Um cidadão entrou em contato com a emissora BBC após encontrar 50 páginas de informações classificadas e perceber a delicadeza dos documentos. Segundo a mídia, que manteve o anonimato da fonte, há e-mails e apresentações em Power Point entre os papéis.
[A emissora] BBC publicou trechos de documentos confidenciais do Departamento de Defesa detalhando o HMS Defender e as Forças Armadas britânicas [e foram] encontrados em um ponto de ônibus em Kent
Um porta-voz do Ministério da Defesa britânico disse que um funcionário relatou a perda de documentos confidenciais, acrescentando: "Não seria apropriado comentar mais".
Entre os documentos havia uma parte que discutia a provável reação russa à passagem do HMS Defender pelas águas ucranianas na costa da Crimeia na quarta-feira (23), enquanto outro trecho expunha os planos para uma possível presença militar britânica no Afeganistão após a operação da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) liderada pelos EUA terminar, em 11 de setembro.
Incidente no mar Negro
Os documentos relativos ao destróier HMS Defender mostram que a missão, descrita pelo Ministério da Defesa como uma "passagem inocente por águas territoriais ucranianas", com as armas cobertas e o helicóptero do navio guardado em seu hangar, foi realizada com a expectativa de que a Rússia pudesse responder agressivamente, explica a BBC.
Na quarta-feira (23), o navio britânico atravessou a fronteira russa e entrou três quilômetros em águas russas no mar Negro. Na ocasião, o Ministério da Defesa da Rússia afirmou que um navio da Guarda Costeira russa disparou tiros de advertência, após repetidos avisos, e uma aeronave Su-24M realizou um "bombardeio de advertência" ao longo do percurso do navio do Reino Unido.
A missão, chamada "Op Ditroite", foi objeto de discussões de alto nível até segunda-feira (21), mostram os documentos, com autoridades especulando sobre a reação da Rússia se o destróier navegasse perto da Crimeia.
Três possíveis respostas russas foram delineadas: de "seguro e profissional" a "nem seguro, nem profissional". Além disso, foi considerada uma rota alternativa, que teria mantido o HMS Defender bem longe da fronteira russa. Isso teria evitado o confronto, segundo a apresentação que a emissora teve acesso, mas corria o risco de a Rússia apresentá-lo como prova de que "o Reino Unido estava com medo" ou "fugindo".
"O Ministério da Defesa planeja com cuidado. Na verdade, isso inclui a análise de todos os fatores potenciais que afetam as decisões operacionais", disse um porta-voz do Ministério da Defesa em um comunicado.
Os documentos descobertos em Kent confirmam que o percurso do destróier foi uma decisão calculada pelo governo britânico para dar uma demonstração de apoio à Ucrânia, apesar dos possíveis riscos envolvidos.
Após o incidente, o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Ryabkov, afirmou que Moscou ficou indignada com o comportamento do lado britânico e antes de enviar o alerta com bombardeiros, alertou a tripulação do navio sobre as consequências de tais ações poderiam ser graves.
Além disso, a representante oficial do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, qualificou o incidente como uma provocação.
Reino Unido no Afeganistão
Entre os documentos encontrados havia ainda alguns marcados como "apenas para olhos do serviço secreto britânico" que revela recomendações altamente sensíveis para a presença militar britânica no Afeganistão após o fim da operação da OTAN.
O documento contém um pedido dos EUA de assistência do Reino Unido em várias áreas específicas e analisa se alguma das forças especiais britânicas permaneceria no Afeganistão depois que a retirada dos EUA for concluída. A BBC afirma que, devido à delicadeza do documento, decidiu não divulgar detalhes que possam colocar em risco a segurança dos britânicos e de outros funcionários no Afeganistão.
Há ainda notas informativas da sessão de Diálogo de Defesa Reino Unido-EUA, que ocorreu em 21 de junho, incluindo comentários sobre os primeiros meses do presidente norte-americano Joe Biden no cargo. O foco inicial da administração Biden na China e no Indo-Pacífico mostra que "ainda há muita continuidade com o governo anterior", indicam os documentos.
O Ministério da Defesa do Reino Unido iniciou uma investigação a esse respeito do vazamento dos documentos.