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'Não há dúvida de uma retomada econômica no Brasil, embora muito tímida', avalia economista

O Banco Morgan Stanley afirmou que o Brasil está apresentando fracos sinais de recuperação econômica, apesar de determinados indicadores demonstrarem perspectivas otimistas.
Sputnik

Sobre esse assunto vamos conversar com o economista Istvan Kasznar, professor de economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV) do Rio de Janeiro e da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas.

Segundo ele, a recuperação da economia brasileira em 2021, após o lockdown de 2020, da paralisia de inúmeras atividades naquele ano, este ano de 2021 já reporta mais atividades, com retomadas, só com lockdowns parciais com apenas algumas atividades mais prejudicadas do que outras.

"Então, praticamente ocorreu um consenso no sentido de buscar a produção, de voltar ao emprego. Isso não significa que tenha sido essencial sobretudo no setor de serviços, pois uma enorme quantidade de pessoas deixaram de se dirigir a escritórios, em prédios centrais das grandes metrópoles do Brasil, para permanecer em casa. O home office se tornou algo institucionalizado e a produção foi se recuperando", avaliou o especialista.

Em relação às taxas de recuperação, Kasznar declarou que é difícil acertar, pois "ninguém tem uma bola de cristal", mas que não há dúvida de que a retomada, embora ainda muito tímida, já dá ares firmeza. "Ou seja, o fundo do poço já acabou, agora é ascensão, agora é retomada, agora é melhoria".

"Isso não significa que os indicadores de eliminação da taxa de desemprego permanecerão muito bons. O desemprego é estrutural, infelizmente veio para ficar. Então é esperar taxas de crescimento na linha do que nós vemos no boletim Focus do Banco Central, onde se agregam as opiniões de cem instituições renomadas do mercado financeiro mostrando uma taxa de recuperação do PIB para este ano perto dos 3,2% a 3,5% faz bastante sentido", avaliou Kasznar.

Recuperação da economia em 2021

André Lores, economista-chefe para a América Latina do Banco Morgan Stanley, disse recentemente em entrevista ao Valor Econômico que a economia brasileira vai se recuperar este ano, mas ressalta que os sinais são muito frágeis e que poderia indicar um falso positivo em torno dessa recuperação.

Kasznar avaliou que a afirmação faz sentido se for pensar em projeções precaucionais, porque não há uma projeção acertada, logo a probabilidade de criar um erro é bastante elevada, com a busca de um número um pouco mais módico.

"Dentro da ótica de um banco norte-americano que está escaldado com a história brasileira recente, que conhece o regime de imperfeições de mercado, que domina muito claramente as incertezas que existem aqui e no mundo de hoje, as projeções [do economista-chefe, Andre] fazem sentido. Agora, é claro que ele pode revisar em algum momento essas projeções trimestrais, seja para mais seja para menos, dependendo dos choques econômicos que teremos", disse o especialista.

Outro fato é que a população brasileira está bastante endividada, um quadro no qual mais de 64% dos lares brasileiros possuem dívidas, créditos a pagar para o sistema bancário, segundo Kasznar. "Então isso vai tornando mais lenta a retomada, precisa-se sanear o orçamento doméstico, melhorar o crédito para pequenas e microempresas, facilitar o crédito corporativo para as grandes empresas. Esse elemento mostra que existe uma grande disturbância no momento e a incerteza está muito elevada".

Projeções de crescimento da economia

"Nossa preocupação é sobretudo olhar para o tripé crescimento econômico: evolução do Produto Interno Bruto, formação de reservas internacionais e taxa de inflação. O que podemos notar é que há uma ligeira retomada da economia, nossas projeções estão muito próximas de 3,4% para o ano, até dezembro, uma ligeira constante e estabilidade na formação das reservas internacionais com razoável possibilidade da taxa de câmbio se manter bem próximas dos R$ 5,50, R$ 5,70 por dólar e uma taxa de inflação que repica lentamente, que vai ficar um pouco fora da meta do Banco Central", avaliou o cenário de crescimento econômico o especialista.

'Não há dúvida de uma retomada econômica no Brasil, embora muito tímida', avalia economista

Para Kasznar, em que pese o aumento das commodities, naturalmente com mais aquecimento da economia da China, muito provavelmente o Brasil reencontrará o caminho para reequilibrar os preços destas mercadorias essenciais, como soja, milho, feijão, trigo, aveia e outros na linha de carne bovina.

"Filé mignon vai para a China, vai para países ricos, e aqui no Brasil o povo ralando à busca dos ossos. Então é claro que isso é consequência deste desmando mundial, desta pandemia, mas a autoridade pública está de olho, está atenta, e tem condições sim de recuperar a economia, de combater a inflação e de fazer que as reservas internacionais venham a ser retomadas", avaliou Kasznar.

Ritmo de vacinação e crescimento econômico

O economista afirmou que o ministro da Fazenda, Paulo Guedes, foi enfático ao afirmar que vacinar é fundamental, que mais vacinas realizadas tornam a população muito mais saudável e muito menos afeita à geração de doenças, ao aumento da taxa de mortalidade e ao absenteísmo do trabalho.

"Desse ponto de vista vacinar é essencial, absolutamente fundamental e necessário. Uma baixa taxa de vacinação não facilita a retomada do crescimento econômico, a observar que o Brasil já no final deste mês de maio de 2021 terá aproximadamente entre 20% a 22% da sua população vacinada, mas para criar o efeito manada necessitamos de 70% da população", disse.

Kasznar explicou que quanto mais o Brasil conseguir fechar contratos de longo prazo melhor será, pois não se trata de receber vacinas para uma ocasião, mas sim que será preciso regularmente vacinar a população e chegar pelo menos menos aos 70% de vacinados.

"O fato é que o Brasil já há mais de quatro décadas está entre as dez maiores economias do mundo, então somos vistos por uns como aliados, mas por outros como ameaça, porque temos a capacidade de concorrer na exportação agropecuária, na agroindústria, na indústria propriamente dita, na geração de serviços e assim por diante. O Brasil precisa organizar-se mais, planejar melhor, reduzir esses indicadores políticos de ódio interpartidário e fazer com que se molde um eixo de entendimento de ordem maior a favor de todos os brasileiros", declarou o economista

Kasznar finalizou dizendo que acredita que o país vai encontrar seu caminho, porque é viável, muito embora este seja um momento particularmente difícil para todo o povo.

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