Em entrevista nesta manhã (19), o relator da CPI da Covid, senador Renan Calheiros (MDB-AL), disse que vai acatar a opinião da maioria no relatório final que será divulgado amanhã (20), segundo o G1.
"O relatório não será de ninguém individualmente, e sim produto do que pensa a maioria, a minha disposição pessoal para isso é total", declarou Calheiros.
O documento, que contém 1.200 páginas, teve alguns trechos vazados no domingo (17). O vazamento causou certo mal-estar entre os membros da comissão, especialmente o grupo do G7.
Entretanto, o relator afirmou que de sua parte não há indisposição alguma e acredita que o vazamento é uma boa oportunidade para os senadores buscarem uma "convergência" sobre o texto.
"Para mim se vazou é melhor, vamos aproveitar isso para ter uma convergência [...]. Da minha parte, não há absolutamente nenhuma indisposição. Eu sou o relator desde o início, tenho falado as mesmas coisas. O processo legislativo caminha pela maioria. Ele tem facilidade de caminhar pela maioria e muita dificuldade quando não materializa a maioria."
Calheiros complementou a fala dizendo que "no G7 temos formações políticas e diretrizes partidárias diferentes, por isso, precisamos conversar".
Senador Omar Aziz, presidente da CPI (no meio), Renan Calheiros, relator da CPI (à direita) e vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues conversam na CPI da Covid no Senado, Brasília, 18 de outubro de 2021
© Foto / Agência Senado / Edilson Rodrigues
O vazamento do relatório levantou também divergências sobre o conteúdo do texto. Alguns senadores não concordam com alguns pontos colocados pelo relator, por exemplo, se deve haver o pedido de indiciamento do presidente, Jair Bolsonaro, pelo crime de genocídio.
"A trajetória do presidente não deixa dúvida que acontece no caminho do genocídio. Lembro que quando era parlamentar, comentou: 'Os brasileiros foram incompetentes com a matança dos indígena' […]. Há crime de genocídio sim em relação aos indígenas, mas o que vai preponderar é o que a maioria da CPI decidir", afirmou o senador.
Ainda sobre o chefe do Executivo, o realator, que pretende acusar Bolsonaro de 11 crimes, disse que a CPI não pode punir ou julgar nada, mas sim que ela apresenta os fatos e encaminha para que outros órgãos possam julgá-los.
"Não vamos julgar nada, é como se fosse um inquérito policial, que dê continuidade à investigação [após ser apresentada]. Por que não se pode o investigar o presdiente da República? E os parlamentares Flávio e Eduardo Bolsonaro por crime de fake news? O que um postou os outros postaram também", disse Calheiros.
Senador Flávio Bolsonaro durante sessão da CPI da Covid no Senado, 14 de julho de 2021
© Foto / Agência Senado / Edilson Rodrigues
Diante dos diversos crimes citados no relatório, caso os mesmos não fiquem bem-caracterizados, o relator é questionado se tal fato poderia desgastar ou até mesmo enfraquecer a CPI. O senador responde que não, uma vez que não houve dúvida de "conduta criminal".
"Não há motivo para esse enfraquecimento, pois não existem dúvidas de que houve conduta criminal [...], se a PGR [Procuradoria-Geral da República] quiser criar dificuldades, nós temos uma alternativa que […] é o Ministério Público e o TCU [Tribunal de Contas da União], ou ação subsidiária no STF [Supremo Tribunal Federal]. O artigo 5º garante que nós façamos isso", explicou.
A CPI da Covid está em sua fase final no Senado. A previsão era que o relatório final fosse lido hoje (19), mas com o vazamento, foi adiado para amanhã (20).
Em seguida, a comissão será substituída pela Frente Parlamentar Observatório da Pandemia de Covid-19, projeto que continuará a acompanhar e fiscalizar as investigações em curso, conforme noticiado.