Naftali Bennett, novo primeiro-ministro de Israel, teve seu primeiro desafio na terça-feira (15).
Após a decisão de permitir que os conservadores israelenses realizassem a controversa Marcha da Bandeira em Jerusalém, onde milhares de judeus percorriam a cidade, incluindo seus bairros muçulmanos, o Hamas, que controla a Faixa de Gaza, enviou dezenas de balões incendiários para Israel, que causaram 26 incêndios nas comunidades do sul do país.
Em resposta, Bennett deu uma aprovação para retaliar, com as Forças de Defesa de Israel (FDI) atingindo múltiplos alvos na Faixa de Gaza.
Os parceiros de coalizão, incluindo os de partidos com ideologias opostas, deixaram passar essa ação, mas muitos especialistas políticos em Israel estão preocupados que essa "harmonia conjugal" não dure muito tempo.
Ideologias opostas sob um mesmo teto
Bennett tem todos os motivos para se preocupar com a estabilidade da união. Sua atual coalizão é composta por oito partidos, onde pelo menos dois deles (o Meretz, de esquerda, e o Raam, dos árabes) não veem com bons olhos o Yamina, aliança de partidos de direita israelenses, que atualmente inclui somente o Hayamin Hehadash, dirigido pelo próprio premiê, em muitas questões de segurança, incluindo o conflito israelo-palestino.
Conhecido por seus pontos de vista combativos sobre a questão de Jerusalém, que ele se recusa a compartilhar com os palestinos, ou a questão dos assentamentos judeus na Cisjordânia, Bennett precisará encontrar um compromisso com Meretz e Raam, que veem as ações israelenses como agressivas.
Os parceiros da coalizão também terão dificuldade para chegar a um acordo sobre a questão dos direitos LGBT, sobre a capacidade do Judiciário de interferir nos assuntos políticos de Israel e sobre assuntos relativos à religião e ao Estado, como a conversão ao judaísmo, o casamento e a imigração.
Questão financeira
A distribuição de fundos pode se tornar mais um ponto de fricção. Segundo o acordo de coalizão, Raam, um partido islâmico com supostos laços com o movimento Irmandade Muçulmana (organização considerada terrorista na Rússia e em vários outros países), receberia quase US$ 13 bilhões (R$ 65,13 bilhões) ao longo de cinco anos.
Esse fluxo de dinheiro deveria resolver os problemas agudos da comunidade árabe, incluindo a violência, o tráfico de drogas e armas ilícitas, altos índices de desemprego do setor, combate à pobreza e integrar essa população na sociedade israelense.
No entanto, Israel possuía um déficit público de US$ 50,4 bilhões (R$ 252,52 bilhões) no início de 2021, seu maior valor absoluto na história do país, ao mesmo tempo que prefere investir grande parte de seus fundos em segurança e inovação, muitas vezes às custas de várias questões internas.
Além disso, o público está cada vez mais insatisfeito com benefícios que servem apenas a certos grupos, como o caso dos partidos ultraortodoxos, que ao longo dos anos receberam bilhões de dólares que foram investidos em suas instituições religiosas, causando frustração entre o público em geral. A preocupação agora é que o Raam tome seu lugar.
Bennett, portanto, enfrentará um dilema. Ele e o vice-primeiro-ministro Yair Lapid vão querer manter a palavra que deram ao Raam e ao mesmo tempo não irritar o público israelense. Entretanto, Avigdor Liberman, novo ministro das Finanças, tem sido frequentemente acusado de corrupção.
Promessas serão quebradas?
No passado, Yair Lapid, primeiro-ministro alternado que deve assumir o poder em 2023, criticou Benjamin Netanyahu, premiê entre 2009 e 2021, por seus 34 ministros e vice-ministros, prometendo limitar esse número a 18.
No entanto, o novo governo tem 28 desses cargos, levando a um sentimento de traição no público israelense, que precisará de provas claras de que os ministros, que custam aos contribuintes dezenas de milhões de dólares por ano, estão de fato fazendo seu trabalho e que a coalizão trará as tão desejadas mudanças.