As negociações comerciais da Europa com a Austrália estão em risco de colapso após a França perder um contrato multibilionário de fornecimento de submarinos rescindido por Camberra.
"Manter a palavra é a condição de confiança entre as democracias e entre os aliados", disse Beaune em entrevista ao jornal Politico. "Por isso, é impensável avançar nas negociações comerciais como se nada tivesse acontecido com um país em que já não confiamos", acrescentou.
A edição observa que, em teoria, a Comissão Europeia tem poderes de negociação exclusivos em nome dos 27 Estados-membros da UE, mas na prática é improvável que o faça em "oposição aberta à França".
Bernd Lange, presidente da Comissão do Comércio Internacional do Parlamento Europeu, reconheceu que o acordo está em uma posição difícil e que as ações da Austrália também afetaram interesses alemães.
O secretário de Estado dos Assuntos Europeus da França, Clément Beaune, chega com membros do grupo "Renovar a Europa" no Palácio do Eliseu, em Paris, França, em 6 de setembro de 2021
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"A vontade de compromisso do lado europeu agora certamente diminuiu […] Além da orientação da política de segurança da Austrália, o acordo com os EUA também envia sinais na área de política industrial contra a UE. Cooperação em matéria de política industrial e transferência de tecnologia, que fazem parte da estratégia da UE para o Indo-Pacífico, se tornou mais complicada", comentou Lange.
Na sexta-feira (17), o ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Yves Le Drian, anunciou a retirada dos embaixadores franceses nos Estados Unidos e na Austrália, que retornam a Paris para consultas por causa do cancelamento do contrato de submarinos. Segundo observa a mídia, é a primeira vez na história que a França retira seus embaixadores nestes países.
A Austrália acaba de estabelecer uma parceria no domínio da defesa e segurança com o Reino Unido e os EUA, anunciando o cancelamento do contrato de fabricação de submarinos com a empresa francesa Naval Group. O acordo de 90 bilhões de dólares australianos (R$ 345,9 bilhões), denominado de "contrato do século", previa a produção de 12 submarinos da classe Barracuda.