Acidente é uma anã marrom, e embora se tenha formado como as estrelas, objetos como ela não têm massa suficiente para iniciar a fusão nuclear, isto é, o processo que faz brilhar as estrelas. No entanto, por vezes, estes corpos desafiam tais características que, por sua vez, são bem compreendidas pelos astrônomos, até agora.
A anã Acidente recebeu seu nome após ter sido descoberta por puro acaso. Ela não foi vista nas buscas normais porque não se assemelhava a nenhuma das pouco mais de duas mil anãs marrons que foram encontradas em nossa galáxia até a atualidade.
A anã marrom peculiar foi avistada pela primeira vez pelo Explorador de Pesquisa por Infravermelho de Objeto Próximo à Terra em Campo Amplo (NEOWISE, na sigla em inglês) da NASA, lançado no ano de 2009, e monitorado pelo Laboratório de Propulsão de Jatos, também da NASA, no sul da Califórnia, nos EUA.
Como as anãs marrons são objetos relativamente frios, elas irradiam principalmente luz infravermelha, ou comprimentos de onda mais longos do que o olho humano consegue enxergar, aponta a mídia.
À medida que as anãs marrons envelhecem, elas esfriam e seu brilho muda nos diferentes comprimentos de onda. A anã Acidente, por seu lado, confundiu os cientistas porque seu brilho se mostrava fraco em alguns comprimentos de onda, sugerindo que estava muito fria e velha, mas brilhante em outros, indicando uma temperatura mais alta e, logo, uma idade mais jovem.
As anãs marrons não são exatamente estrelas, nem planetas. Mas a descoberta de uma anã marrom com propriedades estranhas, que os cientistas apelidaram de "O Acidente", sugere que pode haver mais como ela do que se pensava anteriormente espreitando em nossa galáxia.
Para descobrir como a Acidente poderia ter tais propriedades, aparentemente contraditórias, os cientistas precisavam buscar mais informações. Assim, eles a observaram em comprimentos de onda infravermelhos adicionais por meio de um telescópio no Observatório W. M. Keck, no Havaí. Contudo, a anã marrom em estudo parecia tão fraca nesses comprimentos de onda que os pesquisadores não a conseguiram detectar de jeito nenhum.
Com várias evidências sugerindo que a Acidente é extremamente velha, os cientistas propõem que suas propriedades estranhas não são, na verdade, assim tão estranhas, podendo ser até uma pista para calcular a idade do corpo celeste.
Quando a Via Láctea se formou há cerca de 13,6 bilhões de anos, ela era composta quase inteiramente de hidrogênio e hélio. Outros elementos, como o carbono, se formaram dentro das estrelas, e quando as estrelas mais maciças explodiram como supernovas, elas espalharam seus elementos por toda a galáxia.
O metano, composto por hidrogênio e carbono, é comum na maioria das estrelas anãs marrons que têm uma temperatura semelhante à da Acidente. Porém, o seu perfil sugere que contém muito pouco desse elemento.
Como todas as moléculas, o metano absorve comprimentos de onda de luz específicos, sendo que uma anã marrom rica em metano seria fraca nesses comprimentos de onda. Por sua vez, a Acidente é brilhante nesses determinados valores, o que poderia indicar baixos níveis de metano.
Assim, o perfil de luz da anã marrom em causa poderia corresponder ao de uma anã marrom muito antiga que se formou quando a galáxia ainda era pobre em carbono.