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Brasil tem aumento nos acessos de banda larga, mas 'acessibilidade ainda é ruim', diz especialista

Um relatório da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), divulgado na última terça-feira (25), mostrou que o Brasil terminou 2020 com um aumento de 10,26% no acesso de banda larga, registrando um total de 36,3 milhões de acessos.
Sputnik

De acordo com a Anatel, o grande aumento dos acessos à Internet de banda larga teve como principal razão a eclosão da pandemia da COVID-19, que gerou grande demanda dos serviços no primeiro semestre da adoção do isolamento social.

O engenheiro e professor do Laboratório de Comunicação de Dados da Escola de Engenharia da UFF, Luiz Claudio Schara Magalhães, em entrevista à Sputnik Brasil, comentou que a importância das telecomunicações e da Internet, em particular, aumentou muito durante a pandemia, reforçando determinadas tendências que já vinham acontecendo no mundo.

De acordo com ele, apesar da maior parte dos usuários usar a Internet móvel, com celular de banda larga, o acesso cabeado é mais confiável, tem mais banda e mais estabilidade, mas tem o problema de ser mais caro e mais complicado de instalar, porque requer instalação de infra-estrutura, requer a ligação de cabos na casa do usuário final.

"O Brasil, pelas dimensões continentais e pela distribuição desigual da população, tem um desafio grande para a banda larga cabeada, porque ela tende a ser mais lucrativa nas grandes cidades. Quando temos as áreas rurais, onde os usuários estão espalhados em grandes áreas, fica muito caro levar infraestrutura física para cada um desses usuários, e as operadoras tendem a se concentrar nos mercados que têm maior lucro, que são novamente as grandes cidades", explicou.

Um dos dados destacados no relatório da Anatel mostrou que as Prestadoras de Pequeno Porte (PPP) "assumiram protagonismo" na prestação de serviços de banda larga, sendo responsáveis por mais de 14,2 milhões de acessos de banda larga no Brasil, considerando os dados de dezembro de 2020. Este número representa 39,32% do total. Em 2019, este índice era de 31,3%.

O especialista em telecomunicações, Luiz Claudio Schara Magalhães, observou que o crescimento de pequenos provedores acontece porque "eles conseguem trabalhar em uma infraestrutura mais enxuta e atender esses lugares onde os grandes não trabalham".

​De acordo com ele, de uma forma geral, a acessibilidade no Brasil não é muito boa. O especialista observou que a situação brasileira é melhor do que a dos vizinhos da América do Sul, mas "em termos mundiais a acessibilidade no Brasil ainda é ruim".

"Por incrível que pareça, os problemas do Brasil são parecidos com os dos EUA, por exemplo, que é um país grande com melhor distribuição populacional que a nossa. A distribuição populacional dos EUA é mais homogênea, ou seja, cria mais mercados de médio porte do que o Brasil, que tende a ter vários mercados de grande porte e milhares mercados de pequeno porte", afirmou.

"No Brasil temos vantagens, temos universidades que fazem pesquisas, que conhecem a realidade brasileira e têm soluções. A gente tem soluções que são baratas e foram desenvolvidas para as características do Brasil, que é completamente diferente, por exemplo, da Europa ou da Coreia do Sul, onde você tem uma densidade populacional muito grande", complementou.

O especialista destacou também que, com as necessidades provocadas pela pandemia, o "crescimento da parte de acesso sem fio, a quantidade de dados trafegados pela rede aumentou muito mais do que esses 10% do número de conexões que foram feitos à rede cabeada".

"Eu acredito, na verdade, que isto esteja traduzindo essa necessidade óbvia, principalmente dos negócios, de se realinhar com essa falta de contato, com o isolamento social durante a pandemia. E isso se traduziu no maior consumo de banda e de uma maior necessidade de colocar o seu negócio na Internet para poder sobreviver", completou.

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