Nesta terça-feira (20), a França anunciou a abertura de uma investigação formal depois de receber queixas de jornalistas franceses dos principais meios de comunicação do país que afirmaram terem sido alvos de espionagem por parte do governo marroquino. Pelo menos mil cidadãos franceses teriam seus números de telefone na lista de rastreamento por meio do spyware Pegasus.
Na segunda-feira (19), o porta-voz do governo francês Gabriel Attal chamou as revelações da mídia sobre o uso extensivo do Pegasus de "fatos absolutamente chocantes que, se forem provados, são extremamente sérios".
De acordo com as informações do Le Monde, um dos números que Macron utilizava regularmente desde pelo menos 2017 até os últimos dias, figura na lista do serviço de segurança do Estado marroquino que faz uso do spyware Pegasus. Os números de telefone pertencentes ao ex-primeiro ministro Édouard Philippe, assim como 14 outros membros do governo também foram visados na lista de mais de 50 mil telefones consultados pela organização Forbidden Stories e da Amnistia Internacional.
Acredita-se que Macron usa vários smartphones e tem uma paixão conhecida pelos dispositivos móveis, visto constantemente falando neles, mensagens de texto, videoconferência e lendo informações de suas telas. O líder francês gosta tanto dos dispositivos móveis que seu retrato oficial traz dois aparelhos, um de cada lado na mesa.
Retrato oficial.
Se o spyware Pegasus de fato foi instalado no telefone do chefe de Estado francês, a inteligência marroquina poderia ter acesso a praticamente todas as informações privadas de Macron, incluindo sua agenda, mensagens de texto, e-mails potencialmente confidenciais e chamadas telefônicas. Teoricamente, também seria capaz de ligar o microfone do telefone ou ativar sua câmera à vontade.
Solicitado a comentar sobre o relatório, o Palácio do Eliseu disse que "se esses fatos forem verdadeiros, isso é obviamente muito sério. Toda a luz será lançada sobre essas revelações".
Marrocos ainda não respondeu às acusações, mas rejeitou relatórios anteriores de uma grande operação de hacking visando jornalistas franceses usando Pegasus.
'Projeto Pegasus': potenciais afetados
Ainda há outros nomes de pessoas influentes na lista a qual a mídia francesa teve acesso, são eles: o presidente iraquiano Barham Salih; o presidente sul-africano Cyril Ramaphosa; os primeiros-ministros do Paquistão, Egito e Marrocos, sete ex-chefes de governo de países como Líbano, Uganda e Bélgica e o rei marroquino Mohammed VI. Há ainda o nome de mais de 600 funcionários da Organização Mundial da Saúde que foram visados e políticos de 34 países atingidos no total, incluindo EUA, Reino Unido, Afeganistão, Azerbaijão, Bahrein, Burundi, Butão, China, Congo, Egito, Hungria, Índia, Irã, Cazaquistão, Kuwait, Mali, México, Nepal, Catar, Ruanda, Arábia Saudita, Togo, Turquia e os Emirados Árabes Unidos.
O que é o Pegasus?
Pegasus é um poderoso spyware de nível militar criado pela empresa israelense de software de segurança NSO Group. A empresa afirma que vende o spyware a governos para uso contra terroristas e criminosos, e afirma que o Pegasus salvou "dezenas de milhares" de vidas.
Além do Pegasus, a NSO também cria aplicativos de "rastreamento" de coronavírus para o governo israelense.