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Gonzalo Vecina: 'Maior dificuldade que Fiocruz enfrenta é ser um órgão do Estado brasileiro'

A principal instituição do Brasil quando se fala sobre vacinação, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), completa 121 anos nesta quarta-feira (26). A produção de imunizantes contra a COVID-19 em parceria com a farmacêutica Astrazeneca tem enfrentado desafios, em um momento de ainda escassez de vacinas no país.
Sputnik

Mas será que a instituição poderia ter um papel maior no Plano Nacional de Imunização contra a COVID-19? Para comentar sobre o assunto, a Sputnik Brasil conversou com Gonzalo Vecina, médico sanitarista, fundador e primeiro diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa.

Ele acredita que a maior dificuldade que a Fiocruz enfrenta hoje para deslanchar na produção da vacina contra a COVID-19 se deve ao fato dela ser um órgão do Estado brasileiro, o qual não tem uma política pública na área de produção de imunobiológicos.

"Então o que a Fiocruz conseguiu fazer até agora foi tomando decisões locais. Falta à Fiocruz um projeto de política que permita a ela se desenvolva como uma instituição pública produtora de imunobiológicos e de outros produtos nessa área da biotecnologia para o Brasil. Aliás, esse é o problema da biotecnologia no Brasil: falta uma política pública", declarou Vecina.

Segundo ele, o que a Fiocruz está conseguindo fazer, faz andando com as próprias pernas, mas como órgão estatal ela tem limitações evidentes nesse caminhar. "Sem sombra de dúvida a instituição Fiocruz poderia ter um papel muito maior na vacinação contra a COVID-19".

"Eu acho que nós teríamos que garantir que políticas públicas tivessem um impulso maior, não só a Fiocruz, o Instituto Butantan, a Fundação Ataulpho de Paiva, a fundação Ezequiel Dias em Minas Gerais, o Instituto Vital Brasil no Rio, a Tecpar, do Instituto de Tecnologia do Paraná. Eles são braços de nosso sistema de produção de biotecnologia", comentou o especialista.

Ele lembrou o fato de o Brasil ter também as indústrias privadas, com cinco ou seis grandes indústrias nacionais, de capital nacional, que são produtoras de biotecnologia, que poderiam estar dentro de uma política pública com capacidade inclusive de exportar, mas falta definições que garantam que se tenha uma maior sinergia da produção interna e no abastecimento do mercado internacional.

Fiocruz x Butantan

Em relação à Fiocruz e o Instituto Butantã, Vecina acredita não existir uma disputa entre os dois órgãos, pois o Brasil tem tão pouca atividade na área de biotecnologia que eles deveriam ser complementares, mas infelizmente falta uma política pública para criá-los como órgãos complementares e não como órgãos competidores.

Gonzalo Vecina: 'Maior dificuldade que Fiocruz enfrenta é ser um órgão do Estado brasileiro'
"Não dá para entender num país desse tamanho duas instituições únicas serem competidoras, elas deveriam ser complementares, criando uma rede de instituições que conseguisse tornar o Brasil autossuficiente na área da biotecnologia e com capacidade de exportar. Então não se trata de competir, se trata de criar sinergias, esse esse é o grande desafio entre Fiocruz e Butantan", avaliou o fundador da Anvisa.

E, para ele, essa sinergia deveria se estender para outras empresas públicas, como os mencionados Instituto de Tecnologia do Paraná, Fundação Ezequiel Dias, Instituto Vital Brazil, Gundação Ataulpho de Paiva e as instituições privadas, indústrias farmacêuticas nacionais que estão entrando no campo da biotecnologia.

O maior gargalo para a Fiocruz e estas instituições, de acordo com Vecina, é a falta de uma política pública que garanta que os esforços terão resultados e consequências, tanto na coordenação dos esforços como no consumo interno e na exportação.

"É preciso garantir que o consumo ocorrerá. Quem é que que dita essa política pública: o Ministério da Saúde, o Ministério da Ciência e Tecnologia, o Ministério da Indústria e Comércio. Isso tudo é uma articulação complexa que tem que existir entre órgãos do Estado para que exista mercado, para que exista uma política que garanta que eu possa exportar, uma política de proteção, uma política de estímulo, que faça a junção universidade-estado-empresa privada", finalizou o especialista.
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