Talibã não vai ocupar província de Panjshir através da força, diz porta-voz do grupo

O Vale do Panjshir era a única região do Afeganistão livre do controle do Talibã (organização terrorista proibida na Rússia e em outros países).
Sputnik
Desde o final do mês passado que o grupo insurgente tem vindo a tentar colocar um fim nesse último ponto de resistência.
No domingo (29), o Talibã cortou o acesso à Internet da província em questão, de modo a impedir Amrullah Saleh, ex-vice-presidente do Afeganistão que se autodeclarou presidente interino do país, de compartilhar mensagens na rede social Twitter. Nesse mesmo dia, as forças da resistência reportaram terem repelido um ataque do movimento.
Porém, esta quarta-feira (1º), o Talibã afirmou que seus militantes assumiram o controle de seis postos avançados na província de Panjshir. Ainda assim, de acordo com o porta-voz do grupo insurgente, Mohammad Naeem, o Talibã não pretende ocupar a última província resistente através da força, disse em uma entrevista à Sputnik.
Ele negou que líderes da resistência da província tivessem declarado falha nas negociações, bem como suposta intenção do Talibã em entrar na região usando força militar.
"Não foi dito que iríamos entrar pela força, foi dito que tínhamos tentado muitas vezes chegar a um acordo, mas o diálogo não trouxe resultados até agora, e que ainda existem algumas dificuldades. Ao mesmo tempo, queremos resolver o problema através do diálogo - esta é a nossa posição [...] Queremos resolver o problema, e uma solução pacífica é prioritária", explicou Naeem.
O porta-voz do Talibã acrescentou que o movimento quer que os habitantes de Panjshir expulsem quem cria problemas.
Quando questionado sobre propostas de criação de zona de segurança na província em causa, Naeem as rejeitou, argumentando que "dissemos [Talibã] repetidamente que todos que queriam deixar o país tinham essa oportunidade e, como puderam ver, eles acabaram destruindo o aeroporto. Contudo, de nossa parte, não há problemas". 

Talibã e o 'regresso' à normalidade

Tendo em conta a posição de vários países ao novo governo afegão, o Talibã tem insistido que Estados voltem a abrir suas missões diplomáticas no país, contou o porta-voz do movimento à Sputnik.
Os EUA e o Japão já anunciaram a transferência de suas missões diplomáticas do Afeganistão para o Catar, os Países Baixos também pediram para Catar para aceitar sua missão diplomática, e a Alemanha também está ponderando essa questão.
De igual modo, a ONU tem trabalhado para obter acesso ao aeroporto de Cabul, de modo a começar prestando assistência humanitária diretamente à capital afegã, informou Ramiz Alakbarov, representante especial adjunto da ONU e coordenador humanitário no Afeganistão, em uma coletiva de imprensa nesta quarta-feira (1º).
"Estamos solicitando e falando ativamente sobre o acesso ao aeroporto de Cabul, onde esperamos que os serviços sejam restaurados em breve, para que possamos começar a entregar alimentos e bens não-alimentares diretamente a Cabul. Neste momento, não temos essa oportunidade", disse Alakbarov.

EUA, Talibã, e inimigos em comum

Na sexta-feira passada (27), um homem-bomba e seus cúmplices com armas de fogo leves realizaram um ataque no aeroporto de Cabul. Esse ataque foi reivindicado pelo Estado Islâmico-Khorasan (EI-K) (grupo terrorista proibido na Rússia e em outros países), um ramo do Daesh (grupo terrorista proibido na Rússia e em outros países).
Ante tal acontecimento, o presidente dos EUA avisou o EI-K que Washington não vai parar com ações militares contra o grupo. No entanto, o EI-K é também um grupo inimigo do Talibã.
Sabendo isso, seria possível que o Departamento de Defesa dos EUA trabalhasse com o Talibã para combater a ameaça terrorista EI-K, de acordo com o chefe do Estado-Maior Conjunto dos EUA, general Mark Milley.
Milley disse que tal cooperação "é possível", respondendo a questões sobre se haveria alguma possibilidade de coordenação com o Talibã contra o grupo terrorista mencionado, nesta quarta-feira (1º).
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