Um tribunal nos EUA ordenou em 16 de julho a confiscação permanente de uma placa suméria, após diversas compras e vendas desde 2003, que terminaram com a apreensão do artefato de um museu norte-americano em 2019, disse o Departamento de Justiça (DoJ, na sigla em inglês) nacional na terça-feira (27).
"Conhecida como a Tábua dos Sonhos de Gilgamés, ela teve origem na área do Iraque moderno, e entrou nos Estados Unidos contrariando a lei federal. Mais tarde, uma casa de leilões internacionais vendeu a placa para a Hobby Lobby Stores Inc., uma proeminente loja de artes e artesanato com sede na cidade de Oklahoma, para exposição no Museu da Bíblia", relatou o DoJ em comunicado.
A Epopeia de Gilgamés é um grande poema, constituído por doze placas de argila.
A placa, de 4.000 anos, foi originalmente adquirida por um negociante de antiguidades dos EUA em 2003 a um familiar de um negociante de moedas de Londres, Reino Unido. Depois ele levou o objeto aos EUA sem declarar sua natureza, e deixou que fosse examinado por um "professor", que o reconheceu como a Epopeia de Gilgamés.
Seguiram-se várias vendas, terminando com a compra em 2014 pela diretoria da Hobby Lobby, pertencente a cristãos devotos, para um museu de temática bíblica em Washington, informou a declaração.
A Hobby Lobby reconheceu que devia entregar a placa, e os agentes da lei tomaram posse dela em setembro de 2019, acrescentou o DoJ.
Aqui está uma foto da "Tábua dos Sonhos de Gilgamés" apreendida do Museu da Bíblia da Hobby Lobby pelos promotores federais em setembro de 2019.
Ela foi confiscada para os EUA hoje.
O Distrito Leste de Nova York [da Corte Distrital dos EUA] anunciou isso pouco depois que anunciou que o álbum Wu Tang de Shkreli tinha sido vendido.
A placa, que mede 15 cm por 12 cm, inclui uma parte da Epopeia de Gilgamés, um poema sumério considerado uma das obras literárias mais antigas do mundo, referiu o comunicado.
Segundo Jacquelyn Kasulis, advogada interina do Distrito Leste da Corte de Nova York, o DoJ pretende eventualmente devolver a "rara e antiga obra-prima da literatura mundial a seu país de origem".
Os museus iraquianos sofreram várias pilhagens nas últimas três décadas. Nove dos museus regionais do país foram alvo de saqueadores em 1991 durante a Guerra do Golfo, resultando em cerca de 4.000 artefatos destruídos ou roubados.
As autoridades iraquianas estimaram que mais de 35.000 artigos foram retirados do Museu Nacional do Iraque em Bagdá quando este foi saqueado durante a invasão de 2003 pelos EUA. Os governos iraquianos posteriores apoiados por Washington exortaram à devolução dos artefatos, mas sem grande sucesso.
Em 2014, quando o Daesh (organização terrorista, proibida na Rússia e em vários outros países) conquistou uma grande parte do Iraque e da Síria, e saqueou o museu em Mossul, o governo norte-americano se comprometeu a reprimir o comércio de artefatos roubados, dizendo que os lucros poderiam contribuir para financiar o terrorismo.