Apesar dos bons números apresentados com a imunização mundial contra COVID-19, ainda existem muitas pessoas que resistem à imunização, e que também se opõem ao "passaporte da vacina", medida que consiste na permissão da entrada em espaços públicos ou realização de viagens somente apresentando a comprovação da inoculação.
Nos EUA, na última terça-feira (12), o governador do estado do Texas, o republicano Gregg Abbott, anunciou a proibição da exigência da imunização contra o coronavírus para qualquer entidade do estado, incluindo empresas privadas, segundo a CBS News.
Já no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro, disse ontem (13) que não tomará vacina. Seu argumento é de que tem anticorpos contra a doença porque já teve o vírus, o que tornaria a vacinação desnecessária, de acordo com o G1.
Entretanto, especialistas recomendam que mesmo quem já teve o coronavírus se vacine. A razão é que a inoculação produz uma imunização mais duradoura do que a resultante de infecção natural pela doença.
A Sputnik Brasil entrevistou Sylvio Provenzano, médico, ex-presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (CREMERJ) e chefe do setor de Clínica Médica do Hospital dos Servidores do RJ para entender por que alguns grupos ainda resistem à vacina e como convencer a população de que esse é o melhor método para vencer o vírus.
Manifestantes antivacina protestam com placas escrito "Não ao passaporte da vacina", em Los Angeles, EUA, 9 de setembro de 2021
© Damian Dovarganes
Diante do cenário de resistência e dos argumentos sem base científica proferidos pelos grupos antivacinas, Provenzano diz que "no mundo das ideias é possível uma discussão infinita, mas os números são certeiros".
"A vacinação de boa parte da humanidade, agora, já bastante concluída, mostrou que a imunização é segura como qualquer outra medicação. Ela tem efeitos adversos em algumas pessoas […] mas são poucos casos entre 100 milhões de brasileiros que já foram inoculados. Evidentemente a vacina é importante."
Sobre a obrigatoriedade da vacinação, o especialista diz que no Brasil há o Código de Ética Médica, no qual está escrito que o médico "não pode obrigar nenhum paciente a aceitar um tratamento que ele queira lhe impor, tem que haver um consentimento informado".
"O mesmo deve ser aplicado em relação à vacina, que também é um medicamento. Obrigar alguém a se imunizar é algo que contraria um princípio democrático e o livre-arbítrio que o ser humano tem. Contudo, as pessoas precisam ser convencidas do bem comum, pois sabemos que quanto maior for o número de habitantes vacinados em um local, a chance desse lugar atingir proporções trágicas [por conta do vírus] é muito pequeno."
O médico conta que "desde março de 2020, no Brasil, mais de 600 mil pessoas já morreram em decorrência do vírus. É uma situação grave. Eu me vacinei e não tive nenhum evento adverso, mesmo sendo da terceira idade [...] hoje trabalho com menos medo, pois como profissional da Saúde, estou em contato com pacientes o tempo todo".
"Se dependesse de mim todo mundo se vacinava, mas eu respeito o direito que alguns têm de não se vacinar. Só lamento que fake news estejam sendo divulgadas nas redes sociais para tirar crédito de uma vacina que tem provado em todo mundo, através dos números, seu benefício."
Na visão de Provenzano, em relação aos grupos resistentes à vacina, "mesmo que seja um absurdo, ainda é um direito que essas pessoas têm. Ainda há pessoas que defendem o absurdo".
"O risco é grande para o indivíduo que não quis se vacinar, para o indivíduo que aceitou a vacina, é a salvação. [...] Nós defendemos o princípio democrático que o cidadão tem de escolher, inclusive se ele quer viver ou morrer. Mas para quem viu de perto as pessoas morrerem do vírus, tentando puxar o ar e não conseguindo, eu só posso lamentar que as pessoas nos EUA, no Brasil e mundo a fora, contrárias às vacinas, não tenham presenciado isso para ver a tragédia que é."
Além da forte chance de uma pessoa vir a óbito ao ser infectada, o médico diz que a vacinação está "evitando o caos na Saúde, como aquele que vimos na Itália ou no Brasil no ano passado".
Familiares levam cilindros de oxigênio para seus parentes internados em hospital, que na época, não tinha mais como manter os pacientes vivos sem os cilindros, Manaus, AM, 14 de janeiro de 2021
© Folhapress / Sandro Pereira
"A diferença de 2020 para 2021, em relação à pandemia, não foi tratamento precoce, suplementos, vitaminas, mas sim o conhecimento sobre a doença e as campanhas de imunização. O número de pessoas que demandam vaga nos hospitais é muito menor. A vacina veio modificar a história natural dessa doença. Que todos se vacinem, esse é o conselho de um médico com mais de 40 anos de experiência."
Sobre como convencer quem não quer se vacinar a mudar de ideia, Provenzano retoma ao que havia citado anteriormente sobre as pessoas terem o direito a não quererem se inocular, entretanto, ressalta que é através da informação, da divulgação do benefício, do esclarecimento médico, "que podemos, talvez, modificar o pensamento dessas pessoas".
"É muito mais seguro tomar a dose da vacina do que se infectar com o vírus para gerar imunidade natural. E não tem que fazer 'gastronomia' de vacina, seja ela de qualquer laboratório, tomar as duas primeiras doses é essencial, e se possível for, tomar a terceira de reforço. É isso que as autoridades do mundo inteiro estão recomendando."
Manifestantes marcham durante protesto contra vacinações e medidas contra o coronavírus em Ljubljana, Eslovênia, mostrando que pessoas em todo mundo ainda resistem à vacinação, 5 de outubro de 2021
© Petr David Josek
Obrigatoriedade de vacinação nos EUA
No começo de setembro, o presidente dos EUA, Joe Biden, lançou plano de vacinação obrigatória contra COVID-19 para funcionários federais, ao mesmo tempo que empresas com mais de 100 trabalhadores devem imunizar seus subordinados ou submetê-los a testes semanais para detectar o coronavírus.
Provenzano diz que não concorda com a obrigatoriedade, mas acredita que "o governo norte-americano deve fazer todo tipo de esforço possível através de campanhas de publicidade maciças, em todas as mídias, para mostrar a diferença entre pessoas que se vacinaram e pessoas que não se imunizaram no mundo inteiro".
O governador do Texas, Greg Abbott, fala na Convenção Anual da National Rifle Association (NRA) em Dallas, Texas, EUA (foto de arquivo)
© REUTERS / Lucas Jackson
Sobre a decisão do governador do Texas, Gregg Abbott, o médico conta que, de acordo com as leis norte-americanas, cada estado tem o direito de criar suas próprias leis, tanto que a medida de Abbott contraria a expedida pelo presidente. No entanto, chama atenção para o fato de que o número de infectados no país voltou a crescer.
"No momento, voltou a crescer enormemente os casos nos EUA, que é a nação com maior número de óbitos devido ao coronavírus. Contra números não há discussão. Por que não vacinar? Por que essa teimosia? Talvez o governador possa explicar. Ele está na defesa do direito democrático, mas é um direito que nesse momento atenta contra a própria possibilidade de preservação da vida."
"As pessoas ainda se prendem ao fato de que a vacina fez mal a algumas pessoas, mas é um número muito reduzido. Isso é bobagem, o que recomendo é: tomem a vacina. Evitem prematuramente perder sua vida, viver é a melhor coisa que tem."
José Conceição Alves, recebe dose da vacina contra COVID-19 de um profissional de saúde, na comunidade de Pupuri às margens do rio Purus, estado do Amazonas, 12 de fevereiro de 2021. Não importa a distância, vacinas salvam vidas.
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No mundo, 6,6 bilhões de pessoas já se vacinaram, sendo que desse total, apenas 2,2 bilhões estão vacinadas com a segunda dose, representando 35,9% da população mundial.
No Brasil, 249 milhões de primeiras doses foram aplicadas, enquanto 99,6 milhões de pessoas foram totalmente vacinadas com as duas doses, totalizando 46,9% da população vacinada, de acordo com o Our World Data.