Apresentada por países árabes, a resolução foi aprovada com 83 votos a favor, recebendo 14 votos contrários. 39 países decidiram se abster.
O projeto recebeu votos contra de países como Brasil, EUA, Israel, Austrália, Áustria, Reino Unido e Hungria. A delegação de Israel declarou que, "ao votar contra a resolução, esses países reconheceram que a politização precisa acabar".
O professor de Relações Internacionais da UFRJ, Fernando Brancoli, em entrevista à Sputnik Brasil, destacou que a decisão do governo Bolsonaro não surpreende, por conta da posição de apoio unilateral a Israel que vem adotando, mas representa uma ruptura do ponto de vista histórico da diplomacia brasileira.
"Surpreende do ponto de vista histórico quando a gente olha a longa duração do que seria a diplomacia brasileira para a questão da Palestina e de Israel, mas no governo Bolsonaro não chama atenção, não foge do que a gente esperava do governo", afirmou.
O especialista lembrou que o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, foi o primeiro mandatário a visitar o Brasil após a vitória de Bolsonaro nas eleições de 2018, visitando antes mesmo da posse do presidente. Brancoli observou que o Brasil tem adotado uma "posição unilateral completa em relação a Israel" desde então.
Ele destacou que o Brasil tradicionalmente sempre manteve uma lógica de neutralidade, com tendências para um lado ou para outro, mas Bolsonaro teria assumido as práticas unilaterais em relação a Israel como um dos pilares de sua política externa.
"É o esperado, mas é óbvio que vai ter impacto, vai ter repercussão por muitos anos, independente se o Bolsonaro sair ano que vem, isso não se apaga assim. Então chama atenção e vai marcar o comportamento diplomático do Brasil durante décadas ainda com essa decisão", declarou.
Ao comentar se a posição do Brasil em relação ao Oriente Médio pode deixar o Brasil mais isolado no cenário internacional, o professor de Relações Internacionais afirmou que esta postura da diplomacia brasileira "reforça um isolamento que já existe".
"Eu não acho que a decisão vai provocar isolamento, o Brasil já é um país isolado, em razão desse e de outros posicionamentos anteriores, quando a gente pensa em pandemia, quando a gente pensa a relação com os EUA, a relação com a China, então eu gosto de ver como mais um componente em um processo de isolamento", destacou Brancoli.
"Eu gosto de reforçar que independente do que aconteça em 2022 isso não vai mudar. Isso é uma marca para a política externa e eu acho que vai demorar um pouco para, caso tenhamos um governo diferente, transformar a maneira como a gente se comporta, como a gente é visto internacionalmente", acrescentou.
Fernando Brancoli também comentou a justificativa usada para o voto contra a resolução, de que a Assembleia Mundial da Saúde não seria a plataforma adequada para lidar com a tensão entre Israel e Palestina.
De acordo com ele, o órgão da OMS é "claramente, do ponto de vista legal, do ponto de vista instrumental, capaz de lidar com essas questões, mas os votos, as decisões, não são técnicas, são obviamente políticas".
"Não só a Assembleia Mundial da Saúde, mas uma série de instrumentos ou organizações ligadas às Nações Unidas têm possibilidades de atuar e são bloqueados por Israel. O argumento pode ser técnico, mas a gente sabe que no final das contas a razão é política, é vista como uma movimentação para Israel de apoio aos palestinos, parte da ação israelense se dá no isolamento dos palestinos", completou.