Brasil é o país ideal para Israel concentrar os seus esforços em atrair imigrantes judeus. Essa é a conclusão de um estudo publicado recentemente pelo Instituto Samuel Neaman para Pesquisa de Política Nacional, do Instituto de Tecnologia de Israel (Technion), sediado em Haifa.
A pesquisa analisou metrópoles de diferentes países que possuem comunidades judaicas significativas e Rio de Janeiro e São Paulo se destacaram, com os autores recomendando que Israel promova nessas cidades a aliá.
Para entender por que os judeus brasileiros chamaram a atenção dos pesquisadores israelenses, quais as consequências de uma possível migração da comunidade judaica daqui para Israel e o significado de aliá, a Sputnik Brasil conversou com Samuel Feldberg, cientista político formado na Universidade de Tel Aviv e pesquisador de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP).
Imigração judaica para Israel
O estudo explorou o potencial de aliá (aliyah) de 12 cidades com populações judaicas de tamanho considerável. Samuel Feldberg começa explicando que o termo remete à época do surgimento do movimento sionista no final do século XIX, como resposta ao antissemitismo europeu.
"A ideia era criar um lar nacional judaico, um Estado judeu independente para permitir que judeus perseguidos na Diáspora pudessem encontrar um refúgio. Depois da criação do Estado de Israel, em 1948, efetivamente Israel se tornou um refúgio para todos os judeus", esclarece o cientista político.
Feldberg comenta que a aliá ocorre por diferentes motivos como perseguição política, situação econômica, questões de segurança, idealismo, entre outros.
"[...] Comunidades judaicas ao redor do mundo têm participado desse processo, muitas por idealismo, simplesmente por acreditar que, como judeu, a vida em Israel vai ser mais plena [...]. Questões de segurança, houve durante o período da ditadura militar na América Latina muitas comunidades judaicas em que os pais mandaram os seus filhos para Israel."
O pesquisador recorda que recentemente, durante a crise econômica de 2014 e 2015, com poucas oportunidades de trabalho, ocorreu "uma leva migratória" da comunidade judaica brasileira para Israel.
Se a imigração judaica abordada no estudo é voltada para atrair profissionais liberais, o especialista cita outro tipo completamente diferente de imigração que ocorreu na Etiópia.
"[Esse] foi um projeto nacional para salvar uma comunidade judaica no exterior. Os judeus etíopes estavam ameaçados de extinção no contexto de uma guerra civil que depois se transformou em uma crise de alimentação que estava matando a população e o Estado de Israel, com sua proposta de ser o refúgio da diáspora judaica, engajou-se no processo de trazer toda a população judaica da Etiópia para Israel."
Jovem e educado
Entre as razões para o Brasil ser o país ideal para Israel concentrar os seus esforços em atrair imigrantes judeus, a pesquisa destaca que os judeus daqui são jovens, a maioria com menos de 34 anos, e possuem nível educacional alto. Além disso:
"As comunidades judaicas de São Paulo e do Rio de Janeiro são unidas, jovens, conectadas a Israel e menos assimiladas [do que outras comunidades judaicas no mundo] [...]. Além disso, essas comunidades têm uma parcela relativamente alta de profissionais, como especialistas em alta tecnologia e médicos, cujas habilidades são muito solicitadas em Israel", afirma os autores, citados pelo jornal israelense Haaretz.
Samuel Feldberg explica que o nível educacional alto não é uma particularidade dos judeus brasileiros, mas uma característica da comunidade judaica como um todo.
"Infelizmente não é difícil ser mais bem-educado que a média nacional brasileira, nós temos no Brasil um problema crônico de educação. E no mundo inteiro a comunidade judaica sempre deu muito valor e muita importância para a educação."
O especialista continua: "Isso também tem um componente histórico, como os judeus foram muito perseguidos durante sua história na diáspora, a única coisa que você não pode tirar de um ser humano é o conhecimento que ele tem. Você pode tirar as propriedades, as riquezas, você pode eventualmente até tirar a esperança, mas o conhecimento adquirido ele pode sempre levar com ele. Então sempre houve um investimento muito grande da família judaica na educação dos seus jovens, e no Brasil não é diferente".
Modelo de integração
O pesquisador da USP diverge da ideia de que as comunidades judaicas no Brasil são menos incorporadas do que outras ao redor do mundo, como a pesquisa sugere.
"A população judaica no Brasil é perfeitamente assimilada na sociedade, é talvez até um modelo da integração na sociedade brasileira [...] se nós levarmos em conta episódios de antissemitismo no mundo inteiro, o Brasil é uma exceção, uma ilha de tranquilidade, mesmo que haja episódios relatados com alguma frequência, é absolutamente incomparável com a maior parte dos lugares do mundo onde isso acontece", esclarece.
Dessa forma, Samuel Feldberg considera que se houver imigração para Israel será marginal, mas aponta duas motivações que podem fomentar para uma aliá: a questão econômica e a percepção de falta de segurança, observando que esse sentimento "acho que é comum para qualquer cidadão brasileiro, não é específico da comunidade judaica".