Vítima de peste mais antiga do mundo encontrada na Letônia (FOTOS)

Há cinco mil anos, um roedor mordeu um caçador da Idade da Pedra, sendo que o pequeno mamífero já carregava uma estirpe da bactéria Yersinia pestis – o patógeno que viria a causar a Peste Negra, ou peste bubônica, no século XIV.
Sputnik

Este é o vestígio de peste mais velho do mundo e, de acordo com o Science Alert, o caçador-coletor da Idade da Pedra vitimado pela mesma teria morrido ainda em seus 20 anos.

O genoma da estirpe em estudo apresenta bastantes semelhanças com a versão da peste que afetou severamente a Europa medieval, e que no decorrer de sete anos vitimou mortalmente metade da população da região. No entanto, parece que estão faltando alguns genes-chave, especialmente os que conferem características que ajudaram a sua propagação.

Contrariamente a suas descendentes microbianas, a peste que afetou o caçador seria uma doença que evoluía devagar e era pouco transmissível, segundo Ben Krause-Kyora, professor de análise de DNA antigo na Universidade de Kiel, na Alemanha.

"Faltavam genes que lhe permitissem a transmissão pelas pulgas", explicou Krause-Kyora, também coautor da pesquisa, pois durante a Peste Negra as picadas de pulga e piolhos eram as principais fontes de infecção.

Deste modo, é possível concluir que, durante os milênios entre a morte do caçador da Idade da Pedra e a Peste Negra, a bactéria Yersinia pestis sofreu mutações que lhe permitiram se propagar entre várias espécies de seres vivos por via de pulgas.

Vítima de peste mais antiga do mundo encontrada na Letônia (FOTOS)

O caçador-coletor em questão morreu em uma região que hoje se encontra na Letônia. Perto de seus ossos, os antropólogos também acharam restos mortais de outro homem, de uma jovem adolescente e de um bebê recém-nascido, mas nenhum dos últimos três teria sido infectado pelo patógeno.

A equipe de cientistas examinou o DNA antigo extraído de ossos e dentes em busca de vestígios de patógenos, e foi assim que encontraram a bactéria.

Os pesquisadores então compararam o genoma da bactéria com outras cepas de pestes antigas. Um estudo anterior descreveu outras cepas com cerca de cinco mil anos, mas Krause-Kyora disse que esta em particular é algumas centenas de anos mais velha. Portanto, sua equipe concluiu que esta seria a versão mais antiga conhecida da Yersinia pestis.

O DNA do caçador também mostrou que ele tinha uma grande quantidade de bactérias em seu corpo, o que sugere que estas foram a causa de sua morte. Ao mesmo tempo, o local de seu sepultamento indica que outros membros de seu grupo o enterraram meticulosamente, de acordo com o estudo, descreve a mídia.

Vítima de peste mais antiga do mundo encontrada na Letônia (FOTOS)

A peste pode tomar três formas: a bubônica, que foi a que assolou os europeus com nódulos linfáticos inchados e dolorosos; a septicêmica, na qual a bactéria entra no sistema sanguíneo do doente, fazendo com que sua pele escureça e acabe por morrer; e a pneumônica, que causa falhas respiratórias.

Sabendo disso, Krause-Kyora acredita que o caçador-coletor tenha sido afetado pela peste septicêmica, o que poderia explicar por que nenhum outro membro de seu grupo morreu por efeito da bactéria.

Para que tal acontecesse, "eles precisariam ter tido contato direto com o sangue dele", ou um roedor infectado com o patógeno em estudo teria de os morder.

As pestes são maioritariamente zoonóticas, ou seja, são geralmente transmitidas de animais para seres humanos.

Krause-Kyora, no entanto, confia que o caso do caçador da Idade da Pedra poderá mostrar a epidemiologistas como os patógenos zoonóticos – como Ebola, a gripe suína e (muito provavelmente) o novo coronavírus – mudam com o passar do tempo.

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