Em março, a Teleperformance, uma das maiores empresas de call center terceirizado do mundo, publicou um adendo aos seus contratos de trabalho que exigia que os trabalhadores deixassem a empresa colocar câmeras - aparentemente para registrar e monitorar seu desempenho no trabalho em casa em tempo real, mesmo que seja nos quartos dos funcionários.
O contrato também permite que dados coletados de familiares de trabalhadores, incluindo menores, sejam armazenados e submetidos a análises de vídeo e voz.
Além disso, os funcionários tiveram que concordar em compartilhar dados biométricos, incluindo impressões digitais e fotos. Também foi criada uma cláusula que exige que eles sejam submetidos a testes de detector de mentiras, se exigido pela empresa. Os adendos de contrato foram enviados para 95% dos 39 mil funcionários da Teleperformance na Colômbia que trabalhavam remotamente.
"O contrato permite o monitoramento constante do que estamos fazendo, mas também de nossa família", disse uma funcionária da empresa em Bogotá que faz atendimento da Apple e pediu para não ser identificada, à NBC News.
Ela contou que seu supervisor a ameaçou de ser removida da conta da Apple se não assinasse o novo contrato: "Eu acho que é muito ruim. Nós não trabalhamos em um escritório. Eu trabalho no meu quarto. Eu não quero ter uma câmera no meu quarto", contou ela, acrescentando que a tecnologia de vigilância do trabalho remoto ainda não foi instalada.
Outra funcionária, que atua na conta da Amazon, disse que o único cômodo em seu apartamento silencioso o suficiente para receber ligações de clientes da Espanha à noite é o quarto. Ela aponta preocupação com a invasão de privacidade e teme que o microfone capte o ronco de seu marido enquanto trabalha.
"É uma violação dos meus direitos de privacidade e dos direitos do meu marido e da minha sogra que vivem comigo", denuncia.
Resposta das empresas
Em resposta às preocupações dos trabalhadores colombianos, o porta-voz da Apple, Nick Leahy, disse que a empresa "proíbe o uso de vídeo ou monitoramento fotográfico por seus fornecedores" de serviço terceirizado e afirmou ter "confirmado que a Teleperformance não usa monitoramento de vídeo para nenhuma de suas equipes que trabalham com a Apple".
Acrescentando que em uma recente auditoria da Apple nas operações da Teleperformance no país nenhuma "violação fundamental" de padrões estritos teria sido detectada.
Da mesma forma, a porta-voz da Amazon, Alyssa Bronikowski, negou que a empresa tenha "exigido ou solicitado" monitoramento adicional para trabalhadores remotos.
Em contrapartida, a porta-voz da Uber, Lois Van Der Laan, confirmou que havia solicitado algum tipo de monitoramento dos funcionários que gerenciam sua conta para verificar se apenas os funcionários autorizados estavam acessando dados privados e confidenciais dos usuários, incluindo detalhes de cartão de crédito e informações de viagem.
De acordo com o porta-voz da Teleperformance, Mark Pfeiffer, a empresa estava "constantemente procurando maneiras de aprimorar a experiência da Teleperformance Colômbia tanto para nossos funcionários quanto para nossos clientes, tendo privacidade e respeito como fatores-chave em tudo o que fazemos".
Andrew Pakes, político do Partido Trabalhista do Reino Unido e líder sindical Prospect, fez diversas críticas em sua conta no Twitter.
Estamos normalizando a vigilância do trabalho em nossas casas. Qualquer pessoa que pense que Bigtech não tem nada a ver com poder deve ler isto. Novos contratos impostos aos funcionários. Riscos de privacidade. Este não é o novo normal que nos foi prometido.
A reportagem da NBC detalhou que o problema poderia afetar potencialmente 240 mil dos cerca de 380 mil funcionários da Teleperformance em 34 países que trabalham em casa em mais de 19 mercados.
Um plano de vigilância semelhante para instalar "webcams especializadas" conectadas a uma rede de inteligência artificial para verificar se há "infrações" de trabalho nas casas de alguns dos 10 mil funcionários da empresa no Reino Unido em abril foi supostamente revertido depois que legisladores e sindicatos protestaram.