O analista britânico Tom Fowdy, especializado em temas de política e relações internacionais, sugeriu que o recente golpe de Estado na Guiné-Conacri, país africano rico em recursos naturais, poderia ter algo a ver com uma disputa entre os EUA e a China pelo domínio estratégico de algumas matérias-primas.
No domingo (5), o tenente-coronel Mamady Doumbouya liderou um golpe de Estado na Guiné-Conacri, que provocou a dissolução do governo, a suspensão da Constituição e a detenção do presidente Alpha Condé.
Sem deixar de sublinhar que é demasiado cedo para confirmar se há motivações políticas externas por trás do golpe, Fowdy chamou a atenção para os vínculos que Doumbouya possui com os EUA e outros países ocidentais, ressaltando que o oficial foi treinado por Israel e serviu na Legião Estrangeira Francesa, e que sua esposa segue trabalhando para o governo francês.
O analista também mencionou uma foto, publicada nas redes sociais, onde Doumbouya aparece reunido com o comandante das forças dos EUA na África, o que "levou muitos a supor que este pode ter sido um golpe militar respaldado pelo Ocidente" e apoiado por figuras da CIA.
"O Departamento de Estado dos EUA e UE denunciaram o golpe e pediram a restauração da democracia no país, porém é pouco provável que isso resolva as dúvidas de muitos. Tampouco anula as enormes apostas geopolíticas em relação ao desfecho no país, que anteriormente, antes da era da concorrência entre os EUA e a China, havia sido ignorado", precisou ao portal RT.
O golpe de Estado na Guiné foi condenado pela União Africana e diversos países, entre eles, a China, que exigiu a liberação do presidente Alpha Condé.
O líder da nova junta militar na Guiné – o coronel Mamady Doumbouya – com seus amigos.
Esta reação de Pequim é "muito incomum", já que o país asiático geralmente defende o princípio de não interferência em relação aos Estados africanos, e por isso mesmo, indica que a Guiné "tem uma importância estratégica" para a China, observou.
A Guiné-Conacri é um exportador importante de metal necessário para fabricar alumínio, bauxita, além de ter abundantes reservas de mineral de ferro e contar com outros recursos minerais como o cimento, o sal, a pedra calcária, magnésio, níquel e urânio.
De acordo com Fowdy, "um golpe militar por parte de um líder pró-ocidental cria grandes problemas para Pequim, pois gera enormes riscos para sua cadeia de fornecimento, fabricação e ambições estratégicas", mantendo o gigante asiático dependente da Austrália.
"Também existe uma crescente evidência de que o Ocidente fez da mineração de matérias-primas importantes uma prioridade estratégica na relação com a China, como por exemplo, tentar manter Pequim fora das minas na região ártica. Sendo assim, não podemos descartar nada", concluiu.