O Brasil registrou 70 milhões de brasileiros imunizados contra a COVID-19 com as duas doses ou a dose única da vacina.
No momento, 23 estados estão com ocupação de leitos de UTI e clínicos abaixo de 50% e dentro dos padrões de normalidade, enquanto que Ceará, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul ainda seguem na zona de alerta.
Com o quadro positivo da COVID-19 apresentado no país nos últimos dias, a Sputnik conversou com Sylvio Provenzano, que ressaltou os principais fatores contribuintes para esta melhora nos números.
Sylvio Provenzano recordou que, no início, a população brasileira não conseguiu entender a seriedade da pandemia, ignorando as regras de isolamento, o que resultou na elevação do número de mortes no país.
"Os números foram grotescos. Nós tivemos um número de mortes infinitamente superior daquele que poderíamos ter tido se a população tivesse, desde o princípio, compreendido a importância das medidas de isolamento, das chamadas medidas sanitárias, ou seja, evitar aglomerações, utilização da máscara, a lavagem frequente das mãos, o uso do álcool gel sempre que disponível, enfim", explicou.
Além disso, ele ressalta que a escassez de leitos, especialmente no sistema público de saúde, e "evidentemente que, diante da situação pandêmica que o mundo viveu e do risco em que a população estava, os governos fizeram o dever de casa e começaram a abrir leitos que estavam fechados".
"O fator determinante, na minha modesta opinião, foi o início da vacina. O Brasil é um dos países do mundo que tem, indiscutivelmente, um dos melhores sistemas de vacinação à população, tanto que é um sistema que já ganhou prêmios, inclusive conferidos pela Organização Mundial da Saúde", afirmou Sylvio Provenzano, destacando a rapidez com que as vacinas foram aplicadas no país.
Sendo assim, Sylvio Provenzano atribuiu à vacinação e à adoção de algumas medidas de precaução, "que as pessoas finalmente" entenderam que precisa ter, como os fatores que levaram o Brasil a reduzir o número de mortes.
Leitos no sistema público
Questionado sobre se o governo federal e os governos estaduais teriam feito sua parte para garantir que os mesmos problemas ocorridos durante a pandemia não se repitam, o especialista ressaltou a indecisão do Superior Tribunal Federal e que cabia aos governos municipais o gerenciamento dos recursos, que obrigatoriamente foram disponibilizados pelo governo federal.
"Os recursos foram enviados a todos os estados, porém cada estado fez uso dele da maneira que pareceu mais adequada", ressaltou Sylvio Provenzano, afirmando que não há ninguém melhor para conhecer sua população do que o secretário municipal da Saúde, já que muitas vezes o ministro da Saúde não conhece a fundo as necessidades da população de um estado.
Contudo, ele destaca que em alguns estados estes recursos não foram utilizados da maneira como deveriam ter sido. E, por isso, caberia a uma CPI investigar por quais motivos cada estado agiu de uma forma diferente.
Sylvio Provenzano também afirma que, apesar de os leitos terem sido reabertos, do fornecimento de recursos complexos para o tratamento da COVID-19 e da redução da fila de espera por leitos, é importante recordar que o momento "não é de comemorar, sair à rua e se abraçar e beijar", mas o momento é de continuar mantendo os cuidados, e de modo que cada vez mais pessoas possam se imunizar.
"Quanto mais gente for vacinada, melhor. É isso que a gente pretende, com isso a gente aposta que a gente vai vencer finalmente essa COVID-19", declarou.
3ª dose e vacinação de adolescentes
Fatores como a terceira dose e a vacinação de adolescentes seguem sendo criticados por organizações como a OMS, que acreditam não ser correto que países que possuem vacina avancem com a terceira dose, enquanto boa parte da população mundial não foi vacinada com a primeira dose.
"Eu particularmente entendo que nós temos um universo, e os países são extremamente diferentes, seja na atenção aos cuidados da saúde, seja na capacidade de financiamento", comentou Sylvio Provenzano.
Alguns países, se não tiverem ajuda de organizações internacionais, seja a ONU, a UNESCO ou a própria OMS, os fundos de apoio destes países não vão ter como adquirir vacinas, que estão longe de serem baratas, são vacinas caras, lembrou o especialista.
"Eu entendo que deve haver um apoio internacional para que esses países possam ser ajudados neste momento de dificuldade", afirmou.
Medidas que os governos devem tomar para garantir a estabilidade do Brasil
Falando sobre as medidas que os governos devem tomar para garantir a estabilidade do Brasil contra a COVID-19, Sylvio Provenzano destacou a questão do transporte público.
"Eu estou rigorosamente convencido que os meios de transporte público foram os locais, aonde aconteceu o maior número de contatos. No Brasil, nós temos o BRT, temos o metrô, os trens, e nesses locais o número de veículos para transportar a população não aumentou na quantidade suficiente para permitir às pessoas que pudessem viajar com a segurança necessária", explicou.
Além disso, ele ressaltou que as pessoas continuaram saindo de suas casas para seus locais de trabalho, aglomeradas e amontoadas, e foi evidentemente ali que muitos pegaram o vírus, adoecendo ou levando o vírus para dentro de suas casas, infectando as pessoas que estavam tomando todas as medidas de precaução.
"A recomendação para os governos é que cuidem um pouco melhor do transporte público", enfatizou.
Quais as medidas que a população deve tomar para se manter protegida?
Por sua vez, Sylvio Provenzano comentou sobre quais medidas a população deve tomar para se manter protegida e evitar novas ondas de contaminações.
"Com relação às pessoas, não é o momento ainda de nos aglomerarmos em festividades, quem sabe no final do ano, caso os números continuem se mantendo no ritmo que estão, podemos ter uma festa de réveillon, talvez com alguns cuidados, tentando manter o afastamento, limitando o acesso das pessoas e ao ar livre, o que de certa forma diminui o risco maior de contágio. Nós sabemos que os ambientes fechados, com portas e janelas fechadas, aumentam muito o risco", apontou.
Ele também observou que, caso entre em um ambiente com essas características e haja muitas pessoas no local, o melhor a fazer é se retirar do ambiente.
"Não deixe de usar a sua máscara de proteção, não deixe de lavar as mãos, eu diria que de forma obsessiva e compulsiva, sempre que encontrar uma torneira, água e sabão, lave calmamente suas mãos, seque-as bem. Pois na ponta dos dedos, muitas vezes, ao encostarmos em alguma superfície totalmente contaminada antes de você chegar ali, você pode se contaminar na ponta dos dedos e, ao levá-los aos olhos, à boca ou ao nariz, você introduziu o vírus no seu corpo", recomendou.
"Estes cuidados, que são os cuidados sanitários mais o cuidado com o transporte público, e as pessoas entendendo que o momento é de distanciamento, não é o momento de apertar as mãos. Com isso, a gente vai conseguir sobreviver, o que é o mais importante", concluiu.