A população brasileira chegou a 213,3 milhões de habitantes, de acordo com estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada na sexta-feira (27) e tem como data de referência 1º de julho de 2021.
"O município de São Paulo continua sendo o mais populoso, com 12,4 milhões de habitantes, seguido pelo Rio de Janeiro (6,8 milhões), Brasília (3,1 milhões) e Salvador (2,9 milhões). Os 17 municípios do país com população superior a um milhão de habitantes concentram 21,9% da população brasileira, ou 46,7 milhões de pessoas", lê-se no comunicado do órgão.
A população das 27 capitais mais o Distrito Federal supera os 50 milhões de habitantes, representando 23,87% da população total do país. Mais da metade da população brasileira, 123 milhões de pessoas, ou 57,7% do total, está concentrada em apenas 5,8% dos municípios brasileiros, ou seja, 326 dos 5.570 municípios do país possuem com mais de 100 mil habitantes.
O IBGE esclarece que os efeitos da pandemia do novo coronavírus "no efetivo populacional não foram incorporados nesta projeção, devido à ausência de novos dados de migração, além da necessidade de consolidação dos dados de mortalidade e fecundidade, fundamentais para se compreender a dinâmica demográfica como um todo".
A Sputnik Brasil conversou com José Eustáquio Diniz Alves, doutor em demografia e pesquisador aposentado do IBGE, sobre o tamanho da população brasileira, o bônus demográfico, o impacto da pandemia de COVID-19, a importância do Censo Demográfico e os desafios que o Brasil vai enfrentar com o envelhecimento da população.
Projeções populacionais e o Censo Demográfico
As últimas projeções realizadas pelo IBGE ocorreram em 2018 e a metodologia utilizada teve como base a população recenseada em 2010, quando o último Censo Demográfico foi realizado. Dessa forma, a estimativa da população brasileira divulgada semana passada não levou em consideração os impactos da COVID-19 em 2020 e em 2021.
"Nessas projeções não estão incluídos a alta da mortalidade por causa da COVID-19 e nem a baixa da natalidade, então essas estimativas estão sobrestimadas", explica José Eustáquio.
Em artigo, o pesquisador aposentado afirma que, embora a projeção do IBGE indique que ano que vem a população do país será de 214,8 milhões de habitantes, o mais provável é que a população brasileira não ultrapasse 213 milhões.
"O fato é que, em 2022, a população brasileira pode ter um volume populacional dentro de um leque de possibilidades que varia de pelo menos 208,4 milhões a 214,8 milhões de habitantes. Esta incerteza quanto ao tamanho correto da população brasileira é consequência das grandes mudanças ocorridas nos últimos anos (uma grande recessão econômica entre 2014 e 2016 e a maior pandemia em um século a partir de 2020) e da inexistência da contagem 2015 e do Censo [Demográfico de] 2020", escreve.
José Eustáquio destaca que a realização do Censo Demográfico é muito importante para sabermos o que exatamente aconteceu no Brasil na última década. Programado inicialmente para ocorrer 2020, o Censo, que deve ser realizado a cada dez anos, foi adiado para 2021 devido à pandemia de COVID-19.
Em abril deste ano, o então secretário especial da Fazenda do Ministério da Economia, Waldery Rodrigues anunciou que o Orçamento de 2021 não incluiria recursos para a realização do Censo Demográfico, o que acabou forçando um novo o adiamento da pesquisa.
"Não há previsão orçamentária para o Censo. Portanto, ele não se realizará em 2021. As consequências e gestão para um novo Censo serão comunicadas ao longo deste ano, em particular em decisões tomadas na Junta de Execução Orçamentária", declarou o secretário. O Censo está previsto para ser realizado em 2022.
"Tivemos a recessão de 2014 a 2016, agora tivemos outra recessão em 2020, então esse Censo de 2022 vai ser muito importante para a gente conhecer essa nova realidade e a falta do Censo já está prejudicando inclusive as políticas para combater a pandemia, como políticas de vacinação. Precisamos saber com certeza onde está a população, qual o tamanho da população, então o Censo está fazendo muita falta e precisamos o mais rápido possível", sentencia José Eustáquio.
Bônus demográfico e envelhecimento da população
O bônus demográfico ocorre quando há muitas pessoas em idade para trabalhar (entre 15 e 64 anos) e podem contribuir com o desenvolvimento econômico do país e poucos dependentes, como crianças e idosos.
José Eustáquio comenta que, na década de 1970, para cada pessoa que trabalhava havia duas que não trabalham. Atualmente a população em idade ativa corresponde a quase 70% da população brasileira. São cerca de 148 milhões de pessoas em idade ativa e 64,4 milhões de dependentes (adolescentes de até 14 anos e idosos a partir de 65 anos).
Mas com o desemprego em 14,7%, atingindo 14,8 milhões de pessoas e cerca de 33 milhões de subutilizados, o Brasil corre o risco de perder essa "janela de oportunidade".
"O Brasil, a partir da década de 2030, será considerado um país idoso então a janela de oportunidade demográfica é muito curta no Brasil. A gente tem que aproveitar principalmente a atual década de 2020, gerar emprego, aumentar a educação da população e a saúde antes do envelhecimento. Depois do envelhecimento vamos ter de tomar muitas medidas no sentido de incluir mais os idosos no mercado de trabalho e nos sistemas produtivos", alerta.
José Eustáquio avalia que população em idade ativa comece a diminuir no Brasil em 2035, cinco anos antes do previsto e isso vai levar o país ao fim do primeiro bônus demográfico.
"Isso coloca um desafio muito grande porque vamos ter mais idosos na população e a quantidade de pessoas em idade para trabalhar vai diminuir, então teremos que aumentar a produtividade da economia. É o que a gente chama de segundo bônus demográfico, que é aumentar a taxa de poupança, aumentar a taxa de investimento para fazer uma economia com maior profundidade do capital e produtividade da economia para compensar essa redução da população em idade ativa", comenta.
Diminuição da população
Com a pandemia de COVID-19, o número de nascimentos no país em 2020 foi o menor desde 1994, segundo dados do Sistema de Informações de Nascidos Vivos (SINASC), do Ministério da Saúde, informa o jornal Estadão. Foram 2.687.651 recém-nascidos no ano passado, ante 2.849.146 em 2019, queda de 5,66%.
Por outro lado, com mais de 270 mil mortos em decorrência da COVID-19, 2020 foi o ano com mais mortes no Brasil. Segundo dados da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (ARPEN-Brasil), que representa os cartórios, 1.498.910 de pessoas morreram ano passado, o que representou um aumento de 8,6% se comparado a 2019.
José Eustáquio afirma que nas projeções do IBGE, a curva de natalidade e de mortalidade deveriam se encontrar em 2047 e a partir desse ano a população brasileira ia começar a diminuir, mas com a COVID-19 isso deve ocorrer agora entre 2040 e 2042 "porque aumentou muito a mortalidade e diminuiu a natalidade durante a pandemia".
O pesquisador aposentado do IBGE destaca que em 2021 deve ocorrer uma diminuição na população fluminense, embora seja uma exceção, uma vez que a população do resto do país deve continuar crescendo. Ele afirma que o país só vai precisar se preocupar com políticas de natalidade na segunda metade do século.
"Atualmente a população ainda está crescendo, vai continuar crescendo até a década de 2040. Se a fecundidade cair muito, como caiu na Rússia, no Japão e na China, [serão necessárias] algumas políticas voluntárias para incentivar a fecundidade. Essas políticas são válidas, mas eu não acredito que o Brasil precise disso hoje, só lá para 2050 será preciso avaliar se essas políticas serão necessárias."