Considerado um programa estratégico, com contrato assinado em 2014 por R$ 7,2 bilhões, junto à Embraer, a FAB pretendia adquirir 28 aeronaves do tipo. Agora, a encomenda pode passar para menos de 20 unidades, segundo reportagem da Folha de S. Paulo.
A decisão de rever o contrato, segundo a Força Aérea, estaria ligada a restrições orçamentárias.
"A crise sanitária que o mundo vem enfrentando desde o fim de 2019 tem provocado reflexos na conjuntura econômica global, com impactos também na situação fiscal e orçamentária brasileira. Como consequência, os recursos destinados ao setor de defesa vêm sofrendo restrições que causam limitações diretas nos projetos estratégicos das Forças Armadas", disse a Força Aérea Brasileira por meio de nota. "Nesse contexto, a Força Aérea Brasileira, mantendo seu compromisso com as metas orçamentárias e em consonância com o cenário atual, decidiu rever os caminhos a serem seguidos na continuidade do contrato de produção da aeronave KC-390 com a Embraer."
De acordo com a FAB, a aquisição de 28 aeronaves, além de ser superior à sua realidade orçamentária atual em termos de aquisição, também extrapola no que diz respeito ao suporte logístico necessário ao longo do tempo.
"Desde o início de sua operação, a frota de aeronaves KC-390 vem apresentando excepcionais índices de disponibilidade e despachabilidade, resultando em uma capacidade muito superior em volume e agilidade no transporte de cargas e pessoal, fatores observados com sucesso durante as diversas missões realizadas ao longo de 2020 e 2021."
Desenvolvido nos últimos anos, o KC-390 Millennium foi escolhido pela FAB para substituir os C-130 Hercules, fabricados pela Lockheed Martin. E a incorporação de 28 aeronaves do tipo "resolveria o problema logístico" da força, conforme explica em entrevista à Sputnik Brasil o professor de relações internacionais Ricardo Cabral, pesquisador especialista em assuntos militares e de Defesa.
"Você teria as aeronaves distribuídas pelo país e resolveria um gargalo logístico, que é o de transporte de carga aérea em velocidade rápida. Isso seria excelente", afirma.
Apesar de a aquisição dessas aeronaves, mesmo em menor número, representar uma grande vantagem em relação aos C-130 Hercules, essa redução, na opinião do professor, "vai criar um problema" para a FAB por não atingir a quantidade ideal e necessária.
"Um corte de tamanho vulto no programa é realmente um baque. Vai prejudicar bastante as tarefas logísticas desenvolvidas pela FAB e o apoio que a FAB presta às outras forças."
Até o momento, quatro aviões foram entregues à Força Aérea Brasileira pela Embraer. De acordo com a Folha, a FAB propõe uma repactuação para que sejam entregues dois aviões por ano, com o número total podendo ser reduzido para até 16 unidades.
"A FAB já deve ter feito a adequação do planejamento. Agora, lembro: se você não tem um avião militar que opera muito mais barato, em escala, e você ter uma série de custos reduzidos, isso não se dá quando você é obrigado a recorrer às empresas aéreas de transporte civil, onde você paga pela carga, pelo transporte aéreo, muito mais caro. Então, é uma decisão difícil de ser tomada."