Os conflitos entre o Hamas e as forças militares de Israel têm se intensificado nos últimos dias, com mais de 1.600 foguetes lançados apenas contra o Estado judeu.
A Palestina, por sua vez, sustenta ter encontrado sinais de asfixia por gás venenoso em mortos que resultaram dos ataques israelenses. O país suspeita que Israel tenha usado armas químicas.
Líderes dos principais países do mundo condenaram a violência de ambos os lados na mais recente escalada de confrontos na Faixa de Gaza. O presidente brasileiro não. Bolsonaro criticou a violência contra Israel, e como sempre, utilizou suas redes sociais para fazer isso.
"Expresso minhas condolências às famílias das vítimas e conclamo pelo fim imediato de todos os ataques contra Israel, manifestando meu apoio aos esforços em andamento para reduzir a tensão em Gaza", concluiu, em outra publicação.
Para compreender os efeitos políticos e diplomáticos destas falas do presidente da República, a Sputnik Brasil conversou com Vinícius Guilherme Rodrigues Vieira, professor de relações internacionais da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP).
Decisão política
Para o especialista, Bolsonaro fez "um pronunciamento para a plateia, para mobilizar seus eleitores". Ele explicou que a temática de Israel é um catalisador da causa bolsonarista.
"Historicamente, Israel não era uma questão fundamental na nossa política, mas passa a ser depois que setores evangélicos da sociedade veem ali uma questão teológica, uma reformatação do reino de Israel e de Judá, como condição para o retorno de Jesus Cristo", comentou.
O professor enfatizou que a fé é uma questão da esfera privada, mas está impactando na política externa brasileira, principalmente em razão dos acenos de Jair Bolsonaro aos seus aliados. "Em suma, Bolsonaro adota esta posição em função da pressão da base evangélica. E ele precisa se recompor junto a este eleitorado, pois as pesquisas indicam que este segmento está migrando para a candidatura de Lula em 2022".
Qual posição o Brasil deveria adotar?
Questionado sobre qual posição o Brasil deveria adotar ante conflitos no Oriente Médio, o professor defendeu o pragmatismo. Ele entende que houve algumas mudanças na política do Itamaraty com a saída de Ernesto Araújo, mas disse que Bolsonaro não perde tempo. "Ele sempre volta às suas posições radicais. Não para governar, mas para mobilizar sua base".
Em seguida, o professor explicou que "depois que o Bolsonaro chegou ao poder, nós abandonamos nossa postura histórica com relação ao Oriente Médio, e que tinha se alinhado com o lado Palestino durante os anos de Lula e Dilma. Na minha visão, o Brasil é uma potencia média, sem grande prestígio, e portanto deveria tomar uma postura distante com relação a este tema".
O não reconhecimento em um Estado
Vinícius Guilherme Rodrigues entende que "o presidente não cita a Palestina porque ele não reconhece na Palestina o direito de ter seu próprio Estado. Um povo sem Estado não merece ser mencionado, não merece ter reconhecido os seus direitos, ou mesmo o fato de que eles também sofreram ataques nesta guerra assimétrica".
A questão da disparidade de poder entre os dois Estados em guerra também foi analisada pelo especialista. Segundo ele, a guerra é assimétrica porque "de um lado há um Estado constituído, com um Exército profissional, e do outro um território tentando se afirmar, com vários problemas históricos internos e externos".