Final da Champions leva milhares de torcedores e turistas britânicos ao Porto, mas também há riscos

Milhares de torcedores britânicos já invadem a cidade do Porto, que recebe, neste sábado (29), a final da Liga dos Campeões da UEFA, entre Manchester City e Chelsea. O evento reacende o turismo no norte de Portugal, mas também leva problemas como brigas entre torcidas e risco de aglomerações.
Sputnik

Só nesta sexta-feira (28) chegam 27 voos do Reino Unido no Aeroporto do Porto. Para o dia do jogo, estão previstos mais 80 voos charter, que levarão a maioria dos 16.500 torcedores que assistirão ao jogo no Estádio do Dragão. De acordo com o planejamento das autoridades portuguesas, eles seguirão de ônibus direto para o local da partida. Devem retornar ao país de origem no mesmo dia ou em até 24 horas para evitar aglomerações.

No entanto, os britânicos já furaram a bola de segurança e provocaram tumultos e brigas na noite desta quinta-feira (26) e na tarde desta sexta (27). Pelo menos dois confrontos foram registrados entre torcedores. No mais grave, próximo à Estação de São Bento, um torcedor foi levado ao hospital com ferimentos na cabeça após o arremesso de garrafas e cadeiras. Na outra briga, a Polícia de Segurança Pública (PSP) conseguiu intervir a tempo na Praça da Ribeira, onde centenas de britânicos passam o dia bebendo em bares e quiosques. 

Final da Champions leva milhares de torcedores e turistas britânicos ao Porto, mas também há riscos

Em entrevista à Sputnik Brasil, Luís Pedro Martins, presidente da Autoridade de Turismo do Porto e da Região Norte minimiza a violência dos incidentes. Para ele, os riscos existiam a partir do momento em que a cidade aceitou receber a final, mas os episódios de confusão seriam isolados.

"Os acontecimentos de ontem [quinta (27)] foram pontuais, rapidamente resolvidos. Não são a regra. A regra tem sido uma grande festa tranquila. O que se vê na Ribeira do Porto é muita animação, com os adeptos [torcedores] bem divertidos. Alguns exageram, um tentou dar um mergulho no rio, mas a polícia não deixou e o retirou de imediato. As autoridades estão a fazer uma vigilância muito ativa", assegura Martins. 

O presidente da entidade regional de turismo acredita que a final da Champions ajude a viabilizar o renascimento das atividades turísticas no verão europeu que se aproxima. Os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatísticas (INE) mostram que, no primeiro trimestre deste ano, verificou-se uma redução de 80% das dormidas totais em alojamentos turísticos, resultante de variações de -59,3% dos residentes e de -90,0% dos não residentes. 

Alojamentos turísticos com 76% de taxa de ocupação

A região Norte, onde se localiza o Porto, teve uma taxa de -75,2% no número de dormidas, resultado menos ruim apenas do que os da Área Metropolitana de Lisboa (-82,2%), a Região Autônoma da Madeira (-85,3%) e o Algarve (-86,5%). Por isso, a esperança de Martins é de que a final da Champions traga bons ventos. Segundo ele, a taxa de ocupação já é de 76% nos alojamentos turísticos devido ao evento, além do impacto positivo em outros setores da economia.

"É algo extraordinário! Há cerca de um ano não vivíamos esse momento, entre a hotelaria, Airbnb e apartamentos.Também há retorno econômico para os restaurantes, animação turística, transportes, comércio. Em linguagem futebolística, isso é um pontapé de saída para uma nova fase. Na verdade, temos que agarrar essa oportunidade, mas ainda há passos a dar", comemora.
Final da Champions leva milhares de torcedores e turistas britânicos ao Porto, mas também há riscos

A empolgação dele não é apenas com o jogo e com a ocupação dos alojamentos turísticos, já que a maioria dos britânicos dormirá apenas uma noite no Porto. Mas se trata principalmente da projeção internacional que a cidade vai ter com o evento. Segundo ele, 500 jornalistas de 90 países vão cobrir o jogo, que será transmitido para 110 canais de televisão de todo o mundo.

"Trouxe-nos outra oportunidade que é um retorno enorme de comunicação e promoção. Estamos a falar de um dos maiores eventos do mundo", vibra.

Ele acredita que o jogo seja um chamariz para que os torcedores possam conhecer a cidade, que não está entre os destinos portugueses favoritos dos britânicos. A maioria prefere as praias do Algarve. De acordo com Martins, apesar de o Reino Unido ser a principal origem dos turistas estrangeiros em Portugal, na região Norte, eles ocupam apenas a quinta posição. 

