A Sputnik contactou dois analistas que dão seu parecer sobre a presença do chefe do Comando Sul dos EUA na América Latina e como isso busca criar maior pressão sobre o governo de Nicolás Maduro.
"Ele [Craig Faller] não vai à Colômbia para preparar uma intervenção aerotransportada clássica, com mísseis, paraquedistas, etc., como os EUA têm feito em tantos lugares no decorrer da história; porém Faller vai reativar um plano de máxima pressão contra a Venezuela", advertiu o analista internacional José Antonio Egido em entrevista à Sputnik.
Em 20 de setembro, o Comando Sul informou que Faller se encontrava na Colômbia – um país considerado por Washington "um parceiro vital e confiável" no campo de segurança – para se reunir com suas autoridades militares.
Embarcação de desembarque aerodeslizadora do Comando do Teatro do Sul do Exército de Libertação Popular durante exercícios em 24 de março de 2021
© Foto / Forças Armadas da China
Na quarta-feira (22), a partir do Palácio de Miraflores, a vice-presidente da Venezuela, Delcy Rodríguez, denunciou a existência de "planos perversos" orquestrados na Colômbia, acusando a presença de Faller no país vizinho de ter o objetivo de "atentar contra a Venezuela e a paz da região".
As declarações de Rodríguez chegaram um dia após as Forças Armadas Nacionais Bolivarianas (FANB) terem revelado que um drone Hermes da Força Aérea da Colômbia tinha violado o espaço aéreo venezuelano, algo que coincidiu com a presença do almirante norte-americano na Colômbia.
Colômbia enquanto enclave militar na região
Para a pesquisadora e escritora colombiana-venezuelana María Fernanda Barreto, a nova visita de Faller à Colômbia é nada mais do que uma "revisão".
"Na realidade, a Colômbia é uma grande base militar, onde existem cerca de 63 instalações militares norte-americanas, algumas das quais incluem pessoal militar e outras apenas equipamentos e instalações de inteligência do tipo radar. A Colômbia é o principal enclave militar dos EUA na região e foi isso que o chefe do Comando Sul foi verificar", afirmou a pesquisadora à Sputnik.
Barreto acredita que as razões pelas quais o país vizinho se tornou um enclave militar para Washington na região têm a ver com um fator geoestratégico.
A localização privilegiada do país, como porta de entrada pelo norte na América do Sul, entrada na Amazônia e com costas marítimas nos oceanos Atlântico e Pacífico, é fundamental para qualquer ator que busque dominar o continente.
No entanto, nos últimos 20 anos outro fator tem tornado o controle deste território uma prioridade: os 2.219 quilômetros de fronteira com a Venezuela, a principal "ameaça incomum e extraordinária" dos EUA na região.
Em busca do domínio total da América?
Para José Antonio Egido, os EUA têm todo o interesse em manter o controle do governo colombiano.
"Os EUA precisam manter essa plataforma sob seu controle, e assim controlar a América Central e o México a partir do sul, o Caribe a partir do continente, e a América do Sul, a começar pela Venezuela, mas sem esquecer a Bolívia, o Peru e a Argentina", explica o analista.
Segundo Egido, tal cenário implica que o Comando Sul cerre fileiras e apoie a capacidade operacional e a inteligência do Exército colombiano.