Chefe do Exército francês diz ser 'mais razoável' que militares renunciem para criticar governo

Militares da França que alertaram Macron sobre uma "guerra civil em andamento" podem ser obrigados a renunciar caso coloquem a liberdade de expressão acima do dever, disse chefe do Estado-Maior do Exército.
Sputnik

Os militares franceses que assinaram uma carta ao presidente Emmanuel Macron alertando-o sobre uma iminente "guerra civil" devem renunciar para que possam expressar suas preocupações livremente, disse o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, general François Lecointre.

Para o general, aqueles entre os soldados e oficiais franceses que sentem o desejo de fazer declarações públicas sobre a situação política no país devem renunciar para poderem defender suas opiniões sem comprometer a neutralidade do Exército.

"A coisa mais razoável é certamente deixar [o Exército] para poder tornar públicas as próprias ideias e convicções de uma forma perfeitamente livre", disse o general em uma carta dirigindo-se a oficiais, suboficiais, soldados no ativo, marinheiros e aviadores, bem como reservistas.

Suas palavras foram uma reação à segunda carta aberta assinada por um número não identificado de militares franceses. Publicada na revista conservadora Valeurs Actuelles no último domingo (9), a missiva alertou as principais autoridades francesas sobre uma possível "guerra civil" no país e criticou a resposta do governo à primeira carta, assinada por 25 generais aposentados, bem como uma centena de oficiais e mais de mil soldados.

Os autores da segunda carta criticaram o governo por fazer o que eles disseram ser "concessões" ao Islamismo, alertando para o risco de "desintegração" da França. Para Lecointre, os militares da ativa que assinaram o documento "transgrediram" suas obrigações de "neutralidade" impostas a todo militar francês.

"Em nome de convicções pessoais", esses soldados e oficiais envolveram as Forças Armadas em um debate, no qual os militares não tinham o direito legal nem moral de intervir, disse ele. Lecointre apelou aos que assinaram a carta "a demonstrarem bom senso" e renunciarem, porém não os ameaçou com sanções oficiais.

A primeira carta, publicada em 21 de abril - no 60º aniversário de um golpe de Estado fracassado contra o general Charles de Gaulle por seu apoio à independência da Argélia - causou alvoroço entre os altos funcionários da França.

Chefe do Exército francês diz ser 'mais razoável' que militares renunciem para criticar governo

Lecointre disse que os 18 militares identificados como signatários da primeira carta enfrentariam um tribunal militar. O chefe do Estado-Maior também prometeu escrever pessoalmente uma carta condenatória ao general Christian Piquemal - um ex-comandante da Legião Estrangeira Francesa, que também assinou a primeira carta.

"Cada militar é livre para pensar o que quiser, mas cabe a ele distinguir [entre] o que vem de sua responsabilidade como cidadão do que emerge de sua responsabilidade como militar", acrescentou Lecointre.

A segunda carta também teve uma resposta dura por parte dos governantes franceses. O ministro do Interior, Gerard Darmanin, questionou a coragem dos autores, que preferiram permanecer anônimos, enquanto o ex-presidente François Hollande os acusou de "querer desafiar os próprios princípios da República".

A ministra da Defesa, Florence Parly, reiterou que "os Exércitos não existem para fazer campanha, mas para defender a França".
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