Segundo Araújo, a mobilização para a aquisição de cloroquina foi uma determinação da pasta comandada à época pelo general Eduardo Pazuello, apesar de diversas pesquisas já terem demonstrado que o remédio não tem eficácia contra a COVID-19.
O depoimento de Araújo à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, que investiga ações e omissões do governo federal na pandemia, durou cerca de sete horas.
"O Itamaraty atuou na linha do que era pedido pelo Ministério da Saúde", afirmou o ex-ministro das Relações Exteriores.
O ex-chanceler também creditou ao Ministério da Saúde o acordo pelo menor quantitativo de doses de vacina disponível por meio do consórcio COVAX Facility.
Ele afirmou que foi Pazuello quem decidiu negociar tardiamente e reservar doses para apenas 10% da população. Havia a possibilidade de solicitar até 50% ao consórcio, iniciativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) para ajudar na distribuição de imunizantes.
Araújo também negou ter sido contra o ingresso do país no acordo: "Essa decisão não foi minha, não foi do Ministério das Relações Exteriores. Foi uma decisão do Ministério da Saúde, dentro da sua estratégia de vacinação".
Avaliação de senadores
As declarações do ex-ministro aumentaram as expectativas dos senadores para a oitiva de Pazuello, marcada para esta quarta-feira (19).
Os parlamentares de oposição afirmaram que o depoimento de Araújo será usado para questionar o ex-ministro.
"Vou fazer uma interpretação aqui do que aconteceu: primeiro, o grande responsável por tudo se chama Pazuello, que estará aqui amanhã. Ninguém fez nada neste governo. 'Foi o Pazuello', 'foi o ministro da Saúde'. Amanhã, ele vai ter que responder", disse o senador Humberto Costa (PT-PE).
Já o senador Randolfe Rodrigues, vice-presidente da CPI, disse que o depoimento de Araújo "compromete gravemente a participação, amanhã, do senhor Eduardo Pazuello".
Para o relator da comissão, Renan Calheiros (MDB-AL), o ex-chanceler enfatizou que todas as iniciativas da política externa ocorreram devido a decisões e à influência do Ministério da Saúde, "à exceção da importação da cloroquina, porque ele [Araújo] havia falado com o presidente [Jair Bolsonaro], e da viagem a Israel".
"Ao dizer isso, ele [Araújo] transfere o ônus da responsabilidade para o Ministério da Saúde e para o ex-ministro Pazuello, diretamente", afirmou Calheiros.
Pazuello na CPI
Pazuello foi o ministro da Saúde mais longevo do governo Bolsonaro. No cargo entre maio de 2020 e março de 2021, o general esteve à frente da pasta durante todo o período de negociações e corrida mundial por vacinas.
Um dos episódios mais graves da crise sanitária em sua gestão foi o colapso do sistema de saúde de Manaus (AM), em janeiro deste ano, com a falta de respiradores e a transferências de pacientes internados com COVID-19 para outras localidades.