Estudo sugere que gravidade da COVID-19 pode estar ligada a níveis de testosterona em homens

Homens com baixos níveis de testosterona podem ter maior probabilidade de desenvolver COVID-19 grave, sugere novo estudo. Foram observados 162 pacientes entre homens e mulheres.
Sputnik

Análises anteriores descobriram que os homens tendem a desenvolver COVID-19 mais grave em comparação com as mulheres, mas não ficou claro o porquê. Uma teoria afirmava que níveis elevados de testosterona podiam fazer com que pessoas do sexo masculino tivessem sintomas mais graves do que pessoas do sexo feminino infectadas pelo vírus, mas as descobertas, publicadas na terça-feira (25) na revista JAMA Network Open, refutam essa hipótese.

Em média, os homens produzem níveis muito mais elevados de testosterona do que as mulheres. Para entender a relação entre a testosterona e a gravidade da COVID-19, os pesquisadores coletaram amostras de sangue de 152 pessoas sendo 90 homens e 62 mulheres que visitaram o Hospital Barnes-Jewish em St. Louis, em Washington, nos EUA, com sintomas de COVID-19 e que posteriormente testaram positivo para o vírus.

Desses pacientes, 143 foram internados no hospital. Os pesquisadores coletaram amostras de sangue dos pacientes que ainda estavam hospitalizados nos dias terceiro, sétimo, 14º e 28º. Os pesquisadores então mediram os níveis de testosterona dos pacientes, uma forma de estrogênio conhecida como estradiol e um hormônio de crescimento conhecido como fator de crescimento semelhante à insulina-1, o IGF-1.

Nas mulheres, não houve ligação entre a gravidade da infecção e os níveis de qualquer um dos hormônios medidos. Nos homens, os níveis de IGF-1 e estrogênio não predizem a gravidade da doença, mas os níveis de testosterona sim.

Estudo sugere que gravidade da COVID-19 pode estar ligada a níveis de testosterona em homens

Quando internados no hospital, os homens com SARS-CoV-2 grave tinham um nível médio de testosterona de 52 nanogramas por decilitro (250 nanogramas por decilitro ou menos correspondem a níveis baixos de testosterona em homens adultos), enquanto aqueles com doença menos grave tinham uma média de 151 nanogramas por decilitro de testosterona. Os pesquisadores controlaram outros fatores de risco conhecidos de COVID-19 grave, incluindo idade, índice de massa corporal, comorbidades, tabagismo e etnia.

No terceiro dia de hospitalização, o nível médio de testosterona de homens com COVID-19 grave caiu para 19 nanogramas por decilitro. Ao todo, 37 pacientes morreram durante o estudo, 25 eram homens. Níveis mais baixos de testosterona em homens também foram associados a níveis mais altos de inflamação no corpo.

"Aqueles homens com COVID-19 que não estavam gravemente doentes no início, mas tinham baixos níveis de testosterona, provavelmente precisarão de cuidados intensivos ou intubação nos próximos dois ou três dias", concluiu o autor principal dr. Sandeep Dhindsa, endocrinologista da Universidade de Saint Louis.

"Os níveis mais baixos de testosterona parecem prever quais pacientes provavelmente ficarão muito doentes nos próximos dias."

A equipe também descobriu que, em homens com níveis mais baixos de testosterona, certos genes foram ativados que tornaram mais fácil para o corpo usar o hormônio. Mas os pesquisadores ainda não sabem quais são as implicações dessa adaptação para o corpo e para a gravidade da doença.

Os pesquisadores ainda não sabem se os níveis de testosterona caem devido à COVID-19 grave ou se níveis mais baixos de testosterona causam os sintomas mais graves em primeiro lugar, já que os médicos não mediram os níveis de testosterona nesses pacientes antes de sua doença.

Mas também é possível que os homens que desenvolveram a COVID-19 grave tivessem níveis de testosterona abaixo da média antes da doença, o que pode ter resultado em diminuição da massa e força muscular e, portanto, menor capacidade pulmonar e maior risco de exigir ventilação, sugeriram.

Os dados sugerem que "cuidado deve ser praticado" com tratamentos de terapia hormonal que reduzem os níveis de testosterona ou aumentam os níveis de estrogênio para homens com COVID-19. Agora, os autores do estudo esperam investigar se há uma ligação entre os hormônios sexuais e problemas cardiovasculares em pessoas que desenvolvem sintomas persistentes de COVID-19, também conhecido como "COVID-19 longa".

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