Para atingir a neutralidade de carbono não é preciso abandonar nem o petróleo e gás, nem o carvão, revelou Igor Sechin, discursando no 14º Fórum Econômico Euroasiático em Verona.
A transição energética deve ser baseada em padrões econômicos reais, e não nas demandas dos ativistas ambientais, sublinhou Sechin.
"A transição energética deve ser baseada não nas demandas dos ativistas climáticos, mas em padrões econômicos reais, garantir o retorno dos investimentos e um crescimento de preços a longo prazo, ao mesmo tempo atendendo à demanda de recursos energéticos e reduzindo as emissões", disse.
O mundo enfrentará as alterações climáticas mesmo depois de atingir as metas de neutralidade de carbono até 2050, revelou o empresário, destacando que é preciso olhar para além desta data e nos prepararmos para maiores mudanças relacionadas à transição energética.
"A comunidade mundial deve elaborar uma abordagem unificada para o problema climático global e estimular o desenvolvimento e o intercâmbio de tecnologias de redução de emissões, e não procurar culpados", conforme Sechin.
Torre de resfriamento da usina elétrica a carvão Turow é vista perto da mina de carvão a céu aberto de Turow, operada pela empresa PGE em Bogatynia, Polônia, 15 de junho de 2021
© REUTERS / David W. Cerny
Crise energética atual
O presidente da Rosneft informou que a época de preços relativamente baixos da energia, que durou quase 100 anos e se tornou um impulso para o desenvolvimento da economia global, pode acabar.
Segundo Sechin, a crise energética no mundo começou a se espalhar para outros setores além do gás. Por exemplo, a escassez de magnésio ameaça a indústria automotiva e várias outras indústrias. 90% da produção do mineral é controlada pela China.
Há também escassez global de microchips, que fazem parte de quase qualquer tecnologia. Um quarto do mercado de semicondutores é controlado por Taiwan.
"Todos esses fatores obrigam a pensar de novo sobre as limitações do modelo de capitalismo existente […] todos eles impedem que se encontrem soluções para os desafios atuais", disse Sechin.
"Para evitar que a crise alastre a toda a economia global, é importante garantir a coordenação entre reguladores e fornecedores, e também os consumidores, cuja demanda determina o crescimento da economia", acrescentou.
Sechin afirmou que os altíssimos preços do gás levarão a um aumento ainda mais forte dos preços do petróleo. Além disso, a agenda climática pressiona o mercado global de petróleo e gás, levando à redução de investimentos na produção de hidrocarbonetos.
Os países da OPEP+ são frequentemente acusados de manipular o mercado, no entanto, muitos deles não podem aumentar a produção devido a sanções, à falta de dinheiro ou à pressão da "agenda climática", segundo o empresário.
Importações de gás dos EUA para Europa
Sechin revelou que as prioridades políticas e econômicas dos Estados Unidos divergem, dado que eles prometem aumentar o fornecimento de gás à Europa, mas na realidade aumentam o fornecimento para outros países.
"As 'moléculas da liberdade', amplamente promovidas pela administração anterior dos EUA, que o gás americano traria, chegam ao continente europeu em volumes insuficientes", declarou.
A falta de contratos de longo prazo levou ao insuficiente preenchimento dos reservatórios subterrâneos de gás europeus e afetou a atual crise do gás.
"As esperanças da Europa em fornecimentos à vista de gás natural liquefeito dos EUA também se frustraram. Além disso, os preços desses fornecimentos não foram protegidos de forma adequada. O volume dos fornecimentos de gás natural liquefeito sob contratos de longo prazo com o Catar não conseguiu atender à crescente demanda", disse Sechin.
Ele explicou que a demanda por veículos elétricos está crescendo no mundo, por isso, a necessidade de terras raras e metais não ferrosos aumenta.
Os Estados Unidos estão perdendo para a União Europeia e a região da Ásia-Pacífico em termos de disponibilidade de tecnologias e matérias-primas para veículos elétricos e podem voltar à pressão política para terem acesso a eles, de acordo com o empresário.