'Simplesmente deem-nos o dinheiro': Talibã exorta Ocidente a liberar fundos afegãos em meio à crise

Trabalhador do Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados empurra carrinho com provisões para centro de distribuição de ajuda alimentar em Cabul, Afeganistão, 28 de outubro de 2021
Segundo Shah Mehrabi, membro do conselho do Banco Central do Afeganistão, o país apenas possui dinheiro suficiente para se alimentar até o final de 2021.
Sputnik
O Afeganistão precisa dos bilhões de dólares que detém no exterior em meio à falta de dinheiro, fome em massa e uma crise migratória, disse um porta-voz do Ministério das Finanças talibã em declarações à agência britânica Reuters.
"O dinheiro pertence à nação afegã. Simplesmente deem-nos o nosso dinheiro", pediu Ahmad Wali Haqmal, representante do ministério, citado na sexta-feira (29), instando a maior apoio financeiro, devido ao apoio humanitário existente oferecer apenas um "pequeno alívio" ao país.
"Congelar este dinheiro não é ético e é contra todas as leis e valores internacionais", comentou, acrescentando que o governo do Talibã (organização terrorista proibida na Rússia e em vários outros países) respeitaria direitos humanos, incluindo a educação das mulheres, mas em salas de aula diferentes dos homens. Os direitos LGBT, por sua vez, não sendo compatíveis com a sharia, a lei islâmica, não seriam observados, afirmou ele.
Homem conduz bicicleta junto ao Banco do Afeganistão em Cabul, Afeganistão, 8 de outubro de 2021
Homem conduz bicicleta junto ao Banco do Afeganistão em Cabul, Afeganistão, 8 de outubro de 2021
Além de Haqmal, Shah Mehrabi exortou a Alemanha a liberar suas reservas do país para evitar um colapso econômico que levaria a migração em massa à Europa.
"A situação é de desespero e o montante de dinheiro está decrescendo. Há o suficiente neste momento [...] para manter o Afeganistão funcionando até o final do ano", referiu.
"A Europa será a mais afetada, se o Afeganistão não obtiver acesso a este dinheiro. Vocês terão um duplo infortúnio de não ser possível encontrar pão e não ter dinheiro para comprá-lo. As pessoas ficarão desesperadas, elas irão para a Europa", advertiu o funcionário do Banco Central do Afeganistão.
Mehrabi detalhou que o país precisa de US$ 150 milhões (R$ 846,56 milhões) mensalmente, dizendo que qualquer transferência ao Afeganistão poderia ser monitorada por um auditor.
O Afeganistão tem ativos guardados em bancos centrais da Europa e na Reserva Federal (Fed, banco central dos EUA). Esses incluem U$ 9 bilhões (R$ 50,81 bilhões), um total de US$ 525 milhões (R$ 2,96 bilhões) no banco central, Bundesbank, e no Commerzbank da Alemanha, além de cerca de US$ 660 milhões (R$ 3,72 bilhões) no Banco de Compensações Internacionais, sediado na Basileia, Suíça, relata a Reuters. Os EUA têm rejeitado a liberação da maior parte do dinheiro.
Depois que o governo afegão apoiado pela OTAN, que ocupou o país entre 2001 e 2021, caiu em agosto em meio aos avanços do Talibã, países do Ocidente, incluindo organizações como o Fundo Monetário Internacional (FMI), sediado em Nova York, EUA, têm congelado os fundos do Afeganistão, citando como razões para tal as violações de direitos humanos e o tratamento das mulheres por parte do novo governo, o qual não reconhecem.
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