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Como a parceria entre Brasil e Índia pode cooperar para o futuro da bioenergia?

Governo e empresários se reunirão com o embaixador da Índia na próxima semana para discutir o futuro da bioenergia. Diante de um planeta que clama por menos poluição, a Sputnik Brasil conversou com um professor da Escola Naval para compreender a importância deste encontro.
Sputnik

Diversas nações partilham o entendimento de que o mundo precisa mudar, pois a ação do homem acarretou em significantes transformações no ecossistema do planeta.

Enquanto acordos são assinados com vistas a reduzir a emissão de gases estufa, as principais economias correm contra o tempo em busca de energias limpas e combustíveis renováveis. 

Neste sentido, o Brasil encontra-se em uma posição de vanguarda, segundo o entendimento do professor Wellington Amorim, professor do Centro de Ciências Sociais da Escola Naval no Rio de Janeiro. Para ele, o país tem uma vantagem: seu programa de desenvolvimento de biocombustível.

Como a parceria entre Brasil e Índia pode cooperar para o futuro da bioenergia?

A viabilização do etanol como aditivo em combustíveis fósseis em escala global transformou o biocombustível em uma importante commodity. A relevância e evidência deste tema pautam o encontro de empresários brasileiros do setor de bioenergia e automotivo e de representantes do governo federal e da embaixada da Índia no dia 25 de maio.

O debate abordará como as novas tecnologias a partir de fontes renováveis podem contribuir para o desenvolvimento do setor automotivo. O professor Wellington Amorim apontou que o Brasil deve ficar atento a este tema, pois a Índia, dona da sexta economia no mundo, pode nos ajudar a exportar uma tecnologia que será fundamental para o futuro do planeta.

Etanol brasileiro na Índia

Ao comentar as possibilidades de futuros acordos com relação à tecnologia de biocombustíveis entre o Brasil e o governo indiano, Wellington Amorim disse que é preciso lembrar que "90% da matriz energética da Índia envolve petróleo, gás e carvão". Portanto, "o país sente uma necessidade de melhorar essa matriz, porque a essa tríade é responsável pela grande emissão de carbono na Índia", avaliou.

Como a parceria entre Brasil e Índia pode cooperar para o futuro da bioenergia?

Em seguida, Amorim avaliou que "a Índia tem compromissos internacionais para reduzir suas emissões de carbono, além dos gases poluentes". Ele ainda citou alguns acordos sobre o clima dos quais a Índia é signatária, enfatizando que o país compreende seu papel dentro das transformações necessárias que o planeta precisa enfrentar.

"No caso do etanol, a Índia enfrentou problemas, pois eles [combustíveis] são produzidos a partir de alimentos e insumos agrícolas. Então, há um dilema: ou você aumenta a produção de combustível, ou a de alimentos. No caso da Índia, a produção de etanol acontece a partir da cana de açúcar, e isso gerou um problema que se tornou um obstáculo. O açúcar tem um papel muito grande na nutrição da população indiana", explicou o intelectual.

As vantagens para o Brasil

Um dos maiores desafios nesta transição do combustível poluente para o limpo é o aumento em escala global da produção do biocombustível, uma vez que a maioria dos países produtores de cana ainda opta pela produção de açúcar, como a Índia, para fins alimentícios.

Para o Brasil, explicou Welliington Amorim, "isso é importante porque vai diminuir a oferta de açúcar, e com o aumento de preço, países como o Brasil tem muito a ganhar".

Ele ainda comentou que "o Brasil produz etanol a partir do bagaço da cana, então ele não troca a produção de álcool pela produção de alimentos. O Brasil tem a tecnologia para isso, então é isso o que está por trás dos acordos entre os empresários brasileiros e a Índia".

Como a parceria entre Brasil e Índia pode cooperar para o futuro da bioenergia?

Outro aspecto de que pode beneficiar o Brasil nesta parceria "é a questão da competição do mercado internacional de etanol. O fato do Brasil compartilhar essa tecnologia com a Índia torna mais fácil ainda o esforço brasileiro de compartilhar tecnologias com outros países, principalmente na África", onde Wellington Amorim avalia que há mercado e grande potencial para a economia nacional.

"Se o governo da Índia aceitou [a nossa tecnologia de biocombustível], significa que é de boa qualidade, como se fosse um selo. Isso ajudaria a exportação de tecnologia brasileira", enfatizou.

O professor ainda avaliou que, tratando-se de poluição causada pelos automóveis, o governo indiano é "considerado o mais eficiente em termos energéticos com relação ao transporte alternativo. Isso acontece devido aos carros pequenos que são utilizados no país, portanto mais econômicos".

Ele entende que com o advento de um combustível menos poluente, a Índia poderia antecipar as metas de seus acordos internacionais sobre o clima. "Isso pode ser também um exemplo para o Brasil, que também tem problemas de distribuição de renda, na medida em que se estimulasse a produção de carros econômicos e menores", disse Wellington Amorim.

O interesse da Índia no Brasil

Suresh K. Reddy, embaixador da Índia no Brasil, confirmou sua presença no encontro com empresários brasileiros e representantes do governo federal no próximo dia 25. Questionado pela Sputnik Brasil a respeito da presença do diplomata indiano no evento, Amorim explicou as razões pelas quais o governo de Narendra Modi olha com "carinho" para o Brasil nesta questão de transferência de tecnologia de biocombustível.

Como a parceria entre Brasil e Índia pode cooperar para o futuro da bioenergia?

"O uso de biocombustível no caso da Índia está em fase inicial, ao contrário do Brasil, cujo estágio é avançado. A meta que a Índia havia colocado para utilização de biocombustível era de 20% de etanol no petróleo, e 5% diesel no biodiesel. Isso estava previsto para 2030. Mas deve ser antecipado, possivelmente para 2025", explicou.

O professor disse que a Índia é um país muito poluente, e que dado ao tamanho de sua frota de carros circulando pelas cidades, essas medidas (uso de biocombustível) podem contribuir para reduzir a emissão de gases estufa de modo imediato".

Além disso, ele apontou outra importante questão: "A adoção de biocombustível ajuda também a economia do país, pois reduziria a dependência das exportações de petróleo".

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