"Temos uma grande oportunidade de fazer crescer esse mercado. Muitos adeptos dizem que encontraram uma cidade fantástica e vão querer repetir a experiência em família e não em grupos de amigos, como estão a fazer nesse momento. Tenho quase certeza absoluta de que vamos ter um resultado muito positivo já neste verão por causa da Champions", aposta.

O dirigente também torce para que os brasileiros estejam na lista de turistas de países autorizados a entrar em Portugal com o Certificado COVID-19 da União Europeia. O documento, que deve entrar em vigor até julho, permitirá viagens turísticas de pessoas que estejam com a vacinação completa, comprovem imunidade por terem se recuperado da doença ou apresentem teste RT-PCR negativo. 

Mercado brasileiro é o terceiro na região Norte de Portugal

Isso porque o Brasil é o terceiro mercado turístico do Porto e na região Norte, atrás apenas da Espanha e da França, em primeiro e segundo, respectivamente. Na quarta posição, figuram a Alemanha. Só em quinto, aparece o Reino Unido. 

"Para nós, o Brasil importa bastante. Os apelos da região vão muito ao encontro do que os brasileiros gostam, como gastronomia, vinhos, paisagens, cultura e patrimônio. Estamos desejosos que possam voltar a visitar-nos, pois fazem parte do nosso top 3 e em constante crescimento. É difícil destronar o mercado brasileiro", avalia.

Questionado pela Sputnik Brasil sobre os riscos de transmissão do SARS-CoV-2 devido às aglomerações que devem se formar não apenas no estádio, mas também nas duas fanzones montadas em diferentes pontos da cidade para os torcedores do Manchester e do Chelsea que não tiverem ingressos, Martins aposta no percentual elevado de britânicos vacinados. Cada arena terá capacidade para receber até seis mil pessoas, com telões para transmitir a partida. 

Final da Champions leva milhares de torcedores e turistas britânicos ao Porto, mas também há riscos

No entanto, apesar de o Reino Unido já ter cerca de 35% de sua população completamente vacinada, e quase 56% já terem tomado a primeira dose, não há garantia científica de que pessoas imunizadas não transmitam o vírus. Ele relativiza dizendo que, desde que se decidiu fazer a final, já se sabia que havia riscos associados

"Já que eles têm que vir obrigatoriamente com o teste PCR negativo, diria que o risco é tanto para nós quanto para eles, porque o vírus vem tanto de fora quanto de dentro. Em conversa numa mesa de mais de 20 adeptos, apenas três não tinham sido vacinados. Mas dizer que não há risco nenhum, é impossível e completamente ingênuo", reconhece.

Médico alerta para risco da variante indiana vinda do Reino Unido

Já o epidemiologista Ricardo Mexia, presidente da Associação, presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública de Portugal, alerta para os riscos de o evento tomar proporções similares às das comemorações do título do Sporting, que estava há 19 anos sem ser campeão português de futebol. 

Na penúltima rodada do campeonato, milhares de torcedores se reuniram em frente ao Estádio de Alvalade, onde a equipe da casa venceu o Marítimo por 2 a 0 e assegurou o título. Do lado de fora, muitas pessoas não usavam máscaras nem respeitavam o distanciamento social, além de terem entrado em confronto com a polícia. Atribui-se a esse episódio parte da responsabilidade pelo aumento do R(t), índice de transmissibilidade do vírus, para 1,14 em Lisboa.

"Acho que o risco é semelhante ao que aconteceu com os festejos do Sporting. Haverá o surgimento de algumas cadeias de transmissão. Aqui, a questão complexa é até que ponto o público vindo de Inglaterra poderá ser um risco aumentado, por exemplo da chamada variante indiana", diz Mexia à Sputnik Brasil.

Pelo menos três países já proibiram a entrada de pessoas vindas do Reino Unido devido à presença da variante indiana do novo coronavírus em 7,7% dos 127 mil casos confirmados no país entre 15 de abril e 3 de maio. Alemanha, Áustria e França fecharam suas portas recentemente a viajantes oriundos do Reino Unido, à exceção de cidadãos alemães, austríacos e franceses, respectivamente, que estejam retornando a seus países de origem.

Enquanto isso, Portugal reabriu aos turistas britânicos no dia 17 de maio, apesar de a cepa britânica continuar predominante em territórios lusitanos, com uma frequência relativa de 91,2% na amostragem de abril, ainda em uma trajetória ascendente, uma vez que representava 82,9% no levantamento anterior.

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