Bowe Bergdahl foi um soldado capturado pelo grupo terrorista Haqqani, aliado do Talibã, após ter abandonado seu posto no decorrer da guerra afegã. Viveu como refém do grupo de 2009 a 2014, entre o Afeganistão e o Paquistão.
Na terça-feira (7), o Talibã anunciou seu primeiro governo provisório, sendo que muitos dos nomeados são considerados terroristas pelos EUA e seus aliados. Agora, se soube que quatro desses ministros tinham sido detentos na prisão de alta segurança nos EUA de Guantánamo.
Todos os quatro foram trocados pelo soldado norte-americano em 2014, na época da administração do ex-presidente norte-americano Barack Obama.
Khairullah Khairkhah, ministro interino da Informação e Cultura do atual governo temporário do Talibã no Afeganistão
© AP Photo / Alexander Zemlianichenko
Tal como foi anunciado, Haq Vasik é agora o diretor interino de Inteligência; Noorullah Noori é o novo ministro interino de Fronteiras e Assuntos Tribais; Mohammad Fazil é vice-ministro da Defesa; e Khairullah Khairkhah é o ministro interino da Informação e Cultura.
Os quatro afegãos, considerados perigosos apoiadores da linha dura islamista pelo governo dos EUA, participaram de conversações diretas com Washington em Doha, em 2020.
Por que esses quatro indivíduos preocupam tanto os EUA?
Segundo os Ficheiros de Guantánamo, publicados pelo WikiLeaks, Vasiq foi chefe da Inteligência talibã, e lutou ao lado de vários grupos islamistas. Ele "possibilitou que membros da Al-Qaeda (grupo terrorista proibido na Rússia e em outros países) treinassem os responsáveis pela Inteligência talibã em métodos dessa área", contam os documentos vazados. Em 2007, uma revisão administrativa alegou que Vasiq era também "membro da Inteligência da Al-Qaeda".
Sentados da esquerda para a direita: o ex-ministro do Planejamento e Educação Superior, Qari Din Mohammad Hanif, ex-prisioneiros detidos pelos EUA em Guantánamo, Noorullah Noori, Mohammad Nabi Omari, Khairullah Khairkhah, e o ex-deputado do Talibã Haq Vasiq, durante as conversações na capital do Qatar, Doha, em 8 de julho de 2019
© AFP 2023 / Karim Jaafar
Noori havia sido governador das províncias de Balkh e Laghman durante o último governo talibã e, de acordo com documentos compartilhados pelo WikiLeaks, era procurado "por possíveis crimes de guerra, incluindo o assassinato de milhares de muçulmanos xiitas".
Fazil também foi acusado de crimes de guerra durante a guerra civil do Afeganistão nos anos 1990 e, tal como Noori, também era procurado pelo assassinato de milhares de xiitas durante o conflito. "Quando perguntado sobre os assassinatos, ele não expressou qualquer arrependimento, e declarou que eles [os talibãs] fizeram o que precisava ser feito em sua luta para estabelecer seu Estado ideal", conforme consta no documento.
Retrato de ex-detento Mohammad Fazil, atual vice-ministro da Defesa do governo do Talibã
© Foto / US Department of Defense
Sabendo isso, pode-se entender por que os documentos do WikiLeaks sobre Vasiq, Noori e Fazil os categorizam como de "alto risco" para os EUA e seus aliados.
O que pode ser esperado do novo governo afegão?
Embora poucos estivessem convencidos de que o Talibã cumpriria sua promessa de um governo inclusivo, o novo gabinete parece ser uma preocupação real para Washington e seus aliados.
Na semana passada, o novo vice-premiê do Afeganistão, Abdul Ghani Baradar, prometeu formar um governo "inclusivo", e o Talibã acredita que fizeram o melhor que puderam para o realizar. De acordo com o que foi contado à Sputnik Afeganistão, o oficial talibã Bilal Karimi afirmou que o novo governo reúne pessoas de toda a nação.
Porém, o Departamento de Estado norte-americano parece estar insatisfeito com a definição de inclusividade do grupo. Na terça-feira (7), Washington apontou a ausência de mulheres no novo governo, junto com o fato de que ele consiste, exclusivamente, de membros do Talibã.