Na próxima quinta-feira (20), governadores brasileiros devem se reunir com o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, para tratar do cronograma de entrega de insumos para produção de vacinas contra a COVID-19 ao Instituto Butantan e à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), de maneira a acelerar a campanha de vacinação no país, cujo ritmo atual ainda está longe do ideal.
Ao mesmo tempo, também está em discussão em Brasília a possibilidade de se enviar uma comitiva brasileira a Pequim para negociar a importação do imunizante produzido pelo laboratório chinês Sinopharm, que já teve seu uso emergencial aprovado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A ideia é defendida pela senadora Kátia Abreu, presidente da Comissão de Relações Exteriores (CRE), que afirma que, embora essa vacina já possa ser utilizada no Brasil, ela não tem sido privilegiada nas compras realizadas pelo governo brasileiro.
"Desde o ano passado, os governadores brasileiros têm buscado vacinas, têm buscado alternativas para vacinar seus estados. À medida em que as mortes em consequência da COVID-19 têm aumentado, evidentemente que essa preocupação também aumenta. E os governadores têm buscado alternativas. Já solicitaram encontro com a ONU, com o STF, procuraram já diferentes instituições para ter apoio na sua demanda", afirma a professora Ana Simão, coordenadora do curso de relações internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) de Porto Alegre.
Em entrevista à Sputnik Brasil, a especialista destaca que, devido à "morosidade" na vacinação, é justificável que a falta de insumos disponíveis no país preocupe os chefes dos Executivos estaduais. E essas preocupações também estariam associadas a "algumas falas governamentais que, ao invés de construir pontes, constroem alguns conflitos" e "desencontros diplomáticos", explica, se referindo a algumas tensões internacionais criadas pelo presidente Jair Bolsonaro, familiares ou outros membros do seu governo ao longo desses dois anos e cinco meses de governo.
"Por outro lado, a gente sabe e a China sabe que o Brasil é muito maior do que essas questões conjunturais. A relação Brasil-China já é uma relação robusta, é uma relação construída já há algumas décadas, a China é o principal parceiro econômico do Brasil, o Brasil é importante para a China. Então, evidentemente, isso também é um cenário que a gente deve considerar. Agora, se falas desencontradas, se falas que não constroem pontes, como acabei de falar, e, sim, produzem conflitos podem afetar [a relação bilateral], evidentemente que afetam."
Para Simão, não há motivos para acreditar que a China deixará de mandar os insumos para a produção de vacinas ao Brasil por conta de declarações polêmicas feitas por representantes do governo brasileiro. Mas "é claro que não há necessidade nenhuma de termos falas deselegantes com o principal parceiro econômico". E, nesse sentido, ela considera muito bem-vindas iniciativas de realizar encontros de alto nível entre autoridades dos dois países levando em conta esse contexto, como estão buscando os governadores.
"Então, nesse sentido, esperamos que os encontros políticos aconteçam e que pontes diplomáticas sejam construídas. E, evidentemente, essas pontes diplomáticas são feitas por diálogos e governadores de estados do Brasil são lideranças importantes para contribuir, evidentemente, juntamente com o Itamaraty, na construção de pontes."