pessoas em todos os tipos de festejos, sejam desportivos, políticos, comunitários ou religiosos.

Isso porque, naquela noite, milhares de torcedores do Sporting concentraram-se em frente ao Estádio de Alvalade, de onde o time saiu campeão português após 19 anos. As aglomerações não respeitaram o distanciamento social nem o uso de máscaras. Houve confrontos com a polícia, que usou balas de borracha para dispersar a multidão, deixando alguns feridos, entre eles, um jornalista da TVI.

Certamente, as celebrações pelo aniversário da 1ª Aparição de Nossa Senhora, em Fátima, decorrem de forma muito mais pacífica, com os peregrinos tentando respeitar as recomendações das autoridades sanitárias. Contudo, Maria Alice, autora do livro "Seis dias de Maria: no caminho peregrino de Fátima", faz a ressalva de que havia alguns pontos de aglomeração na entrada.

"Penso que o problema não esteja dentro do santuário, onde tudo está marcado, mas na entrada. No fundo, onde ficamos, ainda tinha distância social, mas havia lugares muito aglomerados junto aos portões. É muita demanda reprimida de pessoas que se movimentam pela fé", pondera.

Papa Francisco relembra 40 anos de atentado a João Paulo II

Em entrevista à Sputnik Brasil, Rodrigo Cerqueira, presidente da Associação de Amigos dos Caminhos de Fátima, confirma a impressão das brasileiras de que este ano ainda será complicado por causa das restrições da pandemia. Ele diz que nem todos os grupos de peregrinos se inscrevem previamente e que pode acabar ficando gente de fora devido à limitação de pessoas.

"Os círculos limitam o número de pessoas no santuário. Se vier um casal, por exemplo, terá um círculo só para ele. Das 7.500 pessoas, pode reduzir bastante mais, conforme o número que esteja em cada círculo. Para quem vem a caminhar, mais difícil vai ser. Depois de fazer muitos quilômetros a pé, vai ser um desafio se não puderem entrar", prevê.

Neste mês, o santuário comemora os 75 anos da coroação da imagem de Nossa Senhora venerada na Capelinha das Aparições. Neste dia 13, também faz 40 anos que o papa João Paulo II sofreu um atentado na Praça São Pedro, no Vaticano, onde foi alvejado com quatro tiros. 

Após 1 ano vazio no 13 de maio, Santuário de Fátima acolhe 7.500 peregrinos, ainda com restrições

Em 2000, a Igreja Católica revelou que o terceiro segredo de Fátima, que Nossa Senhora teria contado às crianças pastorinhas, era sobre a tentativa de assassinato contra o pontífice. A revelação foi feita em 13 de maio daquele ano, mesmo dia em que João Paulo celebrou uma missa no santuário para marcar a beatificação de Jacinta e Francisco Marto. Lúcia, a terceira pastorinha, ainda era viva à época, e assistiu à celebração, aos 93 anos.

Na quarta (12), o papa Francisco recordou o episódio durante audiência no Vaticano, no momento de saudação aos fiéis de língua portuguesa. Ele deve visitar o Santuário de Fátima em 2023, quando Lisboa sediará a Jornada Mundial da Juventude.

"Lembramos, com grande veneração, Nossa Senhora de Fátima. Ele [papa João Paulo II] sublinhou com convicção que devia a sua vida à Senhora de Fátima. Rezemos pela paz, pelo fim da pandemia, pelo espírito de penitência e pela nossa conversão", disse o pontífice.
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