De acordo com suas palavras ditas ao jornal, apesar das promessas do Talibã (organização terrorista proibida na Rússia e em vários outros países), o grupo militante permanece "em sua essência o mesmo".
Falando sob anonimato, o funcionário disse também que a retirada rápida e caótica dos EUA pôs em questão para os Estados da região o valor das promessas americanas de prover a segurança deles nos próximos 20 anos. A saída do Afeganistão significa que Washington acabou com a chamada doutrina do presidente Carter, que prometia que o país dependente do petróleo utilizaria a força militar com o objetivo de defender seus interesses no Golfo.
Na sequência disso, a partir de agora será bem problemático para os Estados da região contarem com o "guarda-chuva de segurança" dos EUA.
Além do mais, nesses 20 anos que os EUA passaram no país centro-asiático, combatendo quem usou o Islã em seus próprios interesses, no final não conseguiram nada. Do ponto de vista do funcionário, agora os líderes da África Ocidental e da região do Sahel vão ter de se preocupar com a ascensão do extremismo islâmico.
A maior surpresa para ele foi o grau de incompetência da operação norte-americana e a tensão das "lutas burocráticas internas que mancharam o pensamento dos EUA".
Hoje, segundo ele, podemos considerar o Afeganistão uma vitória do Paquistão e um novo âmbito de oportunidades para a China, enquanto o papel dos EUA será mínimo. "Se houver uma luta geopolítica pelo Afeganistão, nós vamos ver o Paquistão e a China de um lado e a Índia, o Irã e a Rússia do outro."
Muitos Estados do golfo Pérsico já iniciaram a revisão de sua política externa, levando em conta o fato que os EUA dependem cada vez menos do petróleo e tendem mais a estar distantes. Mas agora o processo se acelerará ainda mais, o que levará ao realinhamento das alianças. O objetivo geral será a desescalada das tensões na região, enquanto alguns rivais históricos vão tentar estabelecer laços mais pragmáticos.
O Irã, sob o governo anterior liderado por Hassan Rouhani, começou negociações com a Arábia Saudita no nível da cooperação entre serviços de inteligência. O funcionário também notou que Riad e Moscou firmaram um acordo de segurança, o que indica que na época pós-carbono os Estados do Golfo querem diversificar suas fontes de segurança longe dos EUA.