Com AUKUS no Pacífico, China entenderá que 'seus truques não funcionarão mais', diz veterano indiano

A aliança trilateral AUKUS, recentemente formada pelos EUA, Austrália e Reino Unido, reacendeu o debate sobre a proliferação de armas nucleares, uma vez que a Austrália deverá adquirir submarinos atômicos norte-americanos no quadro do novo acordo.
Sputnik
A China, por seu lado, criticou a nova parceria trilateral ocidental, chamando-a de "extremamente irresponsável" e afirmando que poderia "comprometer seriamente a paz e a estabilidade regionais, bem como intensificar a corrida armamentista".
A Sputnik falou com o capitão DK Sharma, antigo porta-voz da Marinha da Índia, aposentado desde agosto de 2019, sobre o impacto da aliança AUKUS.

Impactos diretos da AUKUS na região

Quando questionado se a AUKUS poderia aumentar as tensões no Pacífico e em outras regiões, Sharma disse não crer que tal aconteça.
Em sua perspectiva, a "AUKUS tem um propósito: em primeiro lugar, aumentar a capacidade militar de uma nação, isto é, a Austrália. A Austrália disse que agora vai comprar armas que serão mais letais. Foi deixado claro que existe uma ameaça por parte da China".
Militar observa o horizonte na casa do piloto enquanto o destróier USS John S. McCain conduz operações de rotina em andamento em apoio à estabilidade e segurança para um Indo-Pacífico livre e aberto, no Estreito de Taiwan
Se a China está tentando mostrar seus músculos, pressionando países menores, menos desenvolvidos ou nações menos poderosas da região, a resposta a isso é a formação de alianças militares, e a AUKUS é agora uma delas.
A razão para a formação da AUKUS é muito clara. Os EUA e o Reino Unido vão conceder suas tecnologias, incluindo submarinos movidos a energia nuclear, à Austrália.

Submarinos e recente reação da França

Apesar de ainda não ser totalmente claro quais as armas a fornecer, é possível que os submarinos SSN sejam a resposta para os submarinos SSNs/SSBNs chineses que circulam pelo Indo-Pacífico. O gigante asiático tem 18 submarinos movidos a energia nuclear, 14 dos quais devem estar operacionais.
Apesar de os líderes dos três países da AUKUS terem afirmado que a criação da aliança não visa nenhum país em concreto, esta coalizão militar poderá ter a capacidade de dar uma resposta mais firme e assertiva a Pequim na região em causa.
Projeto do submarino Virginia SSN para a Marinha dos EUA
Relativamente à posição da França, que se sente atraiçoada, o capitão Sharma acredita que "não se deve dar demasiada atenção às reações emocionais, porque isso é a parte comercial das relações. A França tem interesses na região do Indo-Pacífico, Pacífico Ocidental e oceano Índico [...] Naturalmente, é um percalço para Paris, mas muito temporário. As relações entre países não devem ser medidas em termos dos negócios em curso".
A Índia tem desenvolvido um forte relacionamento com a França e a Austrália nos últimos dois anos, mas o capitão Sharma assegura que "nada vai acontecer", quando questionado se Nova Deli poderia ser apanhada em meio às tensões criadas entre os dois países ocidentais mencionados.

Vizinhos problemáticos

A Sputnik apontou o fato de que o Paquistão e o Bangladesh, países vizinhos da Índia, têm vindo a adquirir submarinos da China. Sabendo isso, e caso Pequim disponibilize tecnologia e submarinos militares aos vizinhos da Índia, como poderia isso afetar a Marinha indiana?
Sharma remata que "não se pode prever nada quanto à China". O gigante asiático utiliza o porto marítimo paquistanês e tem fornecido submarinos à Marinha do Bangladesh. A China também está fabricando barcos de propulsão aérea independente (AIP, na sigla em inglês) para o Paquistão. Por esses motivos, "a Marinha indiana está atenta a tudo o que está acontecendo nesses países".
Navio de guerra da China participa de exercício Aman no mar Arábico, ao largo de Karachi, Paquistão, 15 de fevereiro de 2021
Sobre o que fará a China após a oficialização da nova aliança trilateral AUKUS, Sharma acredita que Pequim “fará o que tem vindo a fazer”. Contudo, de momento, os países democráticos e suas marinhas "estão se reunindo para poderem controlar um tipo de nação que tenta exercer pressão através de vários meios duvidosos [...] sem mostrar qualquer tipo de consideração pelas regras e regulamentos em alto mar".
Desse jeito, o antigo porta-voz da Marinha indiana espera que, com o início de atividades da AUKUS, Pequim perceba que "seus truques não funcionarão mais".
Comentar