Nas últimas semanas, o mundo vem assistindo a várias tentativas de reativar o processo de paz israelo-palestino, que se encontra paralisado desde 2014, quando o diálogo direto entre as partes envolvidas terminou em fracasso.
No início de julho deste ano, o rei Abdullah II da Jordânia se reuniu com o primeiro-ministro de Israel, Naftali Bennett, sob condições de sigilo absoluto. No final desse mês, ele falou com Isaac Herzog, presidente israelense, e realizou reuniões individuais com o presidente dos EUA, Joe Biden, e com o chefe da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas.
Divisões internas entre palestinos
Pinas Inbari, analista sênior do Oriente Médio e especialista em assuntos relativos à Palestina e Jordânia no Centro de Políticas Públicas de Jerusalém, acredita que existem vários interesses práticos por trás das ações do líder jordaniano.
"O rei Abdullah da Jordânia está desesperado por ajuda financeira [enquanto seu país atravessa uma grave crise], mas não quer se dirigir aos norte-americanos como um mendigo. Assim, ele tenta se posicionar como um ator central e um mediador entre os lados envolvidos", explicou o especialista.
No entanto, apesar destes esforços, Inbari tem certeza de que um avanço na frente israelo-palestina não está à vista em lado nenhum, sendo que o principal responsável pelo impasse atual pode ser encontrado dentro do próprio povo palestino.
As relações entre a Fatah, que governa a Cisjordânia, e o Hamas, um movimento que controla a Faixa de Gaza, começaram declinando desde 2007, após um golpe de Estado que levou à expulsão de funcionários da Fatah do enclave costeiro. A partir desse momento, os dois movimentos adotaram abordagens diferentes em suas relações com Israel.
A Fatah, que reconhece os Acordos de Oslo de 1993 e, assim, o Estado de Israel, concordou em abandonar seu envolvimento em atividades terroristas, utilizando antes boicotes e pressões sobre a comunidade internacional para fazer avançar sua causa.
O Hamas, por outro lado, optou pela utilização da violência contra alvos militares e, supostamente, civis em Israel.
"O presidente Abbas não representa todos os palestinos. Ele não pode assinar nada em nome deles por causa desta divisão. Para que ele faça a paz com Israel, ele precisará do apoio do Hamas, o que continua a ser uma perspectiva bastante improvável", de acordo com Inbari.
As duas facções palestinas rivais têm tentado pôr de lado suas diferenças em várias ocasiões. No entanto, o especialista acredita que a disputa com o Hamas é apenas um dos vários problemas de Abbas, outro bem importante é a divisão dentro de seu próprio movimento.
"Abbas compreende que para poder progredir com Israel, terá de mudar seu próprio governo, uma vez que nele existem muitos membros que se opõem a qualquer progresso nessa área [...] Aqui temos o primeiro-ministro Mohammed Shtayyeh e o ministro das Relações Exteriores Riyadh Al Maliki, que está envolvido em uma campanha anti-Israel em todo o mundo. Claro, também existem os que gostariam de expandir esses laços, mas são uma minoria."
Israel: um país dividido
O governo do Estado judeu também se encontra dividido. A maioria dos partidos políticos da nação apoia o "judaísmo" de Israel, enquanto outros não veem um lugar para dois Estados vivendo lado a lado.
A ideia de dividir Jerusalém é um anátema, e para alguns cidadãos o regresso dos refugiados palestinos está totalmente fora de questão.
Os círculos liberais, por seu lado, adotaram uma abordagem mais branda da questão, mas mesmo com uma comunicação aberta com o presidente Abbas Inbari diz que a natureza do diálogo está limitada apenas a questões econômicas e sociais.
"O governo israelense se baseia no princípio de que a questão palestina não pode ser resolvida e, por essa razão, precisa ser adiada. Desse jeito, acredito que o status quo permanecerá e não haverá qualquer progresso nas negociações, não tão cedo", comentou o especialista.