O estudo, publicado ontem (7) na revista Science, mostra quanta água fluiu para a cratera, que hoje é uma depressão seca e desgastada pelo vento, e indica onde o rover poderia buscar sinais de vida no Planeta Vermelho.
A primeira análise científica das imagens também revela evidências que a cratera sofreu inundações repentinas.
Essas inundações eram energéticas o suficiente para levar grandes pedregulhos de dezenas de quilômetros a montante do rio e depositá-los no leito do lago, onde as rochas maciças permaneceram até hoje.
Fragmentos de pedregulhos no delta da cratera Jezero, em Marte
Os pesquisadores basearam suas descobertas em imagens das rochas dentro da cratera em seu lado ocidental. Os satélites mostraram antes que este afloramento – quando visto de cima – se assemelhava a deltas de rios na Terra.
Tiradas de dentro da cratera, as novas imagens confirmam que este afloramento era de fato um delta de rio.
As fotos capturaram também uma borda do grande afloramento do delta, bem como uma colina isolada denominada Kodiak, que a equipe pensa ser um remanescente da mesma formação. As imagens de Kodiak eram especialmente nítidas e a equipe viu nelas camadas distintas de sedimentos que só poderiam ter sido depositados por um fluxo de rio para dentro do lago.
Camadas de sedimentos na colina Kadiak dentro da cratera Jezero, em Marte
De acordo com a pesquisa, o lago era tranquilo por quase todo o tempo de sua existência, até que uma mudança drástica no clima desencadeou inundações episódicas próximo do fim da história do lago.
Suposto nível de água do lago dentro da cratera marciana Jezero durante a formação da colina sedimentar Kadiak
© Foto / NASA/JPL-Caltech/MSSS/LPG
Benjamin Weiss, professor de Ciências Planetárias no Departamento de Ciências da Terra, Atmosfera e Planetas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, nos EUA, e um dos membros da equipe do estudo, contou: "Se observarem estas imagens, estão basicamente olhando para esta paisagem épica do deserto. É o lugar mais abandonado que vocês poderiam visitar. Não há uma gota de água em qualquer lugar, e ainda assim aqui temos evidências de um passado muito diferente".
"Algo muito profundo aconteceu na história do planeta", concluiu.
Agora que os cientistas confirmaram que a cratera era outrora um ambiente lacustre, eles acreditam que seus sedimentos podem conter vestígios de vida aquática antiga.
O Perseverance vai buscar locais adequados para coletar e preservar sedimentos e essas amostras chegarão enfim à Terra, onde os pesquisadores podem as sondar para procurar vida marciana